terça-feira, 5 de maio de 2009

“NOTHING’S GONNA CHANGE MY WORD...”

Invento um instante dourado
De piruetas
Para rir das sutilezas
Que somam a realidade
Ao doce das fantasias.

The fool on the hill...
Across the universe...
“NOTHING’S GONNA CHANGE MY WORD...”
A linguagem me devora
No virtual exercício de ser....
Em irracional existência
Em decafônicas decomposições...

Mas a vida
Tende a si mesma
Em um silêncio de tempo
Que passa...

JOHN LENNON E 1969: 40 ANOS DEPOIS...


O longo Século XX foi, entre outras definições possíveis, a Era das Individuações. Dentre os indivíduos singulares gerados por ele, John Lennon ocupa um lugar realmente especial em meio ao labirinto de suas contradições, impasses, ingenuidades, senso de humor ou de liberdade e aposta em alguma possibilidade de desdobramento futuro de seu generoso tempo social e epocal marcado por esperanças radicais de desconstruções e reconstruções do mundo compartilhado a partir da singularidade e originalidade da experiência da individualidade...
Vale à pena resgatar aqui, por tudo isso, um momento especial de sua trajetória subjetiva ocorrido no já distante ano de 1969, lembrado por Lucia Linhares, em um pequeno e despretensioso ensaio biográfico que nos leva a refletir sobre seus dilemas enquanto figura pública, sobre suas recusas e irreverente afirmação de si mesmo conmo sendo apenas um individuo entre os outros e além das projeções que lhe eram coletivamente impostas:


“... No começo de outubro, o New Cinema Club, de Londres, apresentou alguns filmes de John, entre eles uma première: SELF PORTRAIT. Durante 15 minutos vemos o pênis de John e mais nada, a não ser uma ereção em câmera lenta. As interpretações foram muitas: mais uma mostra de seu senso de humor, mais uma agressão à critica, mais uma tentativa de filmar o absurdo... John disse, na época:
“ Eu me recuso a liderar, e vou sempre mostrar meus genitais, ou fazer qualquer coisa que me previna de ser Martin Luther King, ou Ghandhi, e ser morto.” ( One Day a Time)
Numa manhã de novembro John acordou e pediu ao motorista que fosse até a casa de Tia Mimi buscar a medalha da Ordem do Império Britânico que estava em cima do aparelho de televisão. John resolvera colocar em prática uma idéia que há um ano tinha na cabeça; a Inglaterra envolvia-se no Vietnã, no conflito Nigéria e Biafra, e John não estava gostando nada disso. Foram ao escritório e John redigiu uma carta:
“Sua Majestade,
Estou devolvendo a Ordem do Império Britânico em protesto contra o envolvimento da Inglaterra no caso de Biafra-Nigéria, contra o nosso apoio à presença dos EUA no Vietnã e contra a baixa colocação de Cold Turkey nas paradas de sucesso.
Com amor
John Lenon do Saco” ( “of the bag”, uma referência ao “ bagism”)
Poucas pessoas entenderam a piadinha com Cold Turkey. Esta brincadeira não impediu, entretanto que Bertrand Russel admirasse o ato de John e lhe mandasse congratulações.”


(Lucia Villares. Lennon: No céu de diamantes. SP: Brasiliense( coleção Encanto Radical), 1992, p.94-95)
,

sábado, 2 de maio de 2009

DOCE MELANCOLIA

A serena paisagem
De um dia de outono
Comunica-me mais coisas
Do que qualquer
Palavra humana.

Desejo apenas, então,
Ficar entre as coisas,
Em silêncio,
Vivenciando



As mágicas certezas
Do estar vivo,
Explorando o pensar
Dos pensamentos
Nas abstratas sensações
Do corpo em reflexões,
Em sentimento
De renovações e chuvas
Em fertilidade de sonos, sonhos
E sombras de amanhãs possiveis.

PARADOXO TEMPORAL

Sinto saudades
Do meu destino,
De tudo aquilo
Que não me tornei
Na vontade de ser
Um outro
Que jamais aconteceu.

O fato
É que não me vejo
Nas virtuais versões
De mundo
Que me inventaram...

MEMORY...


A memória é em grande parte um inventário de lugares, pessoas, coisas, sensações e emoções que nos inventaram. A memória é uma espécie de silêncio em movimento onde o passado surge como sonho...

terça-feira, 28 de abril de 2009

POEMA A VIRGINIA WOOLF


Inteiramente imóvel
Sob o estático do dia
Que desaparece
No passar das horas,
Quase me reconheço,
Quase percebo o tempo
Dentro de mim
Como biografia.

Mas tudo me escapa
Em um segundo de incertezas
No falso de realidades.

Na radical desconstrução de experiências
Em absolutos de linguagem
E concretismos do nada
Submerso,
Desapareço...
Como testemunho do Tempo
que vivo infimamente
como duvida...

INCERTEZA

Seguir em frente
A direita ou a esquerda;
Escolher,
Pura e simplesmente,
Sem o peso dos determinismos
Que o passado impõe,
É o desafio
Do meu ser futuro.

Sou mais o produto
De erros
Do que de acertos.

Sou sombra
De tudo aquilo que me corroe
Em incertezas de amanhãs possíveis
Em azul
sob inspirações de lua.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A CONTEMPORANEIDADE E O POSITIVO DO VAZIO

O tecido do que reconhecemos tradicionalmente por realidade vem se alterando significativamente através nas novas experiências e vivências proporcionadas pelas novas linguagens digitais. Inaugurou-se no domínio do humano uma nova perspectiva de vazio. Vazio confunde-se agora com a ausência de qualquer referencial seguro de totalidade e universalidade. Talvez, dentre muitas outras coisas, a contemporaneidade seja a constatação simples de que somos definidos por jogos entre a linguagem e o vazio... Mas é justamente isso que nos faz humanos e nos destina um lugar especial no reino animal...

sábado, 25 de abril de 2009

OLD HOUSE


O passado
É como uma ferida aberta
No doer de memórias
De muitos eus perdidos,
De lugares redefinidos,
Existências reconstruídas
No deslocamento de coexistências.

The house is silent...
I am alone;
I wonder where
Ends this darkness...
Only life hás a way out.

LITERATURA INGLESA XLIII



Rupert Brooke ( 1887- 1915), morreu com apenas 28 anos de idade em uma trágica batalha durante a I Grande Guerra. Não nos legou, portanto, uma obra passível de avaliação profunda das dimensões e possibilidades de seu talento. Não é, francamente, considerado um grande poeta pelo que produziu em seus breves anos de atividade. Basicamente, deixou-nos intimistas poemas de juventude onde insinua claramente sua opção homossexual, alguns bons versos como em The Old Vicarage, Grantchester e poemas de guerra que o tornaram imortal como testemunha e vitima da barbárie européia que destruiu e fez desaparecer muitos gênios europeus cuja potencial contribuição a cultura ocidental perdeu-se dramaticamente.
Além de Brooke, outros poetas britânicos morreram na guerra e merecem serem citados nesta pequena lembrança...

John McCrae (1872-1918)
Wilfred Owen (1893-1918)
Isaac Rosenberg (1890-1918)
Alan Seeger ( ?)
Edward Thomas (1878-1917)


The War Sonnets by Rupert Brooke


I. Peace


Now, God be thanked

Who has matched us with

His hour,

And caught our youth, and wakened us from sleeping,

With hand made sure, clear eye, and sharpened power,

To turn, as swimmers into cleanness leaping,

Glad from a world grown old and cold and weary,

Leave the sick hearts that honour could not move,

And half-men, and their dirty songs and dreary,

And all the little emptiness of love!
Oh! we, who have

known shame, we have found release there,

Where there's no ill, no grief, but sleep has mending,

Naught broken save this body, lost but breath;

Nothing to shake the

laughing heart's long peace there

But only agony, and that has ending;

And the worst friend and enemy is but

Death.


II. Safety


Dear! of all happy in the hour, most blest

He who has found our hid security,

Assured in the dark tides of the world at rest,

And heard our word,

"Who is so safe as we?"

We have found safety with all things undying,

The winds, and morning, tears of men and mirth,

The deep night, and birds singing, and clouds flying,

And sleep, and freedom, and the autumnal earth.

We have built a house that is not for

Time's throwing.

We have gained a peace unshaken by pain for ever.

War knows no power.

Safe shall be my going,

Secretly armed against all death's endeavour;

Safe though all safety's lost; safe where men fall;

And if these poor limbs die, safest of all.


III. The Dead


Blow out, you bugles, over the rich

Dead!There's none of these so lonely and poor of old,

But, dying, has made us rarer gifts than gold.

These laid the world away; poured out the red

Sweet wine of youth; gave up the years to be

Of work and joy, and that unhoped serene,

That men call age; and those who would have been,

Their sons, they gave, their immortality.
Blow, bugles, blow!

They brought us, for our dearth,

Holiness, lacked so long, and

Love, and Pain.

Honour has come back, as a king, to earth,

And paid his subjects with a royal wage;

And nobleness walks in our ways again;

And we have come into our heritage.


IV. The Dead


These hearts were woven of human joys and cares,

Washed marvellously with sorrow, swift to mirth.

The years had given them kindness.

Dawn was theirs,

And sunset, and the colours of the earth.

These had seen movement, and heard music; known

Slumber and waking; loved; gone proudly friended;

Felt the quick stir of wonder; sat alone;

Touched flowers and furs and cheeks.

All this is ended.
There are waters blown by changing winds to laughter

And lit by the rich skies, all day.

And after,Frost, with a gesture, stays the waves that dance

And wandering loveliness.

He leaves a white

Unbroken glory, a gathered radiance,

A width, a shining peace, under the night.


V. The Soldier


If I should die, think only this of me:

That there's some corner of a foreign field

That is for ever

England.

There shall beIn that rich earth a richer dust concealed;

A dust whom England bore, shaped, made aware,

Gave, once, her flowers to love, her ways to roam,

A body of England's, breathing

English air,

Washed by the rivers, blest by suns of home.
And think, this heart, all evil shed away,

A pulse in the eternal mind, no less

Gives somewhere back the thoughts by

England given;

Her sights and sounds; dreams happy as her day;

And laughter, learnt of friends; and gentleness,

In hearts at peace, under an

English heaven.