sexta-feira, 22 de agosto de 2008

SOMBRA E AUTO CONHECIMENTO


Uma das imagens mais fascinantes construídas por Jung em seu jogo de ciência e fantasia com a psique objetiva ou inconsciente foi a formulação do arquétipico da sombra... Esse desafio ao ego e as representações convencionais do self cultural de qualquer época estabelecida que nos conduz, de muitas maneiras, ao abismo de nossas certezas mais intimas e, ao mesmo tempo, a um confronto com o socialmente vivido e representado. Mas não quero aqui falar sobre as complexas relações entre sombra e persona. Faz mais sentido para mim adotar como ponto de partida deste aleatório discurso que ora construo um fragmento do próprio Jung sobre o sentido do auto conhecimento em Presente e Futuro, ensaio aqui já citei anteriormente:

“ O que a nossa época vê como sombra e inferioridade da psique humana contém mais do que algo puramente negativo. Já o simples fato de que através do autoconhecimento, através da investigação da própria alma, nós nos depararmos com os instintos e seu mundo de imagens, pode construir um passo no sentido de esclarecer as forças adormecidas de nossa psique que, embora presentes, passam quase despercebidas. Trata-se de possibilidades de intensa dinâmica, e a questão se a interrupção dessas forças e visões a elas relacionadas conduz a uma construção ou a uma catástrofe depende apenas do preparo e da atitude da consciência. O medico parece ser o único a saber, pela sua experiência, como o preparo psíquico do homem moderno é precário, pois ele é o único que se vê obrigado a buscar, na natureza do homem singular todas as forças e idéias que possam servir de ajuda para atravessar a obscuridade e o perigo. Esse trabalho paciente não pode se valer de formulas convencionais “teria que”, “deveria”,m pois com isso ele depositaria em outras instâncias o perigo. Esse trabalho paciente não pode se valer de formulas convencionais “teria que”, “deveria”, pois com isso ele depositaria em outras instâncias o esforço exigido, contentando-se com o trabalho fácil da repetição. Todos sabemos como a pregação do desejável é inútil, e como a ausência de parâmetros e a forte exigência a ser cumprida acabam fazendo com que se prefira repetir velhos erros a quebrar a cabeça com um programa de ordem subjetiva. Alem disso, trata-se sempre de um indivíduo e não de um milhão, o que talvez valesse o esforço, apesar de saber que, sem a transformação do indiví duo, nada pode acontecer.”

( C G Jung. Presente e Futuro. Obras Completas vol. X/1, Petrópolis: Vozes, 2º ed, 1989, p. 49-50)

I AM TIRED... FREE.

Entre um dia
E outro
Sofro o mesmo sono,
O mesmo cansaço
Em avessos de vontades
E certezas de pensamento.

Guardo-me de mim mesmo
E do silêncio das coisas
Que sofrem o tempo
Esquecendo meus mais caros
Sonhos.

Que importa?

Infinitos correm dentro de mim
Dizendo o sem limite da vida
Em fome louca de liberdade
E individualidade.

PARA QUE SERVE TUDO ISSO?



Tomo a liberdade de reproduzir aqui a saborosa introdução de um texto interessante sobre o sentido da vida de Julian Baggini. Refiro-me a provocante introdução de seu livro “PARA QUE SERVE TUDO ISSO? A FILOSOFIA E O SENTIDO DA VIDA, DE PLATÃO A MONTY PYTHON” .


Rio de Janeiro
Tradução:
Cristiano Botafogo
Título original:
What’s It All About?
(Philosophy and the Meaning of Life)
Tradução autorizada da edição inglesa
publicada em 2005 por Granta Books, de Londres, Inglaterra
Copyright © 2004, Julian Baggini
Julian Baggini asserts the moral right to be identifi ed as the author of this Work.
Copyright da edição brasileira © 2008:
Jorge Zahar Editor Ltda.



Introdução



“Você é o T.S. Eliot”, disse o taxista ao famoso poeta quando
Eliot entrou em seu táxi. Eliot, então, perguntou a ele como
sabia. “Ah! Eu sempre reconheço as celebridades”, respondeu o
taxista. “Um tempo atrás, eu peguei o Bertrand Russell, e disse
para ele: ‘E aí, lorde Russell, qual o sentido da vida?’ E, sabe o
quê? Ele não sabia.”
Quem está sendo zombado nessa história? Lorde Russell,
o grande fi lósofo, que, apesar de toda a sua presumível inteligência
e sabedoria, não soube responder ao taxista? Se alguém
é capaz de nos dizer qual é “o sentido da vida”, esse alguém
deveria ser Bertrand Russell, o maior fi lósofo vivo do mundo,
certo? Ou seria o taxista, que esperava ouvir a solução de um
problema tão profundo em um curto percurso? Mesmo que
Russell soubesse a resposta, explicar os segredos do universo
demandaria tempo e paciência.
Talvez o melhor a dizer seja que nenhum dos dois merece
ser zombado. Russell certamente não, pois se fosse possível
responder a essa pergunta de forma adequada em dez minutos,
alguém já o teria feito e o taxista não precisaria perguntar. Também
não deveríamos zombar do taxista por não saber disso. Sua
pergunta é uma que todos se fazem em algum ponto da vida.
O problema é que a pergunta é vaga, inespecífi ca e obscura.
Não é bem uma só pergunta, mas o ponto central de uma
série de questões: por que estamos aqui? Para que serve a vida?
Ser feliz é sufi ciente? Minha vida serve a um propósito maior? Estamos
aqui para ajudar os outros ou somente a nós mesmos?
8 Para que serve tudo isso?
Qual o sentido da vida?
Para responder a essas perguntas, temos que realizar uma
investigação racional e secular. E com “secular” não quero dizer
“atéia”. Quero apenas dizer que nossa argumentação não deve
partir de nenhuma verdade supostamente revelada, de doutrinas
religiosas ou textos sagrados. Em vez disso, ela deve recorrer
a razões, evidências e linhas de pensamento que possam ser
compreendidas por todos, sejam pessoas de fé ou não. Isso porque,
mesmo para muitos fi éis, a autoridade das reli giões não
pode ser vista como absoluta. Conhecendo a grande diversidade
de religiões no mundo, entendendo as forças e os acontecimentos
históricos que moldaram suas doutrinas e textos sagrados
e percebendo a falibilidade dos seus líderes, a idéia de
que elas nos fornecem acesso direto a verdades absolutas perde
credibilidade. A mão humana está claramente presente ali, seja
por inspiração divina ou não. Isso signifi ca que, mesmo que
tenhamos fé, não podemos aceitar os ensinamentos religiosos
sem questioná-los. Precisamos usar nossa inteligência para determinar
por nós mesmos se as respostas que eles nos dão fazem
ou não sentido. E como em algum momento da vida sempre
acabamos nos perguntando “qual o sentido da vida?”, não
dá pra fi car postergando esse fi losofar para sempre.
O assunto, às vezes, é tão complicado e profundo que a tentativa
de escrever um livro sobre o tema já pode ser considerada
arrogante. Eu até poderia ser acusado se estivesse afi rmando que
o “sentido da vida” é um segredo que somente alguns poucos
podem descobrir através da contemplação, de uma revelação ou
de uma vida inteira de investigação intelectual. Esse tipo de promessa
subentende que o sentido da vida é um enigma que, após
desvendado, revela todos os mistérios e explica todas as coisas. E,
como a grande maioria de nós não conhece esse segredo, é preciso
ser realmente muito sábio para tê-lo descoberto.
Eu acho essa idéia uma palhaçada e espero que a maioria
dos leitores concorde comigo. Se realmente existisse um grande
Introdução,segredo, já estaria correndo algum boato. O problema do sentido
da vida não é a falta de acesso a uma informação secreta que
nos faria compreendê-lo. Não é uma questão que se possa resolver
a partir da descoberta de uma nova informação, mas sim
pensando-se nas questões sobre as quais não possuímos muitas
evidências. Grande parte do que vem a seguir, espero, demonstrará
isso.
Sendo assim, eu diria que a explicação do sentido da vida
presente nesse livro é “defl acionária”, pois reduz a busca mítica
e misteriosa por um único “sentido da vida” a uma série
de questões menores e pouco misteriosas a respeito dos vários
sentidos da vida. Dessa forma, o livro apresenta a questão
como, ao mesmo tempo, algo menor e maior do que normalmente
é considerada. Menor porque não é um grande mistério
inatingível para a maioria de nós; e maior porque não gera uma
só pergunta, mas muitas.
Essas perguntas podem ser respondidas – não por eu ser
um grande sábio, mas pelo simples fato de estar aqui reunindo
a sabedoria dos grandes fi lósofos do passado. Ao selecionar
e apresentar suas idéias, contudo, necessariamente estou
também mostrando uma visão particular, e não uma pesquisa
imparcial sobre o que disseram a respeito do tema. Este livro é
um relato pessoal, mas espero que a maioria dos fi lósofos concorde
com ele.
Quem quiser embarcar na busca pelo sentido da vida deveria
prestar atenção ao alerta feito por Douglas Adams no livro
O guia do mochileiro das galáxias. Nessa história, uma raça de
seres se cansa de brigar por causa do problema e decide construir
um supercomputador para obter uma resposta. O “Pensador
Profundo”, como fi cou conhecido, demora sete milhões
e meio de anos para responder a questão sobre “a vida, o universo
e tudo”. No dia de anunciar a resposta, com “majestade
e calma infi nitas”, o Pensador Profundo fi nalmente deu o seu
veredicto: “Quarenta e dois.”
10 Para que serve tudo isso?
O problema é que os engenheiros que construíram o
compu tador pediram uma resposta para “a questão da vida,
do universo e de tudo”, sem nem ao menos se questionar se
eles mesmos sabiam o que ela signifi cava. Agora eles tinham a
resposta, mas não a compreendiam porque não sabiam a que
questão ela estava direcionada. Fazer as perguntas certas é tão
importante quanto responder corretamente.
Nunca vai haver uma explicação defi nitiva para o sentido
da vida, em parte porque todo indivíduo tem que fi car satisfeito
tanto com as perguntas quanto com as respostas. A busca
pelo sentido da vida é essencialmente pessoal. Este livro não
poderá dar aos leitores um mapa mostrando exatamente onde
ela terminará – se é que isso um dia vai acontecer. Mas pode
lhes fornecer algumas ferramentas que auxiliarão na procura.
Como serão utilizadas, e se serão úteis ou não, é o leitor que
deve determinar.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

COISAS

O tempo é como um vento que nos conduz a essência do movimento de ser.




Há coisas que apagam
A gente
E se fazem absolutas
No modo como dizem
O mundo.
Há coisas que se fixam
Na alma,
Como se fossem
Um eu mais profundo.

ESPERA

A noite seguinte,
O fato seguinte...
Talvez nunca cheguem.

Tudo pode de repente,
Sem causa aparente,
Permanecer em estático transe,
Sem tempo...

Tudo pode acontecer
Entre esperados desconhecidos
No movimento vivo
De aguardar aqui
impotente
O que quer que seja.

ESPERA

A noite seguinte,
O fato seguinte...
Talvez nunca cheguem.

Tudo pode de repente,
Sem causa aparente,
Permanecer em estático transe,
Sem tempo...

Tudo pode acontecer
Entre esperados desconhecidos
No movimento vivo
De aguardar aqui
impotente
O que quer que seja.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

MOVIMENTO

A vida pressupõe
O desconhecido
Como provisório sentido
Do acaso que nos leva
A algum destino.

Sei que avanço
Na medida em que me desconheço,
Em que me esqueço
E surpreendo outros no espelho...

Escravo dos meus atos
Vislumbro liberdades
Em algum outro lado
Do tempo futuro.

CRÔNICA RELÃMPAGO XXXIV




É conhecida a frase segundo a qual fazemos nosso próprio destino. Segundo essa máxima, nossas opções pessoais determinam aquilo que somos. Mas cabe questionar se tudo o que nos tornamos na vida pressupõe uma cristalina consciência de nossos fatos e contextos vividos; o quanto nossas representações de nós mesmos e do mundo efetivamente correspondem a alguma teleológico significado objetivo de todas as coisas. Paradoxalmente, não somos senhores de nossas próprias opções. Em grande parte elas dependem também daquilo que os outros projetam sobre nós e que em contra partida projetamos no mundo. Sei que hoje não sou a mesma pessoa que em algum passado relativamente distante optou por isso ou aquilo.
Definitivamente não fazemos nosso próprio destino. Participamos dele tanto quanto participamos de tudo aquilo que somos. Não questiono o livre arbítrio que rege a biografia de cada individuo, o que de fato não me parece fazer sentido é a idéia de que uma identidade fixa e cristalina nos orienta o agir e o escolher. As decisões mais importantes de nossas vidas não passam de escolhas de momento guiadas por um misto de intuição e acaso no mais que profundo da superfície de um momento.

domingo, 17 de agosto de 2008

EU E O TEMPO

Vazios
Insinuam infinitos
Em tardes de puro tédio.

Procuro no corpo das nuvens
Que decoram o azul profundo
Retratos de sonhos de infância.

Guardo até hoje pedaços
Da criança que fui um dia
No absoletismo de meus sentimentos
Frente ao absolutismo das razões de ser.

Maior do que eu
É o mundo
No gosto de aos poucos
Perecer....

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Invasão britânica ( Brithsh Invasion)



A expressão Invasão Britânica ( Brithsh Invasion) associado ao surpreendente e estrondoso sucesso de bandas britânicas, encabeçadas pelos Beatles, nos E U A entre os anos de 1964 e 1966 costuma ser também utilizado para as sucessivas ondas posteriores de bandas de origem britânica que conseguiram transcender as fronteiras da Grã-Bretanha e conquistar amplamente o público americano. Se ainda nos anos 60 bandas como Rolling Stones, The Who, The Animals, The Kinks, The Dave Clark Five, Gerry & The Pacemakers beneficiaram-se do impacto da “invasão clássica” e da Beatlemania, nos anos 70 assistimos uma onda de invasão de grandes proporções comportamentais e culturais assolarem o território americano. Se por um lado tínhamos o had rock inovador do Led Zeppelin e Black sabbath, do outro tinhamos o verdadeiro furacão punk dos Sex Pistols e The Clash. Isso para não falar da reminiscência psicodélica personificada pelo estilo único do Pink Floyd e pelo pós punk de bandas como Siouxsie & the Banshees e Joy Division.
Nos anos 80 seria a vez da new have através da explosão de bandas como The Police, Soft Cell, The Pretenders, The Wham ou os alternativos The Smiths, The Stone Roses, The Cure e Echo & the Bunnymen) aos quais se contrapunham em termos estilísticos bandas como Iron Maidem, Def Leppard, Saxon e Motörhead.
Chegando finalmente aos anos 90, somos surpreendidos pelo Britpop representado por bandas como Oasis, Blur e Radiohead. Por sua vez contrapostos ao cumulo da pop music das Spice Girls.
Bom, ficando nos anos 90, mas sem querer desmerecer bandas como o Coldplay, Amy Winehouse, Arctic Monkeys, Lily Allen ou Klaxons, cabe observar que ao longo dessas “invasões britânicas”, através de estilos e contextos diversos podemos vislumbrar uma musicalidade ou sensibilidade peculiar dos músicos britânicos que a diferencia significativamente do rock americano. Tal especificidade cultural, mesmo que não muito bem definida, é reveladora de algo que, no alem da lógica da industria fonográfica, podemos explicar pelos traços peculiares da própria cultura britânica e seu caráter ao mesmo tempo insular e cosmopolita. Universalista por excelência em decorrência da herança imperialista, o rock em solo britânico pressupôs sincretismos culturais diversos e únicos como, por exemplo, com a musica indiana, através dos Beatles e do the Who nos anos 60, com a musica folk através do Led Zeppelin ou um misto de folk e erudito como no caso do Deep Purble em seu álbum singular The Book of Taliesyn (1968). Evidentemente existem outros exemplos. O panorama atual da musica no reino unido, dada a massiva presença de imigrantes, é ainda mais rico em ritmos, tons e diferentes estilos até a fusão máxima e desconcertante de tudo através do mágico delírio da musica eletrônica. Certamente, podemos esperar ainda por muitas invasões britânicas...