sexta-feira, 25 de novembro de 2022

EU E O TEMPO

O passado não me pertence,
mas é tudo que tenho
na contramão do tempo,
nas nostalgias do corpo,
dos outros, e dos momentos.

Tudo é indeterminação e mudança.
Nenhuma identidade ou autoridade
me aprisiona o juízo.
Meu passado não é tradição.

Existo limitado e finito,
dentro dos cinco sentidos,
em movimento intuitivo,
quase sem tempo,
na invenção da minha época 
aquém do futuro e do presente.

Desde sempre sou apenas lembrança
se desfazendo em esquecimentos.





quinta-feira, 24 de novembro de 2022

ELOGIO AOS INSENSATOS

Entre a tragédia e a farsa
jamais busquei equilíbrio.
Ri um delírio contra todos os princípios
diante das solenes verdades dos letrados.

Desprezei tudo considerado elevado
e que contra a igualdade atenta
em nome do Estado.

Assim me fiz a margem dos outros,
além de mim mesmo,
na contramão da existência vigente.

Desafiei a falsa alegria dos tolos.
Soube a raiva dos ventos
e as errâncias das encruzilhadas
Afirmando a resistência dos condenados,
a insurgência dos desatinados.





terça-feira, 22 de novembro de 2022

OS SONHOS DA TERRA

Onde quase não respiramos,
resistir é preciso,
é necessário lutar,
e cantar o impossível.

Os sonhos nos inventaram
para derrubar o céu,
todos os privilégios e desigualdades,
matar os deuses, sacerdotes e políticos 
que nos conformam os corpos
a ilusão do espírito.

Os sonhos transcendem o tempo,
o espaço e a eternidade,
no mais profundo sentimento da Terra
tornando a carne é a alma da vida.




domingo, 20 de novembro de 2022

O INUMANO

Não me interessa a humanidade,
os grandes debates estéticos,
éticos, políticos e filosóficos,
que adoecem a imaginação
e atrofiam os pensamentos.

Sigo reduzido a corpo e imanência,
necessidade e cansaço,
como qualquer animal de sangue quente
que sente o mundo como um delírio.

É preciso estar além de todo juízo
Para saber o espírito do tempo.
Os que ousam a vida
recusam a razão
em atrevida desmedida
e vontade de chão.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

TEMPO E MEMÓRIA

Memória é a consciência ferida pelo tempo.
Há em nós um passado que não para de crescer,
que supera a vida e a morte,
sem se render a qualquer ilusão de eternidade.
Tal passado é o que somos como inumanos, terrestres.
É o que nos faz tudo no nada de uns  nos outros.
Há em nós uma memória que nunca será lembrança.

SOBRE SER LIVRE



Ser livre é escapar ao tempo
no absoluto dos espaços.
É permanecer no aqui e agora,
Tal qual um monumento vivo
ao tédio do simples instante.

Ser livre
é o não ser de fugir do passado, 
do futuro,
 e deste agora
que nos rouba a existência
até apagar a eternidade.


Ser livre é ser nada,
é sempre quase.
É não ter qualquer vaidade.

FILOSOFIA DO QUASE NÃO SER

Tenho buscado fazer da  singularidade do corpo uma impessoalidade onde tudo cabe e nada é possível. 
Tenho tentado equilibrar a vida e a morte até desfazer a ilusão da eternidade, mergulhar na superfície da finitude de tudo aquilo que nos define.
Todos os dias eu aprendo a morrer convencido de que nunca existi.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

VIDA QUE ESVAI

A vida já não pesa nos olhos
ou na ponta dos dedos.
Talvez não exista além da porta
ou do avesso do mundo
que me contempla através do espelho.

Tudo que sei
é que a morte não dói
enquanto durmo e me esqueço.

sábado, 22 de outubro de 2022

REALIDADE

A realidade é tudo aquilo
que me afeta, transforma,
e inquieta.

É corpo e imaginação,
sempre em movimento.

Opressão,
respiração,
silêncio e assujeitamento.

É o lado de dentro
e o fora da prisão.

A realidade é o nos que nega,
o que nos mata e consome,
na afirmação do nada.

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

SONO E LIBERDADE

Preciso dormir profundamente,
 esquecer,
Até que tudo amanheça em  mudança,
e me permita viver 
a ilusão de alguma esperança.

Quero dormir, 
fugir do mundo,provocar e provar algo novo,
qualquer coisa louca além de toda realidade.

Preciso desfazer os fatos, 
as pessoas e o Estado.
Aprender, urgentemente
e entre todos,
a arte da liberdade
na realidade dos sonhos
e na fabulação dos fatos.