segunda-feira, 28 de outubro de 2013

ILUSÕES DE MUNDO



Desencontrado do mundo
E degredado de mim mesmo
Faltei ao encontro
Com a vida,
Apaguei passados
E queimei futuros
Esquecido de tudo
No lugar nenhum
De meus tempos quebrados.

Prefiro estar apartado,
Provisório e impreciso.
Seguir contrariado e ao contrário
Até o limite das insatisfações,
Até o turvo da consciência
O absurdo das conseqüências
E o definitivo fim
De todas as ilusões.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

DESCONSTRUCIONISMO

Não quero mais saber
Da caduquice do mundo,
Dos limites de cada pessoa
Em meio ao caos
Dos atos e fatos
Que decoram de pesadelo
O absurdo do mundo.
Quero paz e silêncio
Na desconstrução de tudo.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A REBELDIA DE ESCREVER

Escrever é confrontar-se
Com o próprio destino,
Desconstruir o mundo
E emoções
No quase sentido vivido
De cada palavra.
Escrever é um ato de liberdade,
Uma busca,
Uma revolta...

CONFRONTO

Sentir é tão pouco
Viver tão vazio
Que pouco entendo
O labirinto dos outros.
Preciso viver além
Dos meus mais íntimos
Confortos,
Apostar no confronto,
Na luta diária
Contra todos....

terça-feira, 22 de outubro de 2013

INTROSPECÇÃO

Fora de mim
Há um mundo
Que não me importa
Tanto quanto o profundo
Do lugar nenhum
De mim mesmo.
Então,
Seguirei inteiramente
Errante,
Totalmente alheio
As pessoas e coisas,
No pouco importar
De tudo

no escuro
do meu lugar nenhum.

DESENCONTRO

Tenho vivido de ausências
E reticencias,
Estado impreciso e incerto
Entre desejos e fatos,
Apático entre as coisas,
Alheio aos meus próprios
Atos.
Tenho de muitas maneiras
Faltado ao encontro
De mim mesmo. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

AFORISMAS SOBRE A DESCONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE

O grande problema da subjetividade é sua própria ultrapassagem, a constatação pura e simples de sua virtualidade.
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O sujeito é uma conveniente ilusão cognitiva.
Portanto, todo pensamento dever tornar-se descontínuo,
Fragmentado e contraditório.
@
O mundo não é como o vemos ou concebemos, mas somos como vemos o mundo.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

CISCO



Há um cisco
Na palavra aberta
Nesta folha de papel.
Algo não faz sentido
E nisso reside
Todo significado do mundo.

O cisco é claro.
Apenas a palavra
É turva.

Palavra
Que se perde na voz
Das pessoas,
Alheia a si mesma,
Sem consciência das coisas.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

ANOITECER

Solitário diante
Do desaparecer da tarde
Espero a noite chegar
Para abrandar
A febre do querer
Que me consome o desejo,
Que me rouba imaginações
E futuros.

Preciso dormir
Tão profundamente
Quanto sonha um morto.
Aceitar minha dor
E meu rosto.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O NONSENSE DO ENIGMA COMO LINGUAGEM

O silêncio de uma mensagem codificada é o que define um enigma. Ele pressupõe um sentido oculto ou destinado a um entendimento restrito e seletivo. Trata-se aqui do ”dizer fechado”, de um significado invisível, que não se reduz a uma simples charada.

Ouso aqui afirmar que o  enigma pode ser, em outras palavras, uma modalidade de linguagem, de codificação de mundo, onde a pragmática do discurso é substituída pela sua desfuncionalidade quase alegórica. Assim, nos comunicamos substituindo aquilo que queremos verbalizar por enunciados  diversos cuja referência a nossos reais afirmações só pode ser alcançado de modo intuitivo ou associativo.

Evidentemente expresso aqui uma imagem bem heterodoxa e subjetiva do enigma. Mas o fato é que não raramente somos vitimas deste tipo de jogo de linguagem, ou “dizer psicologizado” onde o interlocutor  deliberadamente procura nos comunicar  alguma coisa de modo sutil e dissimulado fazendo referência a outra.

Eis um pequeno exemplo: Imagine alguém dizendo que se sente profundamente  sozinho justamente para aquela pessoa a qual se julga enamorado.

Se para o leitor tal estratégia pode ser reduzida pura e simplesmente a um simples artifício de dissimulação muito simpático a imaginação feminina, o fato é que há um algo mais aqui.   Muitos interditos  condicionam a cotidiana arte da conversação. Não somos livres para falar tudo o que pensamos e utilizamos  um outro de nossos enunciados para dizer aquilo que não  nos é confortável dizer claramente. É assim que penso o enigma como uma modalidade de linguagem fundada no não ser, se é que cabe aqui o termo, de nossas palavras.

Muitas vezes não dizemos o que queremos, mas apenas aquilo que sob certas circunstâncias nos foi possível dizer. Sempre que o fazemos utilizamos o enigma como linguagem, mesmo que nossos interlocutores, para o bem ou para o mal, não sejam capazes de compreender  o paradoxo do dizer não dito.