quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A REBELDIA DE ESCREVER

Escrever é confrontar-se
Com o próprio destino,
Desconstruir o mundo
E emoções
No quase sentido vivido
De cada palavra.
Escrever é um ato de liberdade,
Uma busca,
Uma revolta...

CONFRONTO

Sentir é tão pouco
Viver tão vazio
Que pouco entendo
O labirinto dos outros.
Preciso viver além
Dos meus mais íntimos
Confortos,
Apostar no confronto,
Na luta diária
Contra todos....

terça-feira, 22 de outubro de 2013

INTROSPECÇÃO

Fora de mim
Há um mundo
Que não me importa
Tanto quanto o profundo
Do lugar nenhum
De mim mesmo.
Então,
Seguirei inteiramente
Errante,
Totalmente alheio
As pessoas e coisas,
No pouco importar
De tudo

no escuro
do meu lugar nenhum.

DESENCONTRO

Tenho vivido de ausências
E reticencias,
Estado impreciso e incerto
Entre desejos e fatos,
Apático entre as coisas,
Alheio aos meus próprios
Atos.
Tenho de muitas maneiras
Faltado ao encontro
De mim mesmo. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

AFORISMAS SOBRE A DESCONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE

O grande problema da subjetividade é sua própria ultrapassagem, a constatação pura e simples de sua virtualidade.
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O sujeito é uma conveniente ilusão cognitiva.
Portanto, todo pensamento dever tornar-se descontínuo,
Fragmentado e contraditório.
@
O mundo não é como o vemos ou concebemos, mas somos como vemos o mundo.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

CISCO



Há um cisco
Na palavra aberta
Nesta folha de papel.
Algo não faz sentido
E nisso reside
Todo significado do mundo.

O cisco é claro.
Apenas a palavra
É turva.

Palavra
Que se perde na voz
Das pessoas,
Alheia a si mesma,
Sem consciência das coisas.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

ANOITECER

Solitário diante
Do desaparecer da tarde
Espero a noite chegar
Para abrandar
A febre do querer
Que me consome o desejo,
Que me rouba imaginações
E futuros.

Preciso dormir
Tão profundamente
Quanto sonha um morto.
Aceitar minha dor
E meu rosto.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O NONSENSE DO ENIGMA COMO LINGUAGEM

O silêncio de uma mensagem codificada é o que define um enigma. Ele pressupõe um sentido oculto ou destinado a um entendimento restrito e seletivo. Trata-se aqui do ”dizer fechado”, de um significado invisível, que não se reduz a uma simples charada.

Ouso aqui afirmar que o  enigma pode ser, em outras palavras, uma modalidade de linguagem, de codificação de mundo, onde a pragmática do discurso é substituída pela sua desfuncionalidade quase alegórica. Assim, nos comunicamos substituindo aquilo que queremos verbalizar por enunciados  diversos cuja referência a nossos reais afirmações só pode ser alcançado de modo intuitivo ou associativo.

Evidentemente expresso aqui uma imagem bem heterodoxa e subjetiva do enigma. Mas o fato é que não raramente somos vitimas deste tipo de jogo de linguagem, ou “dizer psicologizado” onde o interlocutor  deliberadamente procura nos comunicar  alguma coisa de modo sutil e dissimulado fazendo referência a outra.

Eis um pequeno exemplo: Imagine alguém dizendo que se sente profundamente  sozinho justamente para aquela pessoa a qual se julga enamorado.

Se para o leitor tal estratégia pode ser reduzida pura e simplesmente a um simples artifício de dissimulação muito simpático a imaginação feminina, o fato é que há um algo mais aqui.   Muitos interditos  condicionam a cotidiana arte da conversação. Não somos livres para falar tudo o que pensamos e utilizamos  um outro de nossos enunciados para dizer aquilo que não  nos é confortável dizer claramente. É assim que penso o enigma como uma modalidade de linguagem fundada no não ser, se é que cabe aqui o termo, de nossas palavras.

Muitas vezes não dizemos o que queremos, mas apenas aquilo que sob certas circunstâncias nos foi possível dizer. Sempre que o fazemos utilizamos o enigma como linguagem, mesmo que nossos interlocutores, para o bem ou para o mal, não sejam capazes de compreender  o paradoxo do dizer não dito. 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

NOTA SOBRE O INCOMENSURÁVEL DOS ATOS E PALAVRAS

Pouco temos controle sobre  as nossas vidas, sobre o nosso destino ou a intencionalidade de nossos atos. Tudo cedo ou tarde contraria nossas expectativas, segue o sem rumo das situações naufragas que colecionamos ao longo do tempo.
Tudo que fazemos ou dizemos comporta mais significados e interpretações do que a migalha de intenções escritas em nossos encaminhamentos conscientes.  

EVASÃO E SOLIDÃO

As coisas acontecem fora de mim e a minha revelia, me envolvem em sequencia de eventos e pessoas que aos poucos esboçam a trama da existência. Entretanto, em nada que acontece impera qualquer propósito ou sentido. Tudo ostenta um significado fraco que não sustenta se quer uma certeza magra.
Melhor seria estar longe... Apartado de tudo, livre de pessoas ou pensamentos, em contemplação efêmera do mundo.  Bom seria não estar por perto, não estar longe, ser apenas esquecimento em algum lugar indeterminado e impreciso em algum canto escuro do meu próprio eu.