quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

O NADA COMO SEGREDO


Há um segredo no escrever
que o dizer esconde.
Trata-se de uma vontade de nada,
de desdizer absolutamente o mundo
em nome de outra realidade
onde nada é mais verdadeiro
do que as intensidades de um corpo
em profundo silêncio.
Há  em toda escrita uma intuição de inercia e  de morte....



terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

ANTES DO HUMANO

Antes dos deuses e dos homens,
Muito antes das ilusões da história,
Os primeiros primatas
Experimentavam o mundo como assombrosa maravilha.
Faziam do espanto uma experiência arcaica e de crua poesia.
Não  havia linguagem para difencia-los da natureza
E apodrecer a vida.

ECOLOGIA E PÓS HISTORIA

Pouco me importa o futuro da humanidade.
Quero saber do vir a ser do mundo,
Do ecossistema em suas metamorfoses e
Composições  complexas,
Da decomposição das civilizações 
E de uma natureza triunfante
No atemporal de uma pós  história
Inaugurada pelo morte do homem.




domingo, 2 de fevereiro de 2020

A VERTIGEM DO ATEMPORAL

Atingimos o ponto onde o passado
Nega o futuro,
Onde já  não  podemos continuar a ser como somos,
Mas não  sabemos ser diferentes.

Diante do abismo do tempo presente
estranhamos todas as épocas,
Pois já  não  pertencemos a tempo algum.
Nosso momento é o outro do virtual
de um quase futuro inviável.
despido do que será.




quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

PSICOMOTRICIDADE


A Psicomotricidade é um processo orgânico e cognitivo de construção de si e do mundo que nos permite lidar com o fato evidente de que o acontecer humano não se limita, de modo unilateral, ao reino mágico da consciência ou ao logocentrismo da palavra escrita. 

A psicomotricidade não deve ser, portanto, apenas uma referência para o desenvolvimento infantil, mas uma forma de apreender o que somos nós em sua totalidade.

O essencial da vida dispensa o artificio das palavras. Residi no corpo e em suas manifestações. Viver é  inquietude, um constante deslocamento. Existir é estar em movimento através de um corpo que responde ao mundo e, assim,  nos inventa como aquilo que somos condicionados, biológica, afetiva e cognitivamente a um dado ambiente. 
Criar ambiências, sempre provisórias, mais do que propriamente territórios, é o modo como existimos. 

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

DO EXISTIR AO VIVER


Existir  não é viver...
A vida tem sido
um ideal difícil,
quase impossível,
no deserto do
Existir comum.

Viver se confunde sempre
com o por vir,
com o intempestivo,
Com o que quase será.

Viver, definitivamente,
nos ultrapassa.


BIOSOFIA


Essa persona que me contém
tem pouco de mim.
É apenas a prisão de um rosto,
de uma biografia,
que me conforma aos outros.

Sou, fora dela,
indeterminada forma de vida
Composta por certos afetos,
Encontros e desencontros.

domingo, 26 de janeiro de 2020

AURORA


A banalidade mágica do dia que amanhece
Encanta a paisagem.
Tudo participa do espetáculo da manhã surgente. 

A aurora está em cada detalhe .
Posso senti-la no cheiro de café  fresco que perfuma a casa
Ou no meu corpo recém desperto 
Ainda pesado de preguiça
A enfrentar o banho. 

Estar novamente desperto e ativo
É me render a roupa que me espera
Para me acompanhar pelo resto do dia.
Ela me diz que o amanhecer é  livre,
Mas não há liberdade na rotina e nas horas. 

Mas isso pouco importa agora.
Nada parece definido, previsível,
No rito de despertar,
onde o futuro encontra o presente 
No brilho do sol
Através do infinito do céu e do mar.

Lá fora, hoje talvez,
Permaneça dentro de mim
um gosto de aurora.





segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A INCERTEZA DO EU


É  como memória que o eu existe.
Mas o que é  a memória
Além do efeito de uma ausência ?

O eu resiste a um presente
Que constantemente lhe escapa
Produzindo lembranças,
Acumulando existência,
descartando presenças.

O eu é apenas marca, vestígio,
Mutação constante
Contra o precário da identidade.
O eu não tem substância.

O tempo para ele não  existe.
enquanto persiste contra o perde-se do agora,
Contra o vazio do passado e do futuro,
Surpreendendo-se sempre um outro
Na afirmação de si mesmo.


domingo, 19 de janeiro de 2020

O ENIGMA DA ESCRITA



Escrevo para escapar a mim  mesmo,
Para desacontecer  o mundo
Na intimidade da natureza.

Minha escrita não diz a vida,
Ela inventa um segredo,
Um desafio.

Escrever é saber paradoxos,
Desaparecer na linguagem,
Apagando  bibliotecas 
No porvir do livro.

Escrevo a morte no registro da consciência,
Fugindo a toda tradição, 
Escapando a forma homem,
Na intuição de um futuro sem tempo
Correndo dentro do meu próprio corpo.

Escrever é perder -se,
saber -se outro.