segunda-feira, 29 de junho de 2009

ANOITECER

O mundo gira
E se transforma lá fora
Enquanto aqui dentro
Tento preservar os rastros
De emoções perdidas
Em palavras espalhadas
Sob o léu dos fatos.

Provisoriamente sobrevivo
A mim mesmo
Saboreando o sonambulismo das horas
Desencontradas do desaparecer do dia
A espera do sem nome de algum sonho
Escondido...

FREE TIME


Procuro plena e absolutamente
Viver o momento
Como se toda a vida
Existisse nele,

Como se o acontecer
Da soma de todas as coisas
Brilhasse neste instante
Ofuscando as cotidianas
Incertezas e insuficiências
De inacabamentos biográficos.

Respiro o tempo presente
Como se nada mais existisse
Alem da sensação
E quase certeza do aqui e agora
A me consumir em vontades,
Esperanças e apostas.

sábado, 27 de junho de 2009

Lennon Remembers


LEMBRANÇAS DE LENNON é a publicação, pela primeira vez na integra da longa entrevista concedida por John Lennon e Yoko Ono em dezembro de 1970 a Jeann S. Wernner para a Revista Rolling Stones. Trata-se da primeira entrevista de John após o conturbado fim dos Beatles. Não é de surpreender, portanto, a entonação por vezes colérica ou ressentida de algumas passagens.
De um modo geral, o texto nos revela um retrato nítido de John Lennon, seus contextos vividos e questões de inicio dos anos 70. A entrevista deve ser lida como a descrição de um momento bastante passional onde Lennon buscava se afirmar contra a sombra dos Beatles; ela não é mais do que isso, a cristalização de um instante biográfico do entrevistado.
Embora tenha sido concebida como estratégia de publicidade para o seu primeiro disco solo então recentemente lançado: JOHN LENNON/PLASTIC ONO BAND, com o passar dos anos esta entrevista converteu-se em um dos mais importantes documentos sobre a separação dos Beatles, mesmo que seja apenas a versão de John ainda sob o calor dos acontecimentos.
O fato é que os Beatles, enquanto personificação radical do mito vivo de toda uma época, é nesta entrevista pela primeira vez dissecado, dessacralizado, dando lugar a uma imagem mais humana e realista da Banda e dos dilemas e dificuldades vividos pelos seus membros ao longo da agitada carreira.
Ao mesmo tempo, quando visitamos este texto neste inicio de milênio, o mais pertinente é o natural questionamento sobre a contemporaneidade de Lennon e seu legado. Pode-se dizer que a luta contra o mito de si mesmo e a afirmação de sua singularidade humana foi a principal lição que ele nos legou através de sua música. Esta busca de uma vida simples e autentica voltada para a contemporaneidade de si mesmo, apesar de todo o caos de mundo que nos rodeia é na verdade um desafio de todos nós e não apenas um desafio de Lennon.
Ao longo da leitura desta entrevista ecoava em meus pensamentos a musica "God" que me parece traduzir o compromisso vital que devemos a nós mesmos ou as potencialidades de nossa individualidade acima das tantas duvidosas e coletivas verdades espalhadas por ai e circunstâncias de social existência...
Em poucas palavras, acho que Lennon contribuiu para manter aquele realismo autêntico e intenso que faz do rock and roll uma realidade viva em nossas vidas...

“ ... O rock’n’roll? Por que é primitivo e não tem embromação... as melhores coisas. E mexe com a pessoa. É a batida. Vá para floresta e eles tem o ritmo, no mundo inteiro. Você leva o som, todo mundo entra junto. Eu li que Malcolm X, Eldridge Cleaver ou sei lá quem disse que, com o rock, os negros permitiram que os brancos de classe média usufluíssem de seu corpo novamente, colocaram o corpo e a mente ali. É mais ou menos isso. Mexe com a pessoa. Comigo, mexeu. De todas as coisas que estavam acontecendo quando eu tinha quinze anos, foi a única que conseguiu mexer comigo. O rock era real. Tudo o mais parecia ilusório. O lance do rock, do bom rock’n’roll- o que quer que “bom” signifique etc., ah-ah, e toda essa merda- é que é real. E o realismo mexe com a gente, quer queira quer não. A pessoa reconhece a autenticidade ali, como em toda a arte de verdade. O que quer que seja a arte, caros leitores.É isso.Se é autêntico, geralmente é simples.E se é simples, verdadeiro. Mais ou menos isso.”


(John Lennon. Lembranças de Lennon. Entrevista de Jann S. Wenner/tradução de Marcio Glilo. SP: Conrad Editora do Brasil, 2001, p. 84-85 )

FILOSOFIA DE VIDA....

Eu amo a simplicidade de ser em cada grito vago de momento apenas o que sou na simplicidade das coisas sem a mediação de idéias e pensamentos, comer o nada dos fatos inventando e criando na economia dos atos o pouco que me define na imensidão do mundo. Quase nada tenho a dizer alem da minha ignorância de animal humano perdido no tempo e no finito em busca de inércias de prazer e desejo realizados. Nada me leva a nada alem disso...

ACROSS THE UNIVERSE

As letras perdem
Seu poder sobre as coisas.
Palavras escapam
Em repentina ausência
De espírito e significações.

Nada parece dizível,
Como se o mundo
Ficasse mudo
E fechado
No vazio da voz.

Misturo-me com o invisível
Da matéria em movimento
Perdendo-me no estado bruto
Da vida de todos os dias ,
no sumo do próprio universo...
No acontecer nervoso
De tudo que existe
Dentro de mim
Como equações de matemáticas
Jamais pensadas....
e musica de estatico momento...
ACROSS THE UNIVERSE...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

BAD RELIGION

Um outro observa-me
Em segredo
Por traz das ilusões
Da realidade.

Desfaz valores,
Morais
E mentiras
No cadáver de religiões
Em mãos de morte.

Posso saber o mundo
Ouvindo apenas
Meu próprio querer
Em estéticas de existência
E filosofias de imanências

Apenas viver
No raso de cada dia
É tudo que me importa
.

LITERATURA INGLESA XLV



“Tragado para dentro do som, tragado para dentro do mar, um mar balançante, bum, shhh, bum, shh, buuum... pam, pam, pam, pam, pam, pam, pam, para dentro e para fora, para dentro e para fora, sim, não, sim, não, sim, não. Preto e branco, vindo e indo, fora e dentro, para cima e para fora, para dentro e para fora, sim, não, sim, não, sim, não. Preto e branco, vindo e indo, fora e dentro, para cima e para baixo, não, sim, não, sim, não sim, um, dois, um, dois, um, dois, e o três sou eu, o três sou eu, O TRÊS SOU EU Eu no escuro. Eu no escuro vibrante, agachado, eu agarrado, segurando bem, buuuum, shhh, balançando, balançando, algum lugar por trás do portão, algum lugar diante da porta, e uma luz vermelha-escuro empastada e pressão e dor e depois para FORA numa luz branca e plana onde as formas se movem e as coisas faíscam e reluzem.”


DORIS Lessing. Roteiro para um passeio ao Inferno


A obra de Doris Lessing é demasiadamente extensa e plural em seu modernismo meta realista. Impossível definir seu vasto universo ficcional em poucas palavras. Assim, me parece mais fecundo falar de sua literatura através da eleição de uma obra especifica em lugar de diagnosticar suas diferentes fases e temáticas chaves. Mas não sem antes defini-la como uma da mais profundas vozes femininas do século XX.
Dentre os vários livros que já li desta autora, um que me chama particularmente atenção e visito constantemente é Roteiro para um passeio no inferno. O que há de tão especial nessa delicada e discretamente filosófica brochura literária pode ser intuído na classificação feita pela autora em sua folha de rosto:

Categoria: Ficção do espaço interior. Pois o melhor lugar para onde se ir é para dentro de nós mesmos.”
Trata-se neste romance das desventuras de um indivíduo anônimo encontrado certa madrugada andando a ermo e delirante pelo Embankment, próximo de Wartello Bridge ( Londres).
De inicio nada sabemos sobre sua identidade e acompanhamos curiosos seus longos dias de paciente no Hospital Central de Internamento; seu difícil trato com os médicos, as enfermeiras e outros enfermos, como por exemplo, o impasse com relação a sua submissão ao tratamento com eletro-choques, e, principalmente, seus densos devaneios de desmemoriado onde o mar e seus mistérios, surge como alegoria central do secreto correr da mais individual e pessoal profundeza da condição humana.
Pouco muda descobrirmos em determinado ponto da narrativa que nosso misterioso protagonista chama-se Charles Watkins professor de Línguas Clássicas na Universidade de Cambridge. 50 anos, casado, pai de dois filhos... apesar de sua relutância em lembrar-se de sua própria vida. É possível tomá-lo por um Ulysses contemporâneo cuja odisséia é a recusa à retornar ao lar em prol da aventura de desconcertantes auto descobertas pelos domínios de suas próprias profundezas.
A própria personagem nos sugere isso como, por exemplo, na seguinte passagem onde o contruír-se de uma biografia humana nos é apresentado como uma mera questão de cronometragem :

“- Mas suponhamos que eu me lembre das coisas de que quero lembrar-me? Eles tem certeza de que me lembrarei daquilo que querem que eu recorde. E é muito urgente que eu me lembre, isso eu sei. É tudo uma cronometragem , sabe. Também sei disso. São as estrelas em seus rumos, o tempo e o lugar. Eu estava pensando e pensando... Fiquei deitado , acordado, a noite passada e a outra antes dessa e a outra ainda... eu estava resolvendo alguma coisa. Porque tenho essa sensação de urgência? È conhecida. Não é coisa que eu só tenha desde que perdi a memória. Não. Já a tive antes. Agora acho que sei o que é. E não apenas isso. Há uma porção de coisas em nossa vida de todo o dia que são sombras. Como coincidências, ou sonhos, o tipo de coisas que não se coadunam com a vida comum, está me entendendo Violet?
(...)
- O meu sentido de urgência é muito simples- disse o professor.- Lembrei-me disso, pelo menos. O que preciso recordar tem a ver com o tempo se expirando. E isso é a ansiedade, em muita gente. Elas sabem que tem de fazer alguma coisa, deviam estar fazendo outra coisa, não apenas vivendo o dia a dia, pintando o rosto e decorando suas cavernas e pregando peças maldosas em seus competidores. Não. Sabem que tem de fazer alguma outra coisa antes de morrerem... e assim os hospícios estão cheios e os farmacêuticos prósperos.”

(Doris Lesing. Roteiro para um passeio ao Inferno/traduçãoLuzia Machado da Costa. SP: Record/Atalaya (Coleção Mestres da Literatura Contemporânea), s/d, p.215)

Mas nada disso é suficiente para apresentar esse interessante livro sem mencionar certa passagem do Apenso que acompanha a narrativa. Neste a autora nos fala de sua experiência com um script que certa vez elaborou para um filme que não saiu do papel. Afinal, seu argumento pode ser tomado como o mesmo deste livro:

(...) Blake pergunta:
Como sabes se cada pássaro que corta a
Estrada aérea
Não é um imenso mundo de prazer fechado por seus
Cinco sentidos?

Conhecer muito bem e por muito tempo uma pessoa que sente tudo de modo diferente das pessoas “normais” encerra a mesma pergunta.
O argumento desse filme era a que a percepção e sensibilidade extra do herói ou protagonista devia ser uma desvantagem numa sociedade organizada como a nossa, que favorece os conformados, os medíocres, os obedientes.”

( idem, p. 219)

FREE NIGHT


Estou em fase
De mundo
Em preto e branco
Sem cores e decorado
Por muitas esperas.

Estou em tempos de brumas,
De ermos e caminhos
Sem sentido
Em busca de vontades,
Potências e ventanias
De um ofuscante sol bi-partido
E arrependido de si mesmo...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

ON THE ROAD

A margem da rua,
Dentro do meu silêncio,
Percorro o mundo
Mudo e em segredo.

As pessoas são como coisas
Em movimento
Entre objetos e cores,
Carros e prédios.

Tudo existe
Como involuntária imaginação
Na bagunça dos meus pensamentos.

domingo, 21 de junho de 2009

POS MODERNIDADE E SENTIMENTO DE TEMPO

A partir da segunda metade do século XX o “espírito epocal” gradativamente reduziu-se ao misero recorte cronológico de uma década. Não se trata de uma simples aceleração de nossa sensibilidade para realizar ou perceber as mudanças e transformações continuamente em curso nas tantas conjunturas culturais e históricas. O que me parece decisivo é a emergência de um tipo novo de percepção do passar do tempo condicionada a sua fragmentação e a nossa libertação do passado como tradição, o que estabelecia o costume como premissa da organização social do cotidianamente vivido através de ritos e regras que deveriam perpetuar-se indefinidamente no fluxo de gerações . Essa liberdade relativamente recentemente adquirida com relação ao passado nos conduziu a um “presentismo contemporâneo” que parece rearticular nossas representações do passado e do futuro em um continum atemporal de uma pluralidade de estratégias de construção de imanências. Definitivamente não vivemos mais no mesmo mundo de nossos avós ou de nossos pais, nem mesmo no da nossa infância. Ele também, com certeza, não será o de nossa velhice. Tal fenômeno, que levaria ao desespero nossos antepassados, não nos perturba significativamente, pois nos habituamos a um eterno presente ontológico pós histórico onde a novidade é uma regra básica. O novo do sempre igual é o que define nossa contemporânea percepção do passar das coisas, a teleologia do imediato. É impreciso falar de um “fim da história” como se propôs a algumas décadas. Foi a própria idéia de “evolução”, da história como um processo direcionada por metas e objetivos civilizacionais, que felizmente se perdeu na poeira do tempo. Neste ponto, sem sombra de duvida, superamos as ofuscações iluministas.