quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

POEMA PÓS QUIXOTESCO



Não faz diferença
Que dia é hoje.
Sempre terei nas horas
O sempre igual
De uma rotina vazia.
Permanecerei sem futuros,
Sem portas ou janelas abertas
Diante de meus passos cansados
E olhar de tédio.
Não serei coroado rei
De qualquer reino remoto
Ou o príncipe encantado
De qualquer damizela.
Estarei entre os que não deram certo,
Entre aqueles que não nasceram
Para alimentar o correto e próspero caminho
Das ascensões sociais.
Pouco me importa o que pensam de mim
Melhor que não me notem
No turvo da multidão.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

ARITMÉTICA

Somei todos os meus silêncios,
Todas as minhas duvidas
Dores e rasas imensidões...
O resultado não valeu
O esforço
Extrapolando a aritmética
Em abstrato quantitativo
De vazios.

LUGAR COMUM

Não me imponham
A superficialidade de um rosto
Nem me julguem
Pelos meus olhos.
Ignorem meus atos,
Desconsiderem
Minhas palavras.
Se quer me julguem
Humano
Tal como vocês.
De todas as formas
Possíveis
Me considero único
Na singularidade
Dos meus lugares comuns.

DESENCANTAMENTO DO MUNDO

Foi desfeito o segredo
Do encanto do significado.
A existência perdeu o brilho,
Se fez ilegível
No dito
Pelo não dito
De todas as impossibilidades filosóficas.
Já não havia resquício
De qualquer sentido racional
Ou sublime das coisas,
Apenas o vazio espalhado
Entre as incertezas da manhã sem rumo.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O MURO

Entre o eu e o mundo
Existe um muro,
Uma invisível e sutil
Distância,
Entre o abstrato
E o concreto
Que nos qualificam
Os pensamentos.
As vezes
Nos sentimos
Do lado de dentro
Do muro,
Outras do lado de fora.
Mas nunca superamos
O muro...


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A MARCHA DO PENSAMENTO

Mais rápido que a vida
Avança o pensamento
Contra as ilusões
Cotidianamente estabelecidas.
Todas as verdades estão mortas.
O futuro é livre de utopias
Ou de sonhos de felicidade.
O pensamento apenas
Segue em frente...
Sóbrio e sereno.
Mas ele é mais rápido
Que a vida...


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

PERDIDO DE MIM

Perdi o tato de existir.
Já não sei minha vida
Em maçantes rotinas,
Em vazios e gritos
De solitárias melancolias.
Não sei se resisto,
Se busco
Ou fujo resignadamente
Da minha desesperada vontade
De atravessar o espelho...
Não sei...
Perdi o tato de existir.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

VAZIOS

Os vazios que me habitam estão mais cheios de coisas do que o mundo.

Quase não lhes contenho de tão farto do pouco da minha própria existência...


Queria explodir, me fazer outro, ou explorar o impreciso do vento até viver as últimas consequências todas essas coisas que me gritam por dentro...

DESENCONTRO

Busquei reinventar a vida
Sem qualquer nostalgia de futuro,
Tentei desesperadamente
Reescrever minhas frases de dia a dia
E adivinhar qualquer outro
Rosto no espelho
Que não fosse aquele
Deste meu eu doente e pesado
De tantos passados.
Mas entre minha vontade e o mundo
Deu-se qualquer desencontro,
Qualquer hiato ou silêncio,
Que me desfez qualquer esperança
Na companhia de solidões diversas.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

AFORISMA SOBRE O DESTINO

O desinteresse pelo resultado de nossas ações é a melhor estratégia para se lidar com o acaso dos fatos. Pois estamos longe de sermos senhores  de nosso destino. Não temos o mínimo controle sofre as infinitas variáveis que condicionam o rumo de nossa existência. A própria consciência é uma espécie de sonho.