terça-feira, 28 de abril de 2009

POEMA A VIRGINIA WOOLF


Inteiramente imóvel
Sob o estático do dia
Que desaparece
No passar das horas,
Quase me reconheço,
Quase percebo o tempo
Dentro de mim
Como biografia.

Mas tudo me escapa
Em um segundo de incertezas
No falso de realidades.

Na radical desconstrução de experiências
Em absolutos de linguagem
E concretismos do nada
Submerso,
Desapareço...
Como testemunho do Tempo
que vivo infimamente
como duvida...

INCERTEZA

Seguir em frente
A direita ou a esquerda;
Escolher,
Pura e simplesmente,
Sem o peso dos determinismos
Que o passado impõe,
É o desafio
Do meu ser futuro.

Sou mais o produto
De erros
Do que de acertos.

Sou sombra
De tudo aquilo que me corroe
Em incertezas de amanhãs possíveis
Em azul
sob inspirações de lua.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A CONTEMPORANEIDADE E O POSITIVO DO VAZIO

O tecido do que reconhecemos tradicionalmente por realidade vem se alterando significativamente através nas novas experiências e vivências proporcionadas pelas novas linguagens digitais. Inaugurou-se no domínio do humano uma nova perspectiva de vazio. Vazio confunde-se agora com a ausência de qualquer referencial seguro de totalidade e universalidade. Talvez, dentre muitas outras coisas, a contemporaneidade seja a constatação simples de que somos definidos por jogos entre a linguagem e o vazio... Mas é justamente isso que nos faz humanos e nos destina um lugar especial no reino animal...

sábado, 25 de abril de 2009

OLD HOUSE


O passado
É como uma ferida aberta
No doer de memórias
De muitos eus perdidos,
De lugares redefinidos,
Existências reconstruídas
No deslocamento de coexistências.

The house is silent...
I am alone;
I wonder where
Ends this darkness...
Only life hás a way out.

LITERATURA INGLESA XLIII



Rupert Brooke ( 1887- 1915), morreu com apenas 28 anos de idade em uma trágica batalha durante a I Grande Guerra. Não nos legou, portanto, uma obra passível de avaliação profunda das dimensões e possibilidades de seu talento. Não é, francamente, considerado um grande poeta pelo que produziu em seus breves anos de atividade. Basicamente, deixou-nos intimistas poemas de juventude onde insinua claramente sua opção homossexual, alguns bons versos como em The Old Vicarage, Grantchester e poemas de guerra que o tornaram imortal como testemunha e vitima da barbárie européia que destruiu e fez desaparecer muitos gênios europeus cuja potencial contribuição a cultura ocidental perdeu-se dramaticamente.
Além de Brooke, outros poetas britânicos morreram na guerra e merecem serem citados nesta pequena lembrança...

John McCrae (1872-1918)
Wilfred Owen (1893-1918)
Isaac Rosenberg (1890-1918)
Alan Seeger ( ?)
Edward Thomas (1878-1917)


The War Sonnets by Rupert Brooke


I. Peace


Now, God be thanked

Who has matched us with

His hour,

And caught our youth, and wakened us from sleeping,

With hand made sure, clear eye, and sharpened power,

To turn, as swimmers into cleanness leaping,

Glad from a world grown old and cold and weary,

Leave the sick hearts that honour could not move,

And half-men, and their dirty songs and dreary,

And all the little emptiness of love!
Oh! we, who have

known shame, we have found release there,

Where there's no ill, no grief, but sleep has mending,

Naught broken save this body, lost but breath;

Nothing to shake the

laughing heart's long peace there

But only agony, and that has ending;

And the worst friend and enemy is but

Death.


II. Safety


Dear! of all happy in the hour, most blest

He who has found our hid security,

Assured in the dark tides of the world at rest,

And heard our word,

"Who is so safe as we?"

We have found safety with all things undying,

The winds, and morning, tears of men and mirth,

The deep night, and birds singing, and clouds flying,

And sleep, and freedom, and the autumnal earth.

We have built a house that is not for

Time's throwing.

We have gained a peace unshaken by pain for ever.

War knows no power.

Safe shall be my going,

Secretly armed against all death's endeavour;

Safe though all safety's lost; safe where men fall;

And if these poor limbs die, safest of all.


III. The Dead


Blow out, you bugles, over the rich

Dead!There's none of these so lonely and poor of old,

But, dying, has made us rarer gifts than gold.

These laid the world away; poured out the red

Sweet wine of youth; gave up the years to be

Of work and joy, and that unhoped serene,

That men call age; and those who would have been,

Their sons, they gave, their immortality.
Blow, bugles, blow!

They brought us, for our dearth,

Holiness, lacked so long, and

Love, and Pain.

Honour has come back, as a king, to earth,

And paid his subjects with a royal wage;

And nobleness walks in our ways again;

And we have come into our heritage.


IV. The Dead


These hearts were woven of human joys and cares,

Washed marvellously with sorrow, swift to mirth.

The years had given them kindness.

Dawn was theirs,

And sunset, and the colours of the earth.

These had seen movement, and heard music; known

Slumber and waking; loved; gone proudly friended;

Felt the quick stir of wonder; sat alone;

Touched flowers and furs and cheeks.

All this is ended.
There are waters blown by changing winds to laughter

And lit by the rich skies, all day.

And after,Frost, with a gesture, stays the waves that dance

And wandering loveliness.

He leaves a white

Unbroken glory, a gathered radiance,

A width, a shining peace, under the night.


V. The Soldier


If I should die, think only this of me:

That there's some corner of a foreign field

That is for ever

England.

There shall beIn that rich earth a richer dust concealed;

A dust whom England bore, shaped, made aware,

Gave, once, her flowers to love, her ways to roam,

A body of England's, breathing

English air,

Washed by the rivers, blest by suns of home.
And think, this heart, all evil shed away,

A pulse in the eternal mind, no less

Gives somewhere back the thoughts by

England given;

Her sights and sounds; dreams happy as her day;

And laughter, learnt of friends; and gentleness,

In hearts at peace, under an

English heaven.

O SILÊNCIO DOS MARES


O mar dos argonautas
Já não existe.

Os oceanos já não dizem
Desafios, tragédias
Batalhas ou conquistas.

O mar agora
É apenas o mar
Desvendado em todos
Os mapas..
Em silêncio de tempestades,
Despido de mitos.

CRÔNICA RERÂMPAGO LII

Nada é mais desconcertante do que a experiência de um susto, de um tremer de momento e rotina em ocasional surpresa de inesperado. Tal experiência remete, afinal, a elementar incerteza da existência e ao fluxo não linear dos fatos cotidianos, ao incontrolável...
Através dela nos damos inesperadamente conta do quanto o destino é aleatório, o quanto, em nosso irrefletido agir cotidiano, somos meros joguetes a mercê dos caprichos e irracionalismos do absoluto caos que define a existência e o mundo...
Naturalmente, não há nada que possamos fazer sobre isso...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O REAL E O IMAGINADO

Ainda aguardo resposta
Dos desfeitos versos
De vento
Que me fizeram seguir
Em frente
Inventando universos
Em lágrimas de esperanças.

Mas creio,
Tão somente,
No imediato e efêmero
Das nuanças de pequenos prazeres,
Ocultos em rasgos de realidades
Pseudo sonhadas.

Acredito
nas imaginações do acaso...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

FANTASIA DELIRIO

Sinto falta
De um rosto
Em minhas palavras,
De uma certeza de beijo
Entre as ilusões da verdade.

Sinto falta de ser criança,
De um devaneio e crepúsculo
No alem do ego
Que me escapa.

Sinto falta de você
De quem nunca soube
No até agora da vida...

NIETZSCHE E FILOSOFIA DA LINGUAGEM


Sobre Verdade e Mentira no sentido extra moral ( 1873) é um dos mais instigantes textos já produzidos por Nietzsche. Neste, o autor aborda com peculiar maestria o clássico problema da verdade em sua relação com a fenomenologia do intelecto humano, descrito, entre outras formas, como um meio para a conservação do individuo, como um “disfarce” que estabelece a linguagem como mediadora da oposição entre “mentira” e “ verdade” no fazer-se do existir em sociedade ou “viver em rebanho”.
No prefácio para Humano, Demasiadamente Humano de 1886, Nietzsche refere-se a este texto como um escrito juvenil e de formação condicionado a um momento de crise ou niilismo absoluto no qual duvidara até mesmo de seu grande mestre Shopenhauer. Nada disso elimina a coerência do texto com o desdobrar posterior de sua filosofia.
O fato é que, naquele momento, para Nietzsche, a verdade não passava de uma invenção semântica não correspondente a qualquer hipotética realidade. Ela seria uma convenção estabelecida pela vida coletiva, pelo arbítrio da moral dominante. Por outro lado, quando o intelecto se liberta da escravidão dos conceitos e das convenções socialmente estabelecidas, transforma o homem através da intuição em um construtor de metáforas, desvela o domínio absoluto da arte sobre a vida no ininterrupto fluir da existência em sua pluralidade que jamais se cristaliza sob qualquer momentânea forma e conteúdo.
Creio que é nesse sentido que ele nos diz:

“ O que é uma palavra? A figuração de um estímulo nervoso em sons.Mas concluir do estímulo nervoso uma causa fora de nós já é o resultado de uma aplicação falsa e ilegítima do principio da razão. Como poderíamos nós, se somente a verdade fosse decisiva na gênese da linguagem, se somente o ponto de vista da certeza fosse decisivo nas designações, como poderíamos no entanto dizer: a pedra é dura: como se para nós esse “dura” fosse conhecido ainda de outro modo, e não somente como uma estimulação inteiramente subjetiva! Dividimos as coisas por gêneros, designamos a árvore como feminina, o vegetal como masculino: que transposições arbitrárias! A que distância voamos alem do cânone da certeza! Falamos de uma Schlange ( cobra): a designação não se refere a nada mais do que o enrodilhar-se, e portanto poderia também caber ao verme Que delimitações arbitrárias, que preferências unilaterais, ora por esta, ora por aquela propriedade das coisas! As diferentes línguas, colocadas lado a lado, mostram que nas palavras nunca importa a verdade, nunca uma expressão adequada: pois senão não haveria tantas línguas. A “coisa em si” (* tal seria justamente a verdade pura sem conseqüências)é, também para o formador da linguagem, inteiramente incaptável e nem sequer algo que vale a pena. Ele designa apenas as relações das coisas aos homens e toma em auxilio para exprimi-las as mais audaciosas metáforas. Um estimulo nervoso, primeiramente transposto em uma imagenm! Primeira metáfora. A imagem, por sua vez, modelada em um som! Segunda metáfora E a cada vez mais completa mudança de esfera, passagem para uma esfera inteiramente outra e nova. Pode-se pensar em um homem, que seja totalmente surdo e nunca tenhas tido uma sensação do som e da música: do mesmo modo que este, porventura, vê com espanto as figuras sonoras de Chladni desenhadas na areia, encontra suas causas na vibração das cordas e jurará agora que há de saber o que os homens denominam “som”, assim também acontece a todos nós com a linguagem. Acreditamos saber algo das coisas mesmas, se falamos de arvores, cores, neve e flores, e no entanto não possuímos nada mais do que metáforas das coisas, que de nenhum modo correspondem às entidades de origem. Assim como o som convertido em figura na areia, assim se comporta o enigmático X X da coisa em si, uma vez como estimulo nervoso, em seguida como imagem, enfim como som. Em todo caso, portanto, não é logicamente que ocorre a gênese da linguagem, e o material inteiro, no qual e com o qual mais tarde o homem da verdade, o pesquisador, o filósofo, trabalha e constrói, provém, se não der Cucolândia das Nuvens, em todo caso não da essência das coisas.”

Friedrich Wilhelm Nietzsche. Obras Incompletas- Vol.I /seleção de textos de Gerard Lebrun; tradução e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho; 5 ed. SP: Nova Cultural, 1991. ( Os Pensadores); p. 33-34)