quinta-feira, 26 de maio de 2022

A VIDA COMO DEVIR



O devir da vida 
é inumano,
imanente,
e insurgente,
na composição de forças, 
que define a terra no universo.

Nele
Tudo retorna no sem tempo
além da ilusão da existência
entre matéria e anti matéria.
Tudo é impreciso no sem sentido das coisas
no sublime espanto
do corpo e do caos.

O devir da vida é experiência de movimento
que não se conforma a razão
e escapa a toda definição
no mais intenso do sem tempo. 


 


quinta-feira, 19 de maio de 2022

CONTRA IDENTIDADE

É no incerto ponto de encruzilhadas e
fronteiras
que me invento no movimento do tempo,
que me faço constantemente outro,
que me desfaço de mim mesmo,
afogando no mundo.

Sei que no fundo existo vivo e morto,
que sou um permanente esforço, esboço,
de composição incerta de um corpo quase inumano na anti identidade do desejo.
Entre coisas, maquinas e delírios,
sigo decomposto e exposto.



quarta-feira, 18 de maio de 2022

SOBRE O CÉU E O CHÃO

Existe um céu
para cada  estrela que se esconde
no infinito da escuridão
através do silêncio do universo.
Pois o céu acontece apenas no ato de olhar.
O céu não existe.
Esqueçam tudo que dizem sobre o céu. 
É mais importante inventar o chão. 

quinta-feira, 12 de maio de 2022

ALÉM DO SONHO E DA REALIDADE

Espero que o mundo mude
antes que meus sonhos morram.
Antes que a vida se torne de vez mero artifício, 
utilitarismo vazio,
maquinação doentia,
além do limite do compreensível.

Espero que o mundo morra
quando eu acordar do meu sonho
para esgotar de vez
nossa maldita realidade cotidiana.

O sonho é tudo que nos acorda,
que nos transforma,
contra os estreitos limites do mundo contemporâneo. 

Mas já não  nos basta a realidade,
como também não nos conformam os sonhos. 

terça-feira, 10 de maio de 2022

MUDANÇAS

Mesmo em silêncio, 
cansados e impotentes,
é possível criar,
produzir mudanças, 
quebrar as inércia que nos aprisionam aos rebanhos
e bolhas de realidade.

Há sempre algo que foge,
que se recusa,
que desafia a realidade.

Há sempre algo inumano
no fundo de nós
que não busca soluções 
ou resposta,
algo que nos revela
o inteiramente outro
que nos mata um pouco,
todos os dias,
que nos tira
qualquer ilusão de identidade
e lembra que a arte
é mais importante que a vida.

Há sempre muita coisa acontecendo
enquanto nos destraímos
com a realidade.


.
 

domingo, 8 de maio de 2022

A PALAVRA COMO FERIDA

A exterioridade do que nos fere por dentro é a palavra.
Palavra que nos atravessa na coincidência do corpo e do mundo,
parindo significados.
A poesia é esta palavra que define o informe de uma ferida invisível rasgada na consciência. 

sábado, 7 de maio de 2022

CONDENADOS

Vivemos como crianças que pensam como deuses.
Mas não passamos de animais doentes.

Felizmente não há futuro para o homem no sem tempo da natureza.

Estamos todos condenados
ao além do humano,
a ruína da civilização,
e ao futuro do inumano. 


LIVROS

Ninguém aprende nos livros
o sentido da vida.
A vida não  tem sentido.
O que os livros ensinam
é que viver não basta,
a realidade mata,
e a imaginação nos inventa e transforma.

quarta-feira, 4 de maio de 2022

AS METAMORFOSES DO PASSADO

Todos os dias
acordo para o passado.
Um passado que nunca é o mesmo,
que me faz outro,
na triste presença de muitas ausências.
 
O passado é como um sonho
que me reinventa o diurno
através de um sentimento estranho de mundo
onde, absolutamente nada
é para sempre,
e a existência não passa
da ilusão de um sonho.

Um dia acordamos para o nada
e o passado desaparece com a gente.

segunda-feira, 2 de maio de 2022

O TERRITÓRIO DO SILÊNCIO

Há entre o eu e o mundo
uma autônoma zona de silêncio,
um campo neutro,
onde me desinvento
a margem de todos os sentidos
no absoluto do tempo.
Tudo parece em fuga
dentro do campo deste silêncio
que contem tudo aquilo que não pode ser dito.