sábado, 9 de outubro de 2010

ANATOMIA DE UM SUSTO


Foi um único e pequeno instante,
Menos de um segundo,
O suficiente para que tudo
Se desfizesse
Em um susto de realidade
Deixando-me perdido e confuso
Diante da perplexidade dos fatos.


terça-feira, 5 de outubro de 2010

BEATLES E OS ESTADOS AUTERADOS DE CONSCIÊNCIA



Uma dos melhores momentos da coletânea Beatles e a Filosofia, organizada por Michael Bauer e Steven Baur  sob a coordenação de William Irwin é o ensaio “ EU ADORARIA FAZER VOCÊ DESPERTAR: OS BEATLES E A ÉTICA DOS ESTADOS DE CONSCIÊNCIA” by Jere O’Neill Surber.
O autor define de modo sublime e preciso o momento nodal da cultura e mensagem criada pelos Beatles para sua época na seguinte passagem onde nos oferece uma lúcida interpretação do psicodelismo segundo Beatles que nos ajuda a melhor compreender o eco tardio da gravação de  Real Love em Ontology e sua profunda contemporâneidade:

“ Quão “normal” é o “estado normal de consciência”?

O àlbum de 1967, Sgt. Pepper’s Lonery Hearts Club Band, com suas técnicas experimentais de gravação, arte e letras psicodelicas, e com o famoso último verso ( “Eu adoraria fazer você dispertar...”) [ “I’d Love to turn you on...”] , foi a primeira inovação, e talvez ainda a mais espetacular, induzida pelas drogas, explicita e em larga escala, dos estados alterados de consciência Seja qual for a verdadeira história por trás da canção, as iniciais da segunda  faixa do álbum, “Lucy in the Sky with Diamonds” (LSD), foram entendidas como uma referência à droga por quase todas as pessoas que ouviram o álbum quando do seu lançamento. Um fato menos aparente foi o de que, antes deste álbum que se tornou um marco, de modo especial em Ruber Soul (1965) e Revolver (1966), a banda já começara a explorar estados de consciência  além do racional e normativo da percepção lúcida, que dominara por tanto tempo a maior parte da tradição filosófica, oriunda do pensamento de Descartes.
Dois desses estados- aqueles definidos pela memória emocional e o amor intenso-dominaram o primeiro dos dois álbuns, e permaneceriam como temas recorrentes por todo o período ativo dos rapazes enquanto membros da banda ( e mesmo depois, nas carreiras solo). O próprio título do álbum, Rubber Soul, como a deliberada foto distorcida da banda, sugere o tipo de extensão deformada da consciência, envolvida na tentativa de relembrar acontecimentos de um passado longínguo, ou de ver a outra pessoa “através dos olhos do amor”. De fato, filósofos existencialistas como Martin Heidegger (1889-1976) e Jean Paul Sartre ( 1905-1980), décadas  antes, haviam proposto que a consciência , em sua estrutura, “está fora” (uma tradução literal de “existe”), ou “transcende a si mesma” em direção a algo que não a si mesma, literalmente a abandonando o estado o estado privilegiado “normal”, autocontido e voltado para o presente, de Descartes. Os dois temas se entrelaçam naquela que é, provavelmente, a canção mais popular do álbum, “In My Life”, em que memórias de tempos e lugares  do passado são comparados a um amor presente, os dois temas se juntam para formar um cenário de familiar  de “ estados alterados alterados da consciência”, refletindo a distorção visual da capa do álbum.
O álbum seguinte, Revolver, vai muito mais além e na mesma direção. Aos estados de memória e amor são acrescidos o sono  ( “I’m Only Sleeping”) e um tipo de visão cósmica básica ( “Here, There, and EWverywhere”). Mas  a faixa mais notável, a ultima, “Tomorrow NeverKnows”, anuncia  o que aparecerá de maneira aberta no próximo álbum ( Sgt. Pepper). Embora quase não notado na época ela é, na verdade, baseada em um texto de A Experiência psicodélica, do Dr. Timothy Leary, e convida o ouvinte a desligar a mente, relaxar e seguir a corrente” [ “turn off your mind, relax and float downstream”]. Resumindo esse período da obra dos Beatles e prevendo o seguinte, a canção termina: “Então jogue o jogo ‘Existência’ até o fim, do começo, do começo” [ “So play the game ‘Existence’ to the end, Of the beginning, of the beginning”].
            ( EU ADORARIA FAZER VOCÊ DESPERTAR: OS BEATLES E A ÉTICA DOS ESTADOS DE CONSCIÊNCIA” by Jere O’Neill Surber in  Beatles e a Filosofia: Nada do que você pensa não pode ser pensado. Coletânea de Michael Baur e Steven Baur/ tradução de Marcos Malvezzi SP: Madras, 2007, p. 161-167 )  

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

BLUEWORD


Palavras azuis
Perdidas no ar pesado
De uma tarde
De monótona primavera
Procuram despir-se em frases
E significados,

Dizer ao dia
O roto de falecidas alegrias,
Escrever o vermelho de um riso
No  sinuoso corpo
Do tempo vivido...

domingo, 3 de outubro de 2010

NOTA SOBRE A PÓS SOCIEDADE


Separados por diversas zonas de distancias verbais, nos aproximamos compartilhando cotidianos, construindo ruídos de realidade, vestindo palavras como se nelas não se esgotasse o que dizemos, como se fossemos no rosto tudo o que compartilhamos. Mas diante um dos outros apenas nos irmanamos através da riqueza de nossos mais íntimos vazios.   Apenas eles nos levam a viver...

FILOSOFIA DO ESQUECIMENTO


Tento a todo instante
Exercitar a tímida arte
Do esquecimento,
Percorrer a memória
Pelo avesso
Através das ruínas
Do tempo vivido
Que  fere os olhos
De cada momento
Precocemente nascido...