sábado, 27 de outubro de 2012

AFORISMAS SOBRE LEMBRANÇAS





A lembrança é a sombra de um futuro sem qualquer  grandeza.
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O passado  não cabe em nossas  lembrança.
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Lembrar geralmente significa esquecer  também muitas coisas.
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A intimidade de uma lembrança  contradiz seu compartilhamento.
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Há ocasiões em que a lembrança remete a futuros que nunca vivemos.
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O esquecimento é a essência do passado. Nós o desfiguramos quando  o envocamos.
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A fotografia é uma lembrança sem alma.

O AVESSO DA ETERNIDADE




O sempre
Não transcende
O agora.
Pois a mudança
É a essência da existência.
Nenhuma verdade ou fato
Gozam de eternidade
E a vida não passa
Do provisório
De uma grande festa.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O FUNDAMENTO DAS ATITUDES




Quando precisamos
Demasiadamente Justificar
Um ato
É porque ele não guarda
Em si
Profundo sentido ou sentimento.
Os atos autênticos
Não carecem de explicações,
Não precisam ser
Previamente pensados,
Na simplicidade
Do acontecer espontâneo
No acaso
De um dia qualquer...

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

AFORISMAS SOBRE PENSAMENTOS E CRENÇAS

O real não comporta fatos, mas fantasias de significação e sentido.
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O pensamento nos pensa mais do que o pensamos.
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Ser e Verdade foram durante séculos  a mais  profunda ilusão da humanidade.
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Dever-se pensar o o pensamento até que toda filosofia desapareça...
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Nada mais pragmático do que cultivar ilusões para domesticar a existência.
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Crer unilateralmente em qualquer coisa é ignorar o sentido de muitas outras.  

sábado, 13 de outubro de 2012

O MUNDO ATRAVÉS DOS OLHOS



Não posso saber
O mundo
Através dos olhos
De outra pessoa.
Se quer o sei
Plenamente
Através
Dos meus próprios
Olhos.
Mas, talvez,
O mundo
Pouco exista
No hiato que habita
Entre o eu e o outro
De mim mesmo...

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O PASSAR DOS ANOS

Os anos passam


Por mim

Em todas as coisas

Que se perdem,

Que se deitam

E se deixam,

As margens do agora,

No mais clandestino

Acontecer da existência.

Os anos passam

E me apagam

Aos poucos...

AS EXIGÊNCIAS DO SILENCIO

Sofro o peso


De alguns silêncios

Rasgados

E espalhados

Sobre descartados pensamentos

De fim de tarde.

Vivo da essência de seus vazios,

De suas comedidas exigências

De horizontes e novidades

Que nunca consumam o futuro.



segunda-feira, 8 de outubro de 2012

SOBRE O DESLOCAMENTO DOS SIGNIFICADOS E INDIVIDUALIDADE HUMANA

A vida do individuo é apenas um apêndice da vida da própria espécie humana, mas na medida em que vivemos em uma sociedade em que o passado já não mais determina nosso presente de modo a condicionar nossa inserção na vida social, em que gozamos de um razoável leque de possibilidades de escolhas, a curta experiência de uma vida humana, torna-se lugar privilegiado do se fazer humano conferindo a imaginação e a criatividade um estatuto novo.

A contemporaneidade, marcada por uma inserção cada vez maior de “artifícios” no se fazer da experiência humana, como tão bem atestam cada vez mais as novas tecnologias digitais, estabelece condições novas a formatação da consciência enquanto interseção entre o codificar/inventar o real como linguagem e o simples e instintivo exercício de estar vivo no superficial de cada momento.

Em outras palavras, o individuo tende a tornar-se mais complexo, deslocado dos universos culturais em que cotidianamente se inscreve, na exata medida em que estes já não lhes proporcionam qualquer segurança ou garantias de funcionalidade coletiva, jogos teleológicos que sustentem qualquer Imagem mundo universal capaz de proporcionar significado e orientação simbólica.

O mundo em que vivemos torna-se assim cada vez menor, menos legível, na exata medida em que somos, enquanto indivíduos, desfiados a reaprender a existência em um contexto cultural em que o deslocamento dos sentidos e significados parece definir o jogo simbólico das praticas societárias e culturais.

SOBRE A INDETERMINAÇÃO COMO PRINCIPIO DA CONDIÇÃO HUMANA

Segundo Zygmunt Bauman em A Modernidade Líquida, vivemos tempos de volatilidade, instantaneidade, ambivalências e fragilidades onde o imediatismo passou a nortear a experiência do individuo em uma realidade societária em que os laços e relações intersubjetivas já não se adequam a funcionalidade de qualquer tipo ideal de persona social imposto por um conjunto de valores universais capaz de criar duradouros laços de identidade e solidariedade.

Vivemos, ao contrário, sob a precária logica de uma efemeridade absoluta.

Longe de mim atribuir a condição cultural aqui descrita qualquer valoração negativa. Creio, ao contrario, que ela é potencialmente fecunda. Afinal, em nenhuma outra época os indivíduos gozaram de tamanha autonomia e liberdade de escolha e criação. Nunca antes as codificações do real e indeterminações da consciência foram tão livres de qualquer crivo moral ou social.

O deslocamento ontológico das identidades, a desconstrução da subjetividade, apesar da emergência dos neo fundamentalismos, desenham um horizonte novo ao acontecer humano no mundo onde o inteiramente outro de nossas possibilidades já não encontra abrigo em qualquer projeto de sociedade ou na organicidade de qualquer paradigma cognitivo.

Aprendemos, ao contrário, apenas saborear a profundidade incerta do superficial, a indeterminação como essência de nossa condição humana.