quarta-feira, 15 de julho de 2009

DIALOGO


Procuro no espelho
Do inteiramente outro
Do meu mundo
A misteriosa face
Do enigma humano,
Ser em dialogo e liberdade.

Não suporto,
No fundo,
Meu próprio peso
E os limites de estar
Em mim mesmo
Em pensamento e forma
De desatualizadas versões
De eternos monologos.

Viver, afinal,
É a arte do encontro...

CRÔNICA RELÂMPAGO LVIII


Há ocasiões em que, entregue a mim mesmo no se fazer de rotinas, vislumbro mudanças,rupturas ou redefinições intimas nos dias; a busca por uma mais autêntica ou intensa experiência de minha mínima existência.
Visitam-me, então, os fantasmas dos meus eus perdidos pelos labirintos e ventos do caprichoso destino... Os amores que não vivi, as viagens que não fiz, as abandonadas apostas e todas as portas fechadas pelo acaso do acontecer dos anos.
Percebo que muito daquilo que sou deixou de acontecer

segunda-feira, 13 de julho de 2009

TIME IN LIFE....

O tempo acumulado em meus atos não define todos os momentos e anos sonhados de potenciais futuros. Pois tantas são as memórias que elucidam meus percorridos caminhos e destinos, meus passados empilhados no não lugar dos significados vividos ,que sou incapaz de vestir qualquer definição de mim mesmo para dizer minha vida e pessoal apreensão de temporalidade.

" OS ALFINETES DE SLATER NÃO TEM PONTAS" by Virginia Woolf


O pó de um pensamento
Espalhou-se no vento
E levou por toda paisagem
Meu sonho.

Encantou a vida
Em movimento
Escurecendo as certezas
De frias rotinas de ausências
Onde contrariado
Me confronto comigo mesmo
E com os fatos
Em divagações noturnas
Em segredo de lua ...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

BIOGRAFIA E REPRESENTAÇÃO DE MUNDO


Durante muitos anos cultivei o gosto pela leitura de ensaios biográficos. A narração da vida em uma narrativa linear e plena de sentido, representava para mim um confortante exercício de pensamento que sugeria a possibilidade de organização racional do caótico devir da existência humana.
Atualmente, entretanto, a narrativa biográfica, com suas periodizações, compassos etários e reflexões existencialistas, parece-me um empreendimento azas duvidoso.
Falando especificamente sobre seus usuais marcos de existência, ou seja, sobre aqueles decisivos acontecimentos que nos lançam a novos rumos e parecem realizar destinos, já não consigo levá-los muito a sério no transcurso de momentos da construção da individualidade e de uma história vivida.
Afinal, transformações e mudanças são processos permanentes e constantes. A idéia de ruptura não passa de uma ilusão cognitiva de pequeno poder explicativo, mesmo quando nos referimos a acontecimentos determinantes, como uma mudança de endereço/cidade/país, de emprego ou simplesmente um divórcio.
Em que pese seu impacto direto sobre o cotidiano, tal categoria de fatos não se diferencia significativamente de qualquer outra modalidade de ocorrências no interior do fluxo de experiências e mudanças ontológicas que compreendem todo o ocorrer temporal do existir humano.
A idéia de um salto qualitativo aplica-se aqui apenas como uma opção arbitrária, já que os fatos não se encadeiam entre si de modo linear e evolutivo. Nós é que os entendemos ou percebemos de tal maneira.
Acredito que, de modo geral, as representações contemporâneas da experiência biográfica nos conduzem hoje a uma espécie de desorganização das convencionais leituras da existência como realização concreta de um inefável “destino” ou propósito.
O acontecer de nossas vidas já não é tão obvio elegível na medida em que libertou-se do peso das convenções e seus scripts de existência centrados na reprodução cultural da família como principio de vida ou na adequação a personas vinculadas a profissões, ideologias ou religiões...
Afetam o indivíduo contemporâneo à cada vez mais evidente dilatação do tempo presente, a opacidade do passado e de suas representações, bem como os deslocamentos de identidades, sejam étnicas, nacionais, etc. definidas pelo advento da modernidade.
É, aliais, a justaposição de identidades e significados diversos na auto consciência de um mesmo indivíduo no freqüentar de espaços e tempos plurais de existência o fator decisivo para o desgaste da fórmula biográfica.
Se uma biografia, no sentido clássico, é feita de significados e não propriamente fatos, que nos lançam a mitologia pessoal de um determinado indivíduo, hoje em dia já não temos biografias...

GOLD IN THE WOLD....


Procuro o ouro do mundo
Em cada momento
De melancólico suspiro
De tarde cinza no rosto
De um jardim.

Nada é mais profundo
Que o acontecer de flores
E folhagens
Indiferentes a paisagem
Que alem delas
Se faz movimento
E caótico acontecimento.

Tudo que procuro
É a paz perfeita
De um jardim inglês,
Absolutamente sereno,
Colhendo uma tarde
De chuva e pensamento
em teu rosto...

terça-feira, 7 de julho de 2009

ACROSS THE UNIVERSE


ACROSS THE UNIVERSE, musical lançado em 2007 e dirigido por Julie Taymor, é uma mágica aventura pelo universo sonoro inventado pelos Beatles e uma releitura interessante dos conturbados fins dos anos 60 do último século.
Seu roteiro é demasiadamente simples: Jude, um jovem estivador do porto de Liverpool, viaja aos USA em busca do pai que jamais conheceu e acaba se envolvendo com Lucy, uma jovem universitária de classe media. O pano de fundo dos altos e baixos do romance que acontece entre os dois é a cultura, ou contra cultura, juvenil da época, bem personificada pelos dilemas pessoais e coletivos, apostas, sonhos,decepções e dores, experimentados pelo casal e seus amigos.
Creio, entretanto, que apesar deste recorte cronológico e cultural aparentemente datado, a linguagem musical e psicodélica do filme nos é, de algum modo, profundamente contemporânea.
Afinal, cada momento/canção deste filme atípico a emoção e linguagem da musica tece uma narrativa anímica que nos envolve e surpreendentemente transforma musica em vida...
Em outras e poucas palavras, ACROSS THE UNIVERSE faz da música um modo de sentir e viver o mundo através de lirismos e reflexões sugeridas por uma história contada através da musical magia dos Beatles.
De algum modo, esta história participa de nosso tempo presente...

NOTA SOBRE A VELHICE


Tantas são as memórias e rostos que elucidam meus percorridos caminhos, que sou incapaz de vestir qualquer definição de mim mesmo para dizer minha vida. Afinal, sou a soma de muitos eus perdidos, de desmarcados encontros com o destino.
Grande parte de mim perdeu-se em passados não vividos.Sou a viva conseqüência destas perdas e desencontros que em somatório de vazios conduziu-me ao azul do presente em que me transformei na contra-mão do tempo.
Depois de certa idade, os ganhos e vitórias pouco importam e nos dizem pouco sobre o essencial da existência.
É próprio da condição humana desejar futuros para esquecer os passados que atormentam o presente tentando provar juventudes transfiguradas nas canções do vento...

LUDICO, IMANÊNCIA E REPRESENTAÇÕES DA INFÂNCIA


O lúdico é uma modalidade de linguagem... um acontecer de fantasias, que nos afasta do dia a dia e do mundo em um exercício de sem rosto e intensidade de vida.
Quando brincamos e inventamos coisas sem utilidade e propósito, somos de algum modo apenas nós mesmos; não pensamos em nada que não seja o momento vazio de um riso que diga em segredo o mais pleno domínio da realidade.
Este é o mais profundo e significativo acontecimento possível da vida humana na ignorância de certezas, verdades, propósitos e compromissos que nos transcendem como indivíduos que brincam com o tempo, nos transformando em vazios membros de sociedades...

REAL LIFE

Deixo de lado
O exercício
De preencher cada hora
Com memórias de futuros
Escolhidos.

Procuro o presente
Em profundidade
Buscando a vida
No aqui e agora
Dos fatos
Sem a ilusão de vontades
Escritas pelo sabor dos dias
Em meus mais íntimos pensamentos.

Tudo que me importa agora
É o possível da realidade
Em mínimo rosto e persona