sábado, 24 de julho de 2021

O CORPO E O DIZER

Não existem erros no plano da escrita livre que recusa toda ordem discursiva, que sabe o abismo da retórica  contra a norma do dizer verdadeiro e racional. Existem palavras e conceitos que ainda não  foram inventados, imagens de pensamento  que não foram ainda exploradas na trasvalorização  de todos os valores.
Toda mudança  das formas de vida possiveis começa na intensidade de novas texturas de sensações alcançadas através de um dizer que nos acontece como abstrata materiaridade corporal.

SER & NÃO SER

Ser si mesmo é  qualquer forma de não ser no acontecer do eu, mas saber o eu como um modo impessoal de ser outro entre os outros, saber-se devir não humano como expressão  do mundo.  In-sistir em ex-sistir é uma forma de presença em indeterminação e devir contra todo sedentarismo narcisista do social.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

VIDA MOVIMENTO

A vida não  é  um projeto,
não tem qualquer meta.
Ela é  devir,
quase acontecimento,
um movimento que supera a inércia, 
a fantasia do ser e da verdade,
no indeterminado e sempre renovado instante
do abandono de si
na breve coincidência do mundo e do eu.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

CORPO-COISA

Não quero ser o outro dos seus enunciados,
nem o herói dos meus discursos.
Não pretendo ser sequer mais um humano.
Pretendo me desaprender como ente
no saber do corpo-coisa
em natureza e ato
de desaparecer no correr do tempo do meu desapego.

domingo, 18 de julho de 2021

SOBRE LIVROS

Cada livro é um acontecimento.
Alguns me inventam contra o mundo,
outros me roubam o rosto,
mas poucos guardam enunciados
que se escrevem na minha pele
vestindo meus pensamentos.

CONTRA IDENTIDADE

Conformar-se a qualquer identidade diminui a criatividade subjetiva, estabelece o conformismo e a norma de um sujeito marginal de direito que busca novas formas de poder e não  o inédito  da liberdade como criação ou arte de inventar a si como experimentação.
É preciso pensar/fazer um novo asceticismo.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

NEO PRIMITIVISMO

Cansei de ser narciso,
de fazer da vida biografia,
aventura de um eu capenga,
efêmero, 
imagem e semelhança 
do ser de um homem sem fundamento.

Cansei de fazer sentido,
de habitar discursos,
conformismos e estruturas.

Daqui pra frente serei natureza.
Seguirei errante,
sem explicações e soluções,
em intensidades e imanência.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

CULTO A PROMETEU

 

Devir contra as certezas do homem

nas mutações do inumano assignificante

é o que nos resta contra todos os deuses,

contra toda moral e valor sedentário.



O intempestivo brilha como relâmpago

no peito da tempestade

iluminando a natureza selvagem.



Apaga-se o brilho da velha razão.

Acende-se o fogo primordial.


 

ULISSES PÓS MODERNO

 

Nunca em seus olhos as lágrimas secavam, e ia-se sua doce vitalidade, chorando pelo retorno…
(Canto V – A Odisseia)



A dor de perder-se

do lar e dos outros,

de seguir sozinho

na contramão dos anos,

sem jamais retornar

a casa antiga,

fez dele

um Odisseu pós moderno.



Itaca está morta

e a terra gira.

Não há mais origem

para o navegante nômade.

Sua vida agora

é um trabalho da morte.




quarta-feira, 7 de julho de 2021

VIDA

Toda vida é  pública,
participativa, impessoal,
e perecível
em sua singularidade.

Toda vida é  finita,
intangível,
desconhecida,
em sua abissal banalidade.

Vida é  um atributo da espécie
alheio a nossa pessoal mortalidade.
A vida não tem rosto,
é corpo,
que não se mede no espaço do tempo. 
 
Vida é matéria.