quinta-feira, 15 de maio de 2008

SINATRA: O MITO 10 ANOS DEPOIS...


Flank Albert Sinatra foi o cantor mais expressivo da América do pós guerra, a encarnação viva do american way of live, do self made man e, de algum modo, um ícone que nos permite ler as sensibilidades que definem em parte o séc. XX. Nos anos 50, era sua voz, the voice, que embalava os sonhos e emoçõesda ingênua rebeldia da chamada “juventude transviada” através de um misto de swing, sensualidade, romantismo, humor, melancolia e irreverência, em um momento em que a musica popular se consolidava, através da conversão em uma poderosa industria, em uma presença marcante e significativa no cotidiano dos indivíduos, seja como pano de fundo ou como trilha sonora de suas próprias vidas.
Embora avesso ao rock and roll, cabe registrar que foi justamente Sinatra que em 1960, no episódio final de seu programa de variedades para a TV americana, The Frank Sinatra Show, que recebeu o jovem Elvis Presley, então recém chegado aos Estados Unidos após a conclusão de seu serviço militar.
Também é digna de nota sua ótima versão de uma das mais belas cançãos dos Beatles, Something, by George Harrison e, por que não, as divertidas e heréticas versões de um de seus maiores sucessos, My Way, pelo Sex Pistols e, posteriormente Nina Hagen.
O que realmente importa é que dez anos após sua morte a memória e o gramour de Sinatra ainda seduz nossas imaginações e sensibilidades intensa e profundamente. The Voice ainda é um dos maiores símbolos da cultura ocidental.
Arnold Shaw na overture de sua biografia sobre o cantor, escrita em fins dos anos 60 e muito propriamente intitulada Sinatra: Romântico do séc. XX, assim define esse complexo e contraditório homem que se fez voz e mito:


“ O atrativo de Sinatra como um romântico do século XX provem de um grupo de contradições. Na hierarquia de nossos símbolos do sexo e deuses do amor, ele tem sido o amante torturado, tão vulnerável quanto triunfante, magoando e sendo magoado. Se continha muito de Balzac, cuja bengala trazia a inscrição: “Seja o que for que me atrapalhe, eu esmago”, também havia nele qualquer coisa de Kafka, que gravou em sua bengala: “Tudo aquilo que me atrapalha, me esmaga!” É essa contradição constante de violência e ternura que compôs a personalidade magnética e enigmática de Sinatra. E foi a projeção dessas polaridades em seu modo de cantar que contribuiu para torná-lo o cantor máximo dos nossos tempos.”

(Arnold Shaw. Sinatra: Romântico do Século XX. Tradução de Luiz Fernandes. RJ: Mundo Musical, 1969,p. 4)

O INVENTADO

Saudades tenho
Do que nunca vivi,
De lugares e pessoas
Jamais conhecidas,
Como se fosse
O trágico exilado
De alguma outra vida.

Há mais verdades
Em minhas fantasias
Do que realidades
No mundo...

Pois sei que sou
Uma sombra
De sonho impossível
A apagar-se em medíocre existência.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

UMA BREVE LEITURA DO LED ZEPPELIN


Originalmente formada em julho de 1968 pelo guitarrista Jimmy Page e pelo baixista Chris Dreja com o nome de "The New Yardbirds", teve inicio a fascinante tragetória de uma das maiores bandas de Rock and Roll dos anos 70: o Led Zeppelin.
O nome tem origem em um comentário de Keith Moon e John Entwistle do The Who durante uma entrevista sobre sobre um "supergrupo" contendo eles dois, Jimmy Page e Jeff Beck, que, na opinião dos entrevistados, viajava como uma balão de gas.
Lançado em outubro de 1968, com a formação definitiva da banda, ou seja, Jimmy Page, Jonh Paul Jones, Robert Plant e John "Bonzo" Bonhan, o primeiro disco do Led combinava o blues, rock e influências orientais com amplificações distorcidas, o que lhe fez por merecer, ao lado do Black Sabbath, a condição de uma das bandas precursoras do futuro heavy metal.
O segundo álbum, chamado simplesmente Led Zeppelin II, continuou e aprofundou o mesmo estilo, e incluía o singular sucesso "Whole Lotta Love".
As performances ao vivo do Led Zeppelin, muito frequentemente, alcançavam 2 horas ou mais de duração podendo chegar a 4 horas seguidas. Constituiam verdadeiras viagens e delirios musicais que a levaram ao titulo de melhor banda ao vivo dos anos 70.

Vale a pena ressaltar que a gravação do seu terceiro álbum, Led Zeppelin III, conduziu-a, significativamente, a experiência de retirar-se em "Bron-Yr-Aur", uma cabana isolada em Snowdonia/pais de Gales, em busca do resgate do imaginário celtico, o que propiciou ao album uma sonolidade acústico e folk realmente singular. Tal atmosfera mágica e insolita transformou-se em uma das marcas registradas da banda, assim como a sintese perfeita entre as várias tendências musicais que incorporava.
Certamente ainda tenho muito o que dizer sobre o Led Zeppelin por aqui...

MORNING GLORY

Enxergo o colorido
De um dia distante,
Perdido,
Quando tudo parece
Preso em um instante
No qual o mundo se faz
Roda gigante.

É como o depois
E o antes
De uma surpresa em fogos
De abstratos fatos,
Algo que surge como sonho
Quando estamos acordados
E fechados em alma
Como meros estranhos
Que adivinham o
Surpreendente do próprio rosto
Em abertura de céu.

É manhã...
Morning Glory....

INDIVIDUALIDADE E CONTEMPORANEIDADE

No múltiplo cenário de nossas contemporaneidades sentidas e vividas em indecisões de reflexões e pensamentos, uma das questões, ou tensões, mais intensas que se apresentam, é aquela existente entre os fundamentalismos identidarios, ou sectarismos étnicos, nacionais e religiosos, frente à novidade do múltiplo, do hibrido e do singular que emerge, com uma força cada vez maior, através das globalizações européias e norte americanas.
Estes primeiros instantes do novo milênio são definidos, entre muitas outras coisas, por uma desconstrução radical de tudo aquilo que ainda hoje representa, de alguma maneira, “a tradição” ou o funcional medíocre das imagens do socialmente estabelecido centrado em alguma arcaica representação de coletividade.
Quando vivemos profundamente a caoticidade do tempo presente, nos reaprendemos no aprendizado da aridez coletiva, nos refazemos como pequenos e mínimos fragmentos que em sua singularidade transformam cada ato de existência em uma afirmação única do que somos multiplicamente no movimento de pensamentos, sentimentos, intuições e sensações singulares em contraposição ao opaco dos lugares comuns do dia a dia, estes terríveis desertos íntimos que nos conduzem a realidade social.

terça-feira, 13 de maio de 2008

CRÔNICA RELÂMPAGO XXVII


Normalmente, em nossas orgulhosas afirmações vazias de igualdade, republicanismos e nacionalismos cotidiana e massificamente sustentados, não nos damos conta das permanências do antigo regime em nosso dia a dia.
Foucault, em sua Micro-física do poder, já nos chamava atenção para o fato, deste absurdo lógico chamado poder, ser essencialmente realizado através de modalidades de relações estabelecidas, antes de tudo, no campo do micro-universo de nossos relacionamentos pessoais e impessoais. Em poucas palavras, o poder não é uma “coisa-em–si” mas algo que se faz real em nossas modalidades diversas e espontâneas de sociabilidades.
Independente de alertas como o aqui citado, raramente nos damos conta do quanto nosso existir em sociedade e interagir com os outros pressupõe performances e códigos de valor/não valor que não estão condicionados a racionalidade objetiva dos jogos sociais de linguagem e trans-linguagem tão somente.
Artificialismos, artifícios e silêncios ainda definem nossos relacionamentos de todos os dias no âmbito profissional e pessoal, Somos, antes de tudo, o exercício de personas maior ou em maior realidade bem ou mal sucedidas em nossas diversas sociabilidades. Somos, porem, também, diferentemente dos nobres do antigo regime, obrigados a lidar mais profunda e livremente com nossas multiplicidades interiores, com nossos medos, conflitos e desafios, ao ponto de nos sentimos radicalmente como indivíduos; e algo a menos do que isso...

RAIN AND THE CITY

Acredito em tão pouco,
Mas em tão fundo de mim mesmo,
Que não tenho linguagem
Ou mensagem,
Para dizer
Porcamente ao mundo
O que acho que sou.

Sei menos
Que a certeza de uma gota de chuva
Ou do largo desafio de transpor
Uma poça d’agua
A meio ao caminho
Do todo que me impõe silenciosamente
Limites e vontades infinitas...

Sou pura chuva
A calar ruas e pessoas
No grande esforço
De ser
apenas uma gota
De mim mesmo
A sonhar reflexos
Em espelhos d’agua.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

MINIMA ANGUSTIA


Procuro suportar
O desencontro
Entre o tempo
E os fatos,
Sobreviver ao vazio
Que me faz um outro
De mim mesmo
No desafio e risco
De cada único instante.

Minhas opções
Perdem-se
Nos atos que espalho
Pela vida.

Pouco sei sobre o que sou
No rasto apagado
Dos meus passos a ermo.

Espero-me futuro
Em algum horizonte
Ao crepúsculo
Para redimir o passado
E saber, definitivamente,
Meu presente.

domingo, 11 de maio de 2008

THE WHO E A SENSIBILDADE NOVECENTISTA





No último século, na segunda metade dos anos 60, o The Who consolidou-se definitivamente no cenário do Rock como uma das mais populares e emblemáticas bandas britânicas. Consolidou na ocasião sua identidade através de uma musicalidade cada vez mais complexa, psicodélica e meta-psicodélica, assim como letras de significado profundo no discutir os dilemas e desafios da própria condição humana e sua inadaptação estrutural a si mesma... Transcendia, assim, a imagem de uma banda adolescente cunhada pelo clássico My Generation e pelo furor dionisíaco de suas performances ao vivo.
Sobre o lugar do The Who na história e experiência viva do Rock, o especialista em história do Rock, Paul Friedlander, assim resume a relevância da banda:




“Tendo ficado a sombra de outros grupos da invasão inglesa em meados dos anos 60, o Who começou a obter o reconhecimento que merecia na época de Woodstock. Musicalmente, e no seu estilo de se apresentar ao vivo, eles foram os pioneiros do hard rock. Devido a sua capacidade musical, talento e inclinações sociais, eles redefiníramos papeis e funções dos instrumentalistas, criando um rock mais ousado e sofisticado.A bateria se transformou em algo mais que um marcador de tempos, o baixo, mais que uma base rítmica e harmônica, e a guitarra se transformou tanto em solo quanto em rítmica.
Como compositor de rock, Townshend é um dos melhores. Ele compunha sozinho, não como parte de uma equipe como Lennon- McCartney ou Jagger-Richards. E ele compunha sobre o mais amplo espectro de temas, seja sobre o rock and roll puro e simples ou para fazer um comentário reflexivo, filosófico e sofisticado sobre a condição humana. E mais, tudo isto se realizava enquanto o público e os críticos se concentravam no alto volume, na alta energia e na destruição bombástica de seus shows ao vivo. Raramente uma banda combina com sucesso tantos elementos essenciais do rock com tantos componentes musicais e líricos complexos e sofisticados.”




( Paul Fridlander. Rock and Roll: Uma história social; tradução de A. Costa- 4º ed., RJ: Record, 2006, p. 190.)



Mas, definitivamente, a imagem mais viva que temos hoje do The Who é a da sua singular performance em palco, a força dionisíaca de sua musicalidade e identidade, a nos dizer o elementar e saudável desajustamento relativo que marca a construção de cada individualidade humana na cultura ocidental.
Recorrendo novamente a Fridlander:


“Imagine o cantor Roger Daltrey, feito uma maquina de moto-continuo, comandando o palco durante duas horas de agitação frenética. O guitarrista Pete Townshend mexe seu braço direito num movimento que lembra um gigantesco moinho de vento, golpeando sua guitarra para produzir barulho, tocando poderosos acordes que saturam a sala de espetáculo. Às vezes essas rajadas sonoras são acompanhadas por pulos ágeis quando Townshend saltita pelo palco. O baterista Keith Moon bate freneticamente em sua bateria, arremessando ocasionalmente uma de suas baquetas por cima da bateria e em direção ao público. Este furacão envolve o baixista John Entwistle, que fica de pé como se estivesse ancorado no palco, sem se mexer,exceto com os dedos que deslizam sobre as trastes do braço do seu baixo.
Este show hipotético chega ao clímax com a canção My Generation. Após um longo solo, Townshend ergue sua guitarra acima da cabeça e quebra-a em pedaços contra o palco, esmagando o esqueleto restante na grade de proteção e no seu amplificador. A microfonia angustiada que saltava das caixas de som soava como o momento de agonia do instrumento. Daltrey gira seu microfone pelo fio em um crescente arco até ele se chocar com o palco. O bumbo de Moon foi armado com uma pequena carga explosiva esfumaçante e estoura quando ele chuta a bateria que desmorona do pódio para o palco. Parado atrás do seu instrumento, Moon ri como um piromaniaco. Finalmente Entweistle pára de tocar seu baixo e o Who sai de cena, somente um dia como outro qualquer.”


( idem, p. 176)

CIGARRETTES & ALCCOHOL


Gosto do claro/escuro
Da aventura de sombra
Que faz cada noite.
É divertido perder-se
Em pessoas e bares
Em buscas de transcendências
E infinitos laicos.
Pois sei brincar com
O acaso da fumaça
Do meu cigarro
Entre goles de coloridos drinks
E surrealidades de momento.
Tudo no fundo
Se encanta,
Se encontra,
No acordar de imaginações profundas
em puro expontâneismo vazio
de inventivas realidades
ao sabor de íntimos ventos.