segunda-feira, 20 de julho de 2009

A PRIMEIRA| VIAGEM A LUA: 40 anos depois II


Quarenta anos depois, pode-se dizer que obras de ficção cientifica são hoje mais importantes do que o qualquer pouso humano na lua. Afinal, a corrida espacial, iniciada nos anos 60 do último século, foi inspirada pelas mesmas duvidosas razões que sustentavam a corrida armamentista do antigo mundo bi-polar dos tempos de guerra fria. Por mais surpreendente que possa parecer as gerações mais novas, as missões Apollo, que culminariam na chegada americana do homem a lua, não foi inspirada na busca pelo progresso técnico cientifico e não merece qualquer lugar relevante na história das ciências do séc.XX. Trata-se, na verdade, de um triste capítulo de sua história política.
Do ponto de vista do imaginário epocal, a eleição de uma viagem a lua como meta política só é explicável pela simbólica da aventura e da vitória sobre o impossível. Mas mesmo como mito contemporâneo, a médio prazo a façanha revelou-se vazia e desproposital. Não por acaso os contemporâneos sonhos de retomar e ampliar o feito através de uma viagem tripulada a marte agonizam em meio a crise econômica e cortes orçamentários da NASA.
No fundo, o que há de mais revelador em tudo isso é que, em nosso tempo presente, já não há mais lugar para otimistas projeções de futuro. Estamos tão mergulhados em nosso momento coletivo, cada vez mais elástico, que ao contrário de nossos pais e avós, não nutrimos a ilusão de projetar no futuro a solução otimista de nosso presente para melhor moldar o passado.

ÓCIO

Nada me falta
Neste instante
Enterrado sob
O alvoroço do mundo.

Basta-,me estar
Aqui e agora,
Não penar
Em qualquer outra coisa
Alem do vento
Animando os objetos
Em volta,
O cheiro da manhã vazia
E o vazio profundo
Dos meus desejos.

Nada me falta
Em rosto desfeito
E deitado sobre os fatos.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

TO BE


Existo dentro do vento
Nas múltiplas direções
De um céu aberto
Em riso.

Percorro o mundo
Em aventura de imanências
Respirando as cores e sabores
Da mais crua existência.
Nada faz mais sentido
Do que o aleatório acaso
De cada momento
Em múltiplo movimento
De desarticulados atos
Em tempo e espaço.

A PRIMEITA VIAGEM A LUA: 40 anos depois.


"É um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade.”
Neil Armstrong

A Missão Apolo 11, iniciada em 16 de julho de 1969, completou esta semana 40 anos em rememorações marcadas por certa melancolia...
Produto da guerra fria, mais do que da crença no progresso técnico-cientifico, o histórico feito da nave da NASA, composta pelo módulo de comando Columbia e pelo módulo lunar Eagle, tripulada pelos astronautas Mike Collins, Buzz Aldrin e Neil Armstrong, comandante da missão, com duração de oito dias, em um olhar retrospectivo, apesar de determinante para a introdução de um novo padrão tecnológico no cotidiano do homem ocidental, não desperta muito entusiasmo.
Afinal, quarenta anos depois, já não desfrutamos do ingênuo otimismo de época que, apesar de todos os seus absurdos, como a guerra do Vietnã, que na ocasião chegava ao fim, ou a própria corrida armamentista, que profundamente lhe configurou, conseguia sustentar uma atmosfera e imaginário de esperanças e sonhos de futuro, como demosntram, por exemplo, os movimentos de juventude que então sacudiam o mundo.
O fato é que, felizmente ou infelizmente, não nos é possível, em nosso tempo presente, sustentar apologias a qualquer filosofia do progresso sem boa dose de burrice ou ingenuidade. Vivemos, afinal, sob o signo sombrio do mito do aquecimento global e das incertezas de humanidade...
Se quer prestamos atenção na Lua como imagem estético/poetica ou somos seduzidos pela evasão existencial propiciada pelos sonhos de onerosas conquistas espaciais.
Sabemos que o universo, surpreendido em expansão e tão estranho ao fenômeno humano, se quer nos percebe em sua meta racionalidade de acasos.
Em poucos palavras, o pequeno passo do homem na lua em liberdade da não gravidade, converteu-se em um salto para o abismo em nossas atuais vivências e narrativas de um mundo, cada vez mais ilegível onde a contra-cultura se refaz através do niilismo mais criativo como uma simples modalidade de pós-modernismo...

JOHN LENNON, IMANÊNCIA E INDIVIDUALIDADE HUMANA


John Lennon não formulou nada mais através da musica do que a própria individualidade em função do enfrentamento do tempo presente pela afirmação de si mesmo. Creio que é justamente isto que torna sua memória fascinantemente contemporânea... Ele não tinha nada mais precioso ou substancial para legar ao tempo futuro do que a simplicidade e complexidade de existir. Isso o torna um símbolo da cultura do século XX, dos seus impasses e dilemas entre a afirmação da singularidade e liberdade de cada um e a afirmação do poder das meta narrativas, “ideologias” , totalitarismos e violências coletivas.
Reunir fragmentos de entrevistas de John Lennon aqui, torna-se por isso um inspirador exercício de afirmação de singularidade humana, a busca do eco em caleidoscópio de momentos, de alguém que conseguiu transformar arte em afirmação de si mesmo... e apostar que cada um pode viver seu próprio sonho... em imanência.

“ Uma parte de mim suspeita que sou um perdedor e outra parte de mim pensa que sou Deus todo poderoso.”
*
“Pense globalmente e atue localmente”.
*
“As pessoas têm de perceber... que ficar nu não é obsceno. O importante é sermos nós mesmos. Se todas as pessoas fossem o que são, ao invés de fingirem que são o que não são, existiria paz.”
*
“A mulher é o negro do mundo/ A mulher é a escrava dos escravos/Se ela tenta ser livre, tu dizes que ela não te ama/ Se ela pensa, tu dizes que ela quer ser homem.”
*
“Um artista nunca pode ser absolutamente ele mesmo em público, pelo simples fato de estar em público. Pelo menos, ele sempre precisa ter alguma forma de defesa.”


Fonte: O Pensamento Vivo de John Lennon. Martin Claret Editores.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

DIALOGO


Procuro no espelho
Do inteiramente outro
Do meu mundo
A misteriosa face
Do enigma humano,
Ser em dialogo e liberdade.

Não suporto,
No fundo,
Meu próprio peso
E os limites de estar
Em mim mesmo
Em pensamento e forma
De desatualizadas versões
De eternos monologos.

Viver, afinal,
É a arte do encontro...

CRÔNICA RELÂMPAGO LVIII


Há ocasiões em que, entregue a mim mesmo no se fazer de rotinas, vislumbro mudanças,rupturas ou redefinições intimas nos dias; a busca por uma mais autêntica ou intensa experiência de minha mínima existência.
Visitam-me, então, os fantasmas dos meus eus perdidos pelos labirintos e ventos do caprichoso destino... Os amores que não vivi, as viagens que não fiz, as abandonadas apostas e todas as portas fechadas pelo acaso do acontecer dos anos.
Percebo que muito daquilo que sou deixou de acontecer

segunda-feira, 13 de julho de 2009

TIME IN LIFE....

O tempo acumulado em meus atos não define todos os momentos e anos sonhados de potenciais futuros. Pois tantas são as memórias que elucidam meus percorridos caminhos e destinos, meus passados empilhados no não lugar dos significados vividos ,que sou incapaz de vestir qualquer definição de mim mesmo para dizer minha vida e pessoal apreensão de temporalidade.

" OS ALFINETES DE SLATER NÃO TEM PONTAS" by Virginia Woolf


O pó de um pensamento
Espalhou-se no vento
E levou por toda paisagem
Meu sonho.

Encantou a vida
Em movimento
Escurecendo as certezas
De frias rotinas de ausências
Onde contrariado
Me confronto comigo mesmo
E com os fatos
Em divagações noturnas
Em segredo de lua ...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

BIOGRAFIA E REPRESENTAÇÃO DE MUNDO


Durante muitos anos cultivei o gosto pela leitura de ensaios biográficos. A narração da vida em uma narrativa linear e plena de sentido, representava para mim um confortante exercício de pensamento que sugeria a possibilidade de organização racional do caótico devir da existência humana.
Atualmente, entretanto, a narrativa biográfica, com suas periodizações, compassos etários e reflexões existencialistas, parece-me um empreendimento azas duvidoso.
Falando especificamente sobre seus usuais marcos de existência, ou seja, sobre aqueles decisivos acontecimentos que nos lançam a novos rumos e parecem realizar destinos, já não consigo levá-los muito a sério no transcurso de momentos da construção da individualidade e de uma história vivida.
Afinal, transformações e mudanças são processos permanentes e constantes. A idéia de ruptura não passa de uma ilusão cognitiva de pequeno poder explicativo, mesmo quando nos referimos a acontecimentos determinantes, como uma mudança de endereço/cidade/país, de emprego ou simplesmente um divórcio.
Em que pese seu impacto direto sobre o cotidiano, tal categoria de fatos não se diferencia significativamente de qualquer outra modalidade de ocorrências no interior do fluxo de experiências e mudanças ontológicas que compreendem todo o ocorrer temporal do existir humano.
A idéia de um salto qualitativo aplica-se aqui apenas como uma opção arbitrária, já que os fatos não se encadeiam entre si de modo linear e evolutivo. Nós é que os entendemos ou percebemos de tal maneira.
Acredito que, de modo geral, as representações contemporâneas da experiência biográfica nos conduzem hoje a uma espécie de desorganização das convencionais leituras da existência como realização concreta de um inefável “destino” ou propósito.
O acontecer de nossas vidas já não é tão obvio elegível na medida em que libertou-se do peso das convenções e seus scripts de existência centrados na reprodução cultural da família como principio de vida ou na adequação a personas vinculadas a profissões, ideologias ou religiões...
Afetam o indivíduo contemporâneo à cada vez mais evidente dilatação do tempo presente, a opacidade do passado e de suas representações, bem como os deslocamentos de identidades, sejam étnicas, nacionais, etc. definidas pelo advento da modernidade.
É, aliais, a justaposição de identidades e significados diversos na auto consciência de um mesmo indivíduo no freqüentar de espaços e tempos plurais de existência o fator decisivo para o desgaste da fórmula biográfica.
Se uma biografia, no sentido clássico, é feita de significados e não propriamente fatos, que nos lançam a mitologia pessoal de um determinado indivíduo, hoje em dia já não temos biografias...