domingo, 5 de junho de 2022

TODA VERDADE ESTA MORTA!

A verdade é uma doença 
que apodrece as palavras,
que anoitece a percepção, 
e nos embriaga de certezas.

A verdade é um misto
de poder e delírio 
contra a natureza, a morte,
e o ilegível do lado negro da lua.

A verdade é a doença 
que nos torna absurdamente  humanos,
indescentemente modernos,
contra o ocaso e a incerteza 
de nossa própria existencia.

É preciso enterrar de vez 
o cadaver de deus,
do homem e da verdade,
antes que seja tarde
para desistir do mundo
e se entregar aos quatro cantos
da imaginação  dos corpos e dos contágios.

A revolução dos virus e dos quase mortos 
que recusam a miséria  de nossa cotidiana realidade ascética
de putrefada saúde e  ilusão  de alma,
está apenas começando.

DESENCONTRO

Há um desencontro,
sempre renovado,
entre o corpo e o mundo,
entre o tempo e o espaço,
na coincidência da vida e da morte.

A consciência é uma ferida aberta
em nossa percepção,
uma agonia, uma ilusão.

Há apenas um desencontro
entre o corpo e o mundo
no mais profundo acontecer
da natureza e do inumano.

A natureza é aquilo que nos mata.



sábado, 28 de maio de 2022

DEFINIÇÃO DE LIBERDADE

Liberdade
é saber a vida
como obra de arte.

É afirmar-se como potência, como vontade cega,
onde todas as coisas coincidem 
despidas dos valores e verdades
que deformam o mundo.

Ser livre é viver o jogo de forças 
que nos faz natureza,
desejo e imanência, 
além dos artifícios humanos.

É saber a intuição  do inominável,
a existência como movimento
na imensidão das coisas pequenas.

quinta-feira, 26 de maio de 2022

A VIDA COMO DEVIR



O devir da vida 
é inumano,
imanente,
e insurgente,
na composição de forças, 
que define a terra no universo.

Nele
Tudo retorna no sem tempo
além da ilusão da existência
entre matéria e anti matéria.
Tudo é impreciso no sem sentido das coisas
no sublime espanto
do corpo e do caos.

O devir da vida é experiência de movimento
que não se conforma a razão
e escapa a toda definição
no mais intenso do sem tempo. 


 


quinta-feira, 19 de maio de 2022

CONTRA IDENTIDADE

É no incerto ponto de encruzilhadas e
fronteiras
que me invento no movimento do tempo,
que me faço constantemente outro,
que me desfaço de mim mesmo,
afogando no mundo.

Sei que no fundo existo vivo e morto,
que sou um permanente esforço, esboço,
de composição incerta de um corpo quase inumano na anti identidade do desejo.
Entre coisas, maquinas e delírios,
sigo decomposto e exposto.



quarta-feira, 18 de maio de 2022

SOBRE O CÉU E O CHÃO

Existe um céu
para cada  estrela que se esconde
no infinito da escuridão
através do silêncio do universo.
Pois o céu acontece apenas no ato de olhar.
O céu não existe.
Esqueçam tudo que dizem sobre o céu. 
É mais importante inventar o chão. 

quinta-feira, 12 de maio de 2022

ALÉM DO SONHO E DA REALIDADE

Espero que o mundo mude
antes que meus sonhos morram.
Antes que a vida se torne de vez mero artifício, 
utilitarismo vazio,
maquinação doentia,
além do limite do compreensível.

Espero que o mundo morra
quando eu acordar do meu sonho
para esgotar de vez
nossa maldita realidade cotidiana.

O sonho é tudo que nos acorda,
que nos transforma,
contra os estreitos limites do mundo contemporâneo. 

Mas já não  nos basta a realidade,
como também não nos conformam os sonhos. 

terça-feira, 10 de maio de 2022

MUDANÇAS

Mesmo em silêncio, 
cansados e impotentes,
é possível criar,
produzir mudanças, 
quebrar as inércia que nos aprisionam aos rebanhos
e bolhas de realidade.

Há sempre algo que foge,
que se recusa,
que desafia a realidade.

Há sempre algo inumano
no fundo de nós
que não busca soluções 
ou resposta,
algo que nos revela
o inteiramente outro
que nos mata um pouco,
todos os dias,
que nos tira
qualquer ilusão de identidade
e lembra que a arte
é mais importante que a vida.

Há sempre muita coisa acontecendo
enquanto nos destraímos
com a realidade.


.
 

domingo, 8 de maio de 2022

A PALAVRA COMO FERIDA

A exterioridade do que nos fere por dentro é a palavra.
Palavra que nos atravessa na coincidência do corpo e do mundo,
parindo significados.
A poesia é esta palavra que define o informe de uma ferida invisível rasgada na consciência. 

sábado, 7 de maio de 2022

CONDENADOS

Vivemos como crianças que pensam como deuses.
Mas não passamos de animais doentes.

Felizmente não há futuro para o homem no sem tempo da natureza.

Estamos todos condenados
ao além do humano,
a ruína da civilização,
e ao futuro do inumano.