quarta-feira, 16 de novembro de 2011

AFORISMAS SOBRE A EXTERIORIDADE DA EXISTÊNCIA

As vezes penso a vida como um sonho defeituoso onde somos inventados por nossos mais banais e profundos desejos...
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A necessidade é o que nos define na existência... necessidade de viver mais nas coisas do que no indeterminado de si mesmo...
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Aconteço o tempo todo no mundo, nunca em mim mesmo...
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O outro do mundo é positiva e negativamente o alimento de nossa individualidade...
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Dou mais valor a qualidade de uma pergunta do que a precisão de qualquer resposta...
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Geralmente, percebo que estou errado quando ninguém me critica...

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

POEMA OPACO

Entre os dias
E as noites
Cada um
se inventa um mundo.


Mas quase
Não nos percebemos
No mecânica fazer das coisas.

Nossa realidade não cabe
em nossas rotinas. 

domingo, 13 de novembro de 2011

SOBRE O PERDER-SE DOS DIAS

Sou feito
De sombras e sonhos,
De acasos e incertezas,
Que no absurdo do possível
De meramente acontecer
Em cada novo dia,
Afirmam-se contra um mundo aberto
Em infinitas possibilidades
De mim mesmo...
Sou feito de aventura
E vento.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

PASSA TEMPO

Passo distraído



De um momento


A outro


Buscando respostas


Para os silêncios


Que povoam


O profundo das horas,


Corro de um instante


A outro


Fugindo do tempo


Que me persegue...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CONTRA CULTURA HOJE

Em suas diversas manifestações contemporâneas, a contracultura permanece hoje como um sinônimo de questionamento radical das vigentes e corriqueiras convenções coletivas de realidade, através do lúdico, do hedonismo, do riso e da afirmação  de um ethos de liberdade...
Como nunca antes, em tempos de digitalização e reinvenção da existência, ela é capaz de abalar consciências, fazer pensar e reinventar individualmente a simplicidade do mero cotidiano...

VIDA , DEVIR E MEMÓRIA

O silêncio
É a vida da reminiscência,
O falar dos outros
E lugares que nos habitam
No sem tempo do pensamento,
que, simplesmente,
A tatuagem que
Carregamos no devir do rosto...
Ele é a marca viva
Do passar do tempo
Que se define
Como biografia
E ausências
Que nos transformam
Na banalidade
Do calar permanente das coisas...

AVESSO

Vejo-a



Correndo na contramão do dia


Em desastrada rotina,


Em busca


De uma simples migalha


De liberdade e vento...


Em seus olhos


Brilham futuros


Que talvez não alcance


Mergulhada


Em seu profundo sonho


De rasas imensidões...



segunda-feira, 31 de outubro de 2011

F SCOTT FITZGERALD E O CURIOSO CASO DE BENJAMIM BUTTON

Se pudéssemos definir os loucos anos 20 do último século através de um único nome, ele certamente seria o do escritor norte americano F S Fitzgerard. Sua obra e biografia ,afinal, personificam intensamente  o espírito libertário  e contestador daquele período.

Recentemente revisitei um de seus mais saborosos e surpreendente contos: O estranho caso de Benjamim Burtton.  Ao contrário do que possa sugerir a idéia de uma vida vivida ao contrário, não se trata aqui simplesmente de um conto fantástico sobre a idéia de envelhecimento. Recheado de um humor tout court, o conto é na verdade uma sátira  a própria idéia de “norma” e de “propósito”, questão que perpassa toda narrativa através  das desventuras de Burtton para afirmar-se em uma sociedade onde definitivamente ele não tem lugar pelo simples fato de ser “diferente”. Já no  inicio da narrativa a reação indignada do pai de Burtton com o estranho caso do filho revela claramente o caráter satírico do texto.

Mas o interessante é que a  história é ambientada em 1860, quando

“era do bom nascer em casa. Atualmente os autos deuses da medicina decretaram que os primeiros vagidos do recém nascido devem ser lançados no ambiente anestésico de um hospital, de preferência de um hospital elegante.  Assim o jovem casal Roger Button estava cinquenta anos à frente da moda quando resolveu, num dia de verão de 1860, que seu primeiro filho deveria nascer num hospital. Se tal anacronismo teve algo a ver com a surpreendente história que vou contar, é coisa que jamais se saberá.”

( F. Scott Fizgerald. O curioso caso de Benjamim Button e outras histórias  da era do jazz. Tradução e ensaio introdutório Brenno Silveira, 8ª edição, RJ : Jose Olympio, 2009, p. 108.)

Mas apesar do humor o pequeno e despretensioso conto em questão não deixa de ter um lado sombrio.  Digo isso pela sua melancólica conclusão.  Afinal, ao contrario do sugerido pela nossa natural tendência para pensar a juventude como um estado ideal e o envelhecimento como um mal inevitável, O caso Burtton nos mostra que não faria a mínima diferença se em lugar de envelhecer  ficássemos cada vez mais jovens.  Afinal, não deixaríamos de ser mortais, perecíveis...
Segue seus últimos parágrafos:

“Não havia lembranças perturbadoras em seu sono infantil; não havia sinal algum de seus bravos dias na universidade, os cintilantes anos em que ele aturdira o coração de tantas jovens. Havia apenas as grades brancas, seguras, de seu berço, e Nana e um homem que, às vezes, ia vê-lo, e uma grande bola  alaranjada para a qual Nana apontava, na hora  vespertina em que ia  para cama e dizia: “Sol.”Quando o sol se punha, seus olhos estavam adormecidos: não havia sonho algum que o persiguisse.
O passado- as violentas arremetidas, à frente de seus homens, monte San Juan acima; os primeiros anos de seu casamento, em que, nas noites de verão, trabalhava para a jovem Hildegarde, na  cidade fervilhante, até muito depois do pôr do sol; os dias em que ele, antes dessa época, ficava  a conversar e a fumar, noite adentro, em companhia do seu avô, na sombria e velha casa dos Button, em Monroe Street- tudo isso havia se dissipado de seu espírito como um sonho inconsistente, como se nunca houvesse acontecido.
Não se lembrava. Não se lembrava sequer, claramente, se o leite era quente ou frio em sua última refeição, ou de que modo os dias passavam. Havia apenas seu berço e a presença familiar de Nana. Depois, já não  conseguia recordar coisa alguma. Quando sentia fome chorava- nada mais. Apenas respirava através dos dias e das noites e, sobre ele, havia suaves murmúrios e ruídos que mal ouvia, e odores levemente diferentes, e luz e treva.
Depois tudo se tornou escuro, e o berço branco, e os vagos rostos que se moviam em torno, e o cálice e doce aroma do leite se dissiparam de todo de sua mente.”    
( idem, p. 137-8)

O SILÊNCIO DAS PALAVRAS

Palavras embaralhadas



No quintal de um sonho


Desconstroem significados,


Inventam o não dito


Dos atos,


Escrevem vontades


No corpo das horas


Até o abstrato limite


De um tumultuado silêncio...

domingo, 30 de outubro de 2011

O TEMPO E OS DIAS


Sei o peso
Do acumulo de instantes
Dos antes que me definem
Auxente
De algum remoto futuro.
Mas por hora
Me basta o sol e o agora...
Saber o sol que me acorda em dia
No me vestir de aurora
Em meio as ruinas
Dos meus inertes futuros
De outrora...