Talvez tudo
Que eu faça ou diga
Não passe de vazio aberto
Entre nexos e significados
Inerentes ao fato
De que em tudo
Aos poucos passo
Ou me rasgo
Em cada palavra
Em busca de atos
Abstratos e rasos
Armados em vida
E despedaçados...
Nowhere Man....
I call your name...
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
STANLEY KUBRICK E LARANJA MECÂNICA ( CLOCKWORK ORANGE)
Creio que poucos diretores foram capazes de traduzir em linguagem cinematográfica o espírito de uma época, ou seja a atmosfera da segunda metade do século XX, marcada por incertezas, violências, medos e questionamentos, do que Stanley Kubrick ( 1928-1999).
Famoso pelo seu perfeccionismo, pelo caráter recruso, o “mestre das marionetes” construiu através de seus filmes uma estética que influenciaria decisivamente o olhar cinematográfico, alem de nos conduzir a um questionamento da própria condição humana com seu ceticismo ilimitado.
Nascido em New York, Kubrick produziu seus primeiros trabalhos nos estados unidos ao longo dos anos 50 do ultimo século. Destacam-se nesse período seu primeiro longa Fear and Desire ( 1953), A Morte passou por perto (1955), o Grande Golpe ( 1956), Gloria feita de Sangue ( 1957) e seu polêmicio Spartacus ( 1960).
Mas foi após mudar-se para Inglaterra em busca de um ambiente cultural mais compatível com seu temperamento e cansado da censura enfrentada nos Estados Unidos, que produziu seus trabalhos mais relevantes e fascinantes. Destaco aqui apenas aqueles que me marcaram: 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971), O Iluminado ( 1980), Nascido para Matar (1987) e seu último filma De Olhos bem Fechados ( 1999).
Mas caso me fosse solicitado para eleger um dos seus trabalhos para representar o conjunto de sua obra escolheria sem pestanejar Clockwork Orange ( Laranja Mecânica).
Adaptação do romance de Anthony Burgess (1917-1993), o filme é essencialmente um tratado sobre a violência e a natureza humana. A transgressora violência do individuo, instintiva é contraposta a bem intencionada violência de Estado, para qual os direitos do próprio indivíduo, são “relativos”.
Assim temos de inicio as ações de Alex DeLarge (Malcolm McDowel) a frente de sua gangue de delinqüentes, os droogs (palavra originária do russo druk, amigo)** em uma Inglaterra futurista de grandes conjuntos habitacionais e precário ordenamento social. O gosto pela musica clássica do personagem, amante de Beethoven e especialmente sua 5º Sinfonia, sugere também uma promiscua relação entre civilização e barbárie que perpassa toda a narrativa. Em um segundo momento, de cruel algoz, Alex torna-se vitima do sistema e da sociedade através de um programa experimental, para corrigir seu comportamento violento e transgressor, que nada mais é do que uma lavagem cerebral. Seu caso acaba transformando-se em arma política partidária em mesquinhas disputas de poder das quais o personagem acaba sabendo tirar proveito com significativa eficácia.
Censurado no próprio Reino Unido e em muitos paises após o seu lançamento em 1971, Laranja Mecânica é ainda hoje considerado um filme demasiada e assustadoramente violento. Mas a violência aqui é mais alegórica do que realista, articulando uma narrativa bizarra, cruel, cômica e psicodélica que nos desafia a encarar a face absurda do mundo em que vivemos e os abismos da própria condição humana. Ainda somos de muitas maneiras contemporâneos dessa perturbadora obra.
* Kubrick era um devorador de livros. Não por acaso, boa parte de seus filmes são adaptações de obras literárias. Nem sempre compreendidas pelos autores...
** Alex se expressa inicialmente através do "Nadsat", um "idioma" que mistura o russo, o inglês inventado por Burgess .
Famoso pelo seu perfeccionismo, pelo caráter recruso, o “mestre das marionetes” construiu através de seus filmes uma estética que influenciaria decisivamente o olhar cinematográfico, alem de nos conduzir a um questionamento da própria condição humana com seu ceticismo ilimitado.
Nascido em New York, Kubrick produziu seus primeiros trabalhos nos estados unidos ao longo dos anos 50 do ultimo século. Destacam-se nesse período seu primeiro longa Fear and Desire ( 1953), A Morte passou por perto (1955), o Grande Golpe ( 1956), Gloria feita de Sangue ( 1957) e seu polêmicio Spartacus ( 1960).
Mas foi após mudar-se para Inglaterra em busca de um ambiente cultural mais compatível com seu temperamento e cansado da censura enfrentada nos Estados Unidos, que produziu seus trabalhos mais relevantes e fascinantes. Destaco aqui apenas aqueles que me marcaram: 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971), O Iluminado ( 1980), Nascido para Matar (1987) e seu último filma De Olhos bem Fechados ( 1999).
Mas caso me fosse solicitado para eleger um dos seus trabalhos para representar o conjunto de sua obra escolheria sem pestanejar Clockwork Orange ( Laranja Mecânica).
Adaptação do romance de Anthony Burgess (1917-1993), o filme é essencialmente um tratado sobre a violência e a natureza humana. A transgressora violência do individuo, instintiva é contraposta a bem intencionada violência de Estado, para qual os direitos do próprio indivíduo, são “relativos”.
Assim temos de inicio as ações de Alex DeLarge (Malcolm McDowel) a frente de sua gangue de delinqüentes, os droogs (palavra originária do russo druk, amigo)** em uma Inglaterra futurista de grandes conjuntos habitacionais e precário ordenamento social. O gosto pela musica clássica do personagem, amante de Beethoven e especialmente sua 5º Sinfonia, sugere também uma promiscua relação entre civilização e barbárie que perpassa toda a narrativa. Em um segundo momento, de cruel algoz, Alex torna-se vitima do sistema e da sociedade através de um programa experimental, para corrigir seu comportamento violento e transgressor, que nada mais é do que uma lavagem cerebral. Seu caso acaba transformando-se em arma política partidária em mesquinhas disputas de poder das quais o personagem acaba sabendo tirar proveito com significativa eficácia.
Censurado no próprio Reino Unido e em muitos paises após o seu lançamento em 1971, Laranja Mecânica é ainda hoje considerado um filme demasiada e assustadoramente violento. Mas a violência aqui é mais alegórica do que realista, articulando uma narrativa bizarra, cruel, cômica e psicodélica que nos desafia a encarar a face absurda do mundo em que vivemos e os abismos da própria condição humana. Ainda somos de muitas maneiras contemporâneos dessa perturbadora obra.
* Kubrick era um devorador de livros. Não por acaso, boa parte de seus filmes são adaptações de obras literárias. Nem sempre compreendidas pelos autores...
** Alex se expressa inicialmente através do "Nadsat", um "idioma" que mistura o russo, o inglês inventado por Burgess .
CRÔNICA RELÂMPAGO XLII
Quando somos arrancados da rotina, seja através da experiência única de uma viagem ou dos imperativos de uma doença grave, nosso cotidiano torna-se de repente tão irreal e fugidio quanto a lembrança de um sonho banal.
Ocorre, assim, uma espécie de desencontro de nós mesmos no aprendizado da individualidade dos lugares que nos envolvem oferecendo novidades e desafios. Nestas circunstâncias tudo parece maior do que realmente é, percebemos o quanto os espaços físicos e atos corriqueiros na verdade configuram referências ontológicas que também nos definem como indivíduos, seja pela recusa ou pela aceitação.
Ocorre, assim, uma espécie de desencontro de nós mesmos no aprendizado da individualidade dos lugares que nos envolvem oferecendo novidades e desafios. Nestas circunstâncias tudo parece maior do que realmente é, percebemos o quanto os espaços físicos e atos corriqueiros na verdade configuram referências ontológicas que também nos definem como indivíduos, seja pela recusa ou pela aceitação.
TIME AND RAIN
Eu amo a chuva
E o vento
Como quem sabe
A alma de um dia frio.
Sinto o silêncio,
A serenidade dos lugares
E objetos
fechados em tempo nublado.
Tudo parece
Mais intenso e vivo
No aconchego abstrato
De horas cinzentas.
É como se de repente
Todas as coisas existissem
Na suavidade de meus silêncios.
E o vento
Como quem sabe
A alma de um dia frio.
Sinto o silêncio,
A serenidade dos lugares
E objetos
fechados em tempo nublado.
Tudo parece
Mais intenso e vivo
No aconchego abstrato
De horas cinzentas.
É como se de repente
Todas as coisas existissem
Na suavidade de meus silêncios.
NADA
Nada me leva
A nada,
Como se o dia
Fosse apenas
O esforço
Mecânico e inútil
De ser entre o céu
E a terra,
Entre dias e noites,
Até o cansar do tempo.
Tudo é inútil movimento
Na soma aleatória de acontecimentos
Abandonados ao chão frágil de cada biografia.
Nada me leva
A nada.
Mas o nada
Nunca é vazio...
A nada,
Como se o dia
Fosse apenas
O esforço
Mecânico e inútil
De ser entre o céu
E a terra,
Entre dias e noites,
Até o cansar do tempo.
Tudo é inútil movimento
Na soma aleatória de acontecimentos
Abandonados ao chão frágil de cada biografia.
Nada me leva
A nada.
Mas o nada
Nunca é vazio...
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
METALLICA E A FILOSOFIA: O CLUBE EXISTENCIALISTA E O SENTIDO DA VIDA
Dentre os ensaios reunidos em METALLICA E A FILOSOFIA merece destaque A MILICIA DO METAL E O CLUBE EXISTENCIALISTA de Jemery Wisnewski que a partir de um dialogo com o existencialismo de Albert Camus, J P Sartre, Heidegger, e algumas letras da banda, aborda o tema do sentido da vida e o absurdo que é a existência humana e nossas respostas pessoais a esse mesmo absurdo.
Afirmar que o Metallica é uma banda existencialista, como faz o autor, significa também afirmar que em sua recusa niilista do real ela nos oferece o desafio de uma escolha, de uma alternativa de sentido e significado que impõe-se na medida em que nos descobrimos e construímos como indivíduos. Em outras palavras:
“ O existencialista desafia o absurdo. Criar uma vida significativa apesar da falta de sentido intrínseca da vida- esse é um ato heróico. Nós devemos encarar a vida como arte- escolher a participação em projetos que não tenham valor intrínseco simplesmente porque podemos. Em um mundo desprovido de qualquer significado transcendental, devemos inventar o nosso significado. É a tentativa de criar significado, sentido, diante do absurdo que domina Kill’Em All, do Metallica.”
(Jeremy Wisnewski. A Milícia do metal e o Clube Existencialista. In Metálica e a Filosofia; Um curso intensivo de cirurgia cerebral/ tradução de Marcos Malvezzi SP: Madras, 2008. p.67 )
Entretanto, o mais existencialista dentre os álbuns iniciais do Metallica talvez seja Ride de Lightning e sua atmosfera apocalíptica. Retornando ao texto citado:
“Um tema recorrente na musica inicial do Metallica- mas principalmente em Ride the Lightning- é a inevitabilidade da morte. As canções deste álbum servem a um propósito existencialista: elas revelam a finitude humana, o fato de a vida chegar a um fim inevitável. A unicidade da morte de cada indivíduo serve para distinguir um ser humano do outro. O filósofo Martin Heidegger ( 1889-1976) afirmava que a morte é a única coisa que os seres humanos precisam fazer sozinhos. E por causa disso, a morte individualiza as pessoas. Quando percebo que só eu posso morrer minha morte, Heidegger diz, reconheço que sou fundamentalmente diferente de você. Nossa morte iminente nos obriga a ver que somos indivíduos- que a nossa existência não pode ser reduzida à existência da multidão.”
( Idem p.68 )
Entre a morte, o absurdo do mundo e as letras do Metallica, surge um complexo cenário de pensamento onde o pano de fundo é nossa própria existência, nossa incessante busca por algum significado em um mundo sem sentido. Esse significado, entretanto, é necessariamente nossa própria singularidade, nossa individualidade em construção e desconstrução permanente ao sabor do tempo. Se não há caminho que nos leve para fora do absurdo que é o mundo, das angustias que nos povoam, resta-nos, entretanto, a alternativa da autenticidade. As escolhas que fazemos sem o conforto das convenções morais ou o peso das tradições culturais,os compromissos assumidos com nossa própria e complexa subjetividade e suas conseqüências, são tudo o que ainda nos faz de algum modo sentir a presença real de um rosto.
Complementando essa perspectiva, em METALLICA, NIETZSCHE E MARX: A IMORALIDADE DA MORALIDADE, Peter S. Fost nos lembra a questão da “falha de Deus” ( God that failed), e os limites de uma resposta religiosa
“Em canções como Leper Messiah e God that Failed Metallica acusa a religião de falha moral e, com isso liga-se a uma tradição filosófica que remonta a pensadores como Voltaire, Hume, Lucrécio, Sócrates e Xenofanes. De acordo com esses filósofos, o que as religiões prescrevem como moralmente “bom” é, na verdade, moralmente ruim ou errado. O que as religiões afirmam ser “correto” é, ao contrário, corrupto. O que elas descrevem como “piedoso”, é , na verdade, perverso. O que apresentam como a “verdade” é um engodo. Já que a religião tem um efeito tão grande nas idéias costumeiras acerca da moralidade em nossa sociedade, o que passa por moralidade costuma ser, de fato, um emaranhado pútrido de i moralidade”.
(Peter S. Fost. Metallica, Nietzsche e Marx: A imoralidade da moralidade. In Metálica e a Filosofia; Um curso intensivo de cirurgia cerebral/ tradução de Marcos Malvezzi SP: Madras, 2008. p.83 )
Mas a critica a religião é também uma critica a idéia de verdade, o que nos leva a assumir a ontológica incerteza que define a condição humana, o que é também qualquer espécie de meta existencialismo...
Cabe, portanto, para finalizar este texto, reproduzir aqui um fragmento do ensaio CRER E ENGANAR: METALLICA, PERCEPÇÃO E REALIDADE de Robert Arp:
“ Eu adoro berrar estas palavras do primeiro verso de “Bad Seed”: “ Come clean/ Fess up/ Tell all/ Spill guts/ Off the veil/ Stand revealed/Show the card/Bring it on/ Break the seal” [ Venha limpo, fale tudo, ponha tudo para fora. Tire o véu, e se revele. Mostre a carta. .Venha com tudo. Quebre o lacre]. Quando acabo de berrar, geralmente eu penso na diferença entre o modo como percebo as coisas, o que esta velado, e como as coisas são de fato, como é a realidade, o que é revelado. No que consiste a “realidade” de uma pessoa? A realidade é apenas “meu mundo”, minha coleção de percepções e idéias, ou será que existe um mundo fora de mim? Se existe uma realidade alem de minhas percepções, eu quero estar seguro em meu conhecimento da realidade. Assimn como Hetfield, eu quero saber “Is that the moon/ or just the light that lights this dead end street?/Is that you there/or just another demon that I meet?” [ Aquela é a lua, ou é só uma luz que iluymina essa ruía sem saída? É você que esta aí, ou mais um demônio que eu encontro?].
( Robert Arp. Crer e Enganar: Metallica, percepção e realidade. In Metálica e a Filosofia; Um curso intensivo de cirurgia cerebral/ tradução de Marcos Malvezzi SP: Madras, 2008. p.163 )
Afirmar que o Metallica é uma banda existencialista, como faz o autor, significa também afirmar que em sua recusa niilista do real ela nos oferece o desafio de uma escolha, de uma alternativa de sentido e significado que impõe-se na medida em que nos descobrimos e construímos como indivíduos. Em outras palavras:
“ O existencialista desafia o absurdo. Criar uma vida significativa apesar da falta de sentido intrínseca da vida- esse é um ato heróico. Nós devemos encarar a vida como arte- escolher a participação em projetos que não tenham valor intrínseco simplesmente porque podemos. Em um mundo desprovido de qualquer significado transcendental, devemos inventar o nosso significado. É a tentativa de criar significado, sentido, diante do absurdo que domina Kill’Em All, do Metallica.”
(Jeremy Wisnewski. A Milícia do metal e o Clube Existencialista. In Metálica e a Filosofia; Um curso intensivo de cirurgia cerebral/ tradução de Marcos Malvezzi SP: Madras, 2008. p.67 )
Entretanto, o mais existencialista dentre os álbuns iniciais do Metallica talvez seja Ride de Lightning e sua atmosfera apocalíptica. Retornando ao texto citado:
“Um tema recorrente na musica inicial do Metallica- mas principalmente em Ride the Lightning- é a inevitabilidade da morte. As canções deste álbum servem a um propósito existencialista: elas revelam a finitude humana, o fato de a vida chegar a um fim inevitável. A unicidade da morte de cada indivíduo serve para distinguir um ser humano do outro. O filósofo Martin Heidegger ( 1889-1976) afirmava que a morte é a única coisa que os seres humanos precisam fazer sozinhos. E por causa disso, a morte individualiza as pessoas. Quando percebo que só eu posso morrer minha morte, Heidegger diz, reconheço que sou fundamentalmente diferente de você. Nossa morte iminente nos obriga a ver que somos indivíduos- que a nossa existência não pode ser reduzida à existência da multidão.”
( Idem p.68 )
Entre a morte, o absurdo do mundo e as letras do Metallica, surge um complexo cenário de pensamento onde o pano de fundo é nossa própria existência, nossa incessante busca por algum significado em um mundo sem sentido. Esse significado, entretanto, é necessariamente nossa própria singularidade, nossa individualidade em construção e desconstrução permanente ao sabor do tempo. Se não há caminho que nos leve para fora do absurdo que é o mundo, das angustias que nos povoam, resta-nos, entretanto, a alternativa da autenticidade. As escolhas que fazemos sem o conforto das convenções morais ou o peso das tradições culturais,os compromissos assumidos com nossa própria e complexa subjetividade e suas conseqüências, são tudo o que ainda nos faz de algum modo sentir a presença real de um rosto.
Complementando essa perspectiva, em METALLICA, NIETZSCHE E MARX: A IMORALIDADE DA MORALIDADE, Peter S. Fost nos lembra a questão da “falha de Deus” ( God that failed), e os limites de uma resposta religiosa
“Em canções como Leper Messiah e God that Failed Metallica acusa a religião de falha moral e, com isso liga-se a uma tradição filosófica que remonta a pensadores como Voltaire, Hume, Lucrécio, Sócrates e Xenofanes. De acordo com esses filósofos, o que as religiões prescrevem como moralmente “bom” é, na verdade, moralmente ruim ou errado. O que as religiões afirmam ser “correto” é, ao contrário, corrupto. O que elas descrevem como “piedoso”, é , na verdade, perverso. O que apresentam como a “verdade” é um engodo. Já que a religião tem um efeito tão grande nas idéias costumeiras acerca da moralidade em nossa sociedade, o que passa por moralidade costuma ser, de fato, um emaranhado pútrido de i moralidade”.
(Peter S. Fost. Metallica, Nietzsche e Marx: A imoralidade da moralidade. In Metálica e a Filosofia; Um curso intensivo de cirurgia cerebral/ tradução de Marcos Malvezzi SP: Madras, 2008. p.83 )
Mas a critica a religião é também uma critica a idéia de verdade, o que nos leva a assumir a ontológica incerteza que define a condição humana, o que é também qualquer espécie de meta existencialismo...
Cabe, portanto, para finalizar este texto, reproduzir aqui um fragmento do ensaio CRER E ENGANAR: METALLICA, PERCEPÇÃO E REALIDADE de Robert Arp:
“ Eu adoro berrar estas palavras do primeiro verso de “Bad Seed”: “ Come clean/ Fess up/ Tell all/ Spill guts/ Off the veil/ Stand revealed/Show the card/Bring it on/ Break the seal” [ Venha limpo, fale tudo, ponha tudo para fora. Tire o véu, e se revele. Mostre a carta. .Venha com tudo. Quebre o lacre]. Quando acabo de berrar, geralmente eu penso na diferença entre o modo como percebo as coisas, o que esta velado, e como as coisas são de fato, como é a realidade, o que é revelado. No que consiste a “realidade” de uma pessoa? A realidade é apenas “meu mundo”, minha coleção de percepções e idéias, ou será que existe um mundo fora de mim? Se existe uma realidade alem de minhas percepções, eu quero estar seguro em meu conhecimento da realidade. Assimn como Hetfield, eu quero saber “Is that the moon/ or just the light that lights this dead end street?/Is that you there/or just another demon that I meet?” [ Aquela é a lua, ou é só uma luz que iluymina essa ruía sem saída? É você que esta aí, ou mais um demônio que eu encontro?].
( Robert Arp. Crer e Enganar: Metallica, percepção e realidade. In Metálica e a Filosofia; Um curso intensivo de cirurgia cerebral/ tradução de Marcos Malvezzi SP: Madras, 2008. p.163 )
KISS-ME
Meus lábios vazios
Aprenderam a sonhar
A meta realidade
Do acontecimento de um beijo,
Ao vislumbrar o labirinto
Do segredo vivo das sensações
Simples,
Até o limite hibrido
Entre a verdade e o sonho
Alem de toda fantasia.
Nas profundezas do saber o corpo
Saboreio pensamentos soltos
Que atualizam a falsa crença
Na criança que fui um dia.
Aprenderam a sonhar
A meta realidade
Do acontecimento de um beijo,
Ao vislumbrar o labirinto
Do segredo vivo das sensações
Simples,
Até o limite hibrido
Entre a verdade e o sonho
Alem de toda fantasia.
Nas profundezas do saber o corpo
Saboreio pensamentos soltos
Que atualizam a falsa crença
Na criança que fui um dia.
WONDERLAND
Sei que não sou eu
Aquela pálida face
Que me observa
Sem saber sequer que existo
Ou existe.
Surpreendo,
Na superfície do espelho,
Um rosto quase meu,
Provisório,
Completamente em silêncio
No traço duro, sem expressão,
Talhado por algum nada,
Quase absoluto.
Visitante, talvez,
De alguma outra
Paralela e simétrica
Realidade
Aquela pálida face
Que me observa
Sem saber sequer que existo
Ou existe.
Surpreendo,
Na superfície do espelho,
Um rosto quase meu,
Provisório,
Completamente em silêncio
No traço duro, sem expressão,
Talhado por algum nada,
Quase absoluto.
Visitante, talvez,
De alguma outra
Paralela e simétrica
Realidade
Onde,
Vazio de mim mesmo,
Eu viva a vida unicamente
Na objetividade precária
Do mundo.
Vazio de mim mesmo,
Eu viva a vida unicamente
Na objetividade precária
Do mundo.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
METALLICA E A FILOSOFIA...
Uma obra realmente indispensável à estante de qualquer amante do rock e, especialmente, a dos fãs ns do Metallica, é a original e fascinante coletânea organizada por William Irwin, Metallica e a Filosofia: Um curso intensivo de cirurgia cerebral. O organizador, professor associado de filosofia em King’s College, Pensilvana, notabilizou-se pela edição de trabalhos coletivos que, tais como este, aproximam os temas e questões clássicas do pensamento filosófico do vasto e complexo universo de nosso imaginário contemporâneo. O melhor exemplo talvez seja a também coletânea Matrix: Bem vindo ao Deserto do Real ou Seinfeld e a Filosofia.
Falando especificamente desta coletânea, dedicada aquela que pode ser considerada a maior banda de Heavy Metal ainda em atividade nos Estados Unidos, a primeira coisa que chama atenção é que pelo rigor e espontaneidade dos textos e a coerência com que os autores aproximam as letras do Metallica de questões filosóficas complexas como a falta de sentido da existência e sua resposta existencialista, ou a complexa filosofia moral de Kant, pode chamar atenção até mesmo de potenciais leitores que não tenham diretamente qualquer afinidade ou interesse pela musica do Metallica.
O livro é dividido em cinco "discos": O primeiro, “Seguindo através do Nunca” reúne ensaios dedicados a uma quase apresentação da banda e sua mensagem, abordando temas como a rejeição positiva e necessária das virtudes cristãs, alcoolismo, loucura, mas acima de tudo, auto afirmação. Já o segundo "disco" Existensica: o encontro do Metallica com o Existencialismo, dispensa qualquer apresentação. O considero o melhor de todo o livro, especialmente pelos brilhantes ensaios de Jemery Wisnewski “A Milícia do Metal e o Clube Existencialista” e o de Philip Lindholm “ A Luta Interior: Hetfield, Kierkegaard e a busca pela autenticidade”. O terceiro "disco", “ Viver e morrer, rir e chorar”, nos conduz a questões espinhosas como suicídio, eutanásia e pena de morte, enquanto o quarto “ Metafísica, epistemologia e Metallica” nos confronta com temas como o da relação mente corpo, percepção da realidade e identidade. Por fim, o quinto "disco", Fãs e a banda, é dedicado mais diretamente a relação da banda com seus fãs sem entretanto cair na mera apologia gratuita e passional.
O maior valor dessa desafiadora brochura negra é o de nos induzir ainda hoje a explorar o vinculo vital ao rock clássico dos anos 60, entre algo que poderíamos chamar de Contra Cultura, a filosofia formal e o Rock enquanto uma matriz cultural permanente associada as inquietudes e questionamentos do individuo frente as convenções e conformismos que em maior ou menor medida condicionam a existência de cada um nas tantas redes de sociabilidades que definem as pós sociedades do mundo contemporâneo.
Falando especificamente desta coletânea, dedicada aquela que pode ser considerada a maior banda de Heavy Metal ainda em atividade nos Estados Unidos, a primeira coisa que chama atenção é que pelo rigor e espontaneidade dos textos e a coerência com que os autores aproximam as letras do Metallica de questões filosóficas complexas como a falta de sentido da existência e sua resposta existencialista, ou a complexa filosofia moral de Kant, pode chamar atenção até mesmo de potenciais leitores que não tenham diretamente qualquer afinidade ou interesse pela musica do Metallica.
O livro é dividido em cinco "discos": O primeiro, “Seguindo através do Nunca” reúne ensaios dedicados a uma quase apresentação da banda e sua mensagem, abordando temas como a rejeição positiva e necessária das virtudes cristãs, alcoolismo, loucura, mas acima de tudo, auto afirmação. Já o segundo "disco" Existensica: o encontro do Metallica com o Existencialismo, dispensa qualquer apresentação. O considero o melhor de todo o livro, especialmente pelos brilhantes ensaios de Jemery Wisnewski “A Milícia do Metal e o Clube Existencialista” e o de Philip Lindholm “ A Luta Interior: Hetfield, Kierkegaard e a busca pela autenticidade”. O terceiro "disco", “ Viver e morrer, rir e chorar”, nos conduz a questões espinhosas como suicídio, eutanásia e pena de morte, enquanto o quarto “ Metafísica, epistemologia e Metallica” nos confronta com temas como o da relação mente corpo, percepção da realidade e identidade. Por fim, o quinto "disco", Fãs e a banda, é dedicado mais diretamente a relação da banda com seus fãs sem entretanto cair na mera apologia gratuita e passional.
O maior valor dessa desafiadora brochura negra é o de nos induzir ainda hoje a explorar o vinculo vital ao rock clássico dos anos 60, entre algo que poderíamos chamar de Contra Cultura, a filosofia formal e o Rock enquanto uma matriz cultural permanente associada as inquietudes e questionamentos do individuo frente as convenções e conformismos que em maior ou menor medida condicionam a existência de cada um nas tantas redes de sociabilidades que definem as pós sociedades do mundo contemporâneo.
PERSONAL POEM
Vejo em seus olhos
Todas as coisas do mundo.
Pois o amor
É pródigo em enganos
Quando a razão
Se rende a emoção.
Mesmo assim,
Queria eterno esse
Momento,
Onde
Pela certeza dos corpos
Percorremos
Incertezas de pensamento
Até o ponto
De saber o mundo
Lá fora
Como mera ilusão...
Todas as coisas do mundo.
Pois o amor
É pródigo em enganos
Quando a razão
Se rende a emoção.
Mesmo assim,
Queria eterno esse
Momento,
Onde
Pela certeza dos corpos
Percorremos
Incertezas de pensamento
Até o ponto
De saber o mundo
Lá fora
Como mera ilusão...
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