A verdade é uma doença
que apodrece as palavras,
que anoitece a percepção,
e nos embriaga de certezas.
A verdade é um misto
de poder e delírio
contra a natureza, a morte,
e o ilegível do lado negro da lua.
A verdade é a doença
que nos torna absurdamente humanos,
indescentemente modernos,
contra o ocaso e a incerteza
de nossa própria existencia.
É preciso enterrar de vez
o cadaver de deus,
do homem e da verdade,
antes que seja tarde
para desistir do mundo
e se entregar aos quatro cantos
da imaginação dos corpos e dos contágios.
A revolução dos virus e dos quase mortos
que recusam a miséria de nossa cotidiana realidade ascética
de putrefada saúde e ilusão de alma,
está apenas começando.