sexta-feira, 17 de agosto de 2018

ESTRATÉGIAS DE SUBJETIVAÇÃO



O campo concreto da liberdade de ação define-se dentro de uma dada configuração cultural. Cada sociedade contem dispositivos de construção de subjetividade, pontos de interseção entre o cultivo da singularidade e a produção do universal.

O processo de subjetivação, ou individuação, move-se na fronteira entre o eu e os outros. A instabilidade lhe define sempre em rearranjos constantes. Não se trata de buscar uma meta, um ideal ontológico. Trata-se, ao contrário, de uma busca do atual, de um confronto sempre renovado com o tempo do agora, com o efêmero, através do qual fazemos sempre recuar de novo nossos próprios limites.  

MORAL X ÉTICA




O problema moral tem se confundido com a definição de valores e códigos de pensamento e conduta, com aquilo que podemos e não podemos fazer ou pensar em um determinado campo de relações sociais.

A moral é aquilo que nos faz distinguir o certo do errado conforme aquilo que parece justo a uma maioria dominante. Neste sentido é antes de tudo uma modalidade de conformismo. A ética, ao contrário, é tudo aquilo que tomamos como justo na interseção da norma coletiva e da critica individual. Ela nos conduz a autonomia, ao cultivo de nós mesmos como lugar de construção de pratica sociais  relativamente autônomas ou produzidas a partir de nossa experiência e não pela assimilação acrítica dos imperativos coletivistas. A ética é essencialmente empírica e dinâmica contra as inercias dos preceitos morais.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

PENSAR RIZOMA



“Escrever a n, n-1, escrever por intermédio de slogans: faça rizoma e não raiz, nunca plante! Não semeie, pique! Não seja uno nem múltiplo, seja multiplicidades! Faça linha e nunca ponto! A velocidade transforma o ponto em linha! Seja rápido mesmo parado! Linha de chance, jogo de cintura, linha de fuga. Nunca suscite um General em você! Nunca ideias justas, justo uma ideia (Godard). Tenha ideias curtas. Faça mapas, nunca fotos nem desenhos.”
Deleuze & Guattari in Mil Platôs

RIZOMA
O acontecer entre as coisas se faz como experimentação.
Nada de representações...
Nada de significantes e significados.
Apenas linguagem, movimento, imagem.
Vida em multiplicidade.
Processo sem direção.
Mutação....


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

A EMOÇÃO DE NOSSAS CONVICÇÕES



Considero o conceito de complexos afetivos autônomos desenvolvido por Jung, a partir dos testes de associação de palavras, realizados de forma experimental no inicio de sua carreira psiquiátrica,  uma das contribuições mais relevantes da chamada psicologia analítica para cartografia da psique. Afinal, quem pode negar que os deuses tornaram-se doenças? Quem pode evitar o espinhoso tema das interseções destas afetividades personificadas nas nossas opções e práticas mais cotidianas? Conteúdos constelados nos invadem como uma possessão. Não somos senhores do que sentimos, do que pensamos e, muito menos, somos o que somos. Afinal estamos falando sobre entidades psíquicas que gravitam em torno da consciência, mas inexistem atuando como uma espécie de extra ser. Jung nos possibilita dizer, na contramão do iluminismo, que as ideias pensam através de nossas emoções.    

terça-feira, 14 de agosto de 2018

TEMPO E MEMÓRIA

O cultivo de nossas lembranças nos definem no tempo virtual de nossa consciência, orienta nossa existência no sentido de identidades. Mas a verdade é que não passa de uma didática de perdas e transformações que nos lança ao desabrigo de nossa singularidade. Onde sei quem sou má defino mundo, alheio a mim mesmo é passageiro de pessoas e lugares que desenham acontecimentos. Mas não há substância no acontecer das coisas.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

A VIDA É ARTE


DIFERENÇA E CONTEMPORÂNEIDADE



“No ser, a profundidade e a intensidade são o Mesmo - mas o mesmo que se diz diferença. A profundidade é intenidade do ser ou inversamente. E dessa profundidade intensiva, desse spatium, saem ao mesmo tempo, a extensia e o extensum, a qualitas e o quale.”
Guilles Deleuze in Diferença e Repetição

O que é a diferença? Seguindo os passos de Deleuze podemos responder de forma complexa a esta questão falsamente simples partindo da premissa de que ela é o oposto da identidade. Como disse Nietzsche  em Verdade e mentira do ponto de vista extra moral, “Nunca uma folha é inteiramente igual a outra.” Contrariando o mundo verdade da identidade da razão representativa, o ser é  diferença e multiplicidade. Este é o afeto que nos transforma através de novos agenciamentos e maquinações de um pensamento nômade, que foge ao jogo dos significantes e dops significados.

Percebemos que somos em multiplicidades, que no além do saber verdade das praticas discursivas tradicionais, nos confrontam com a univocidade do acontecimento dos seres. Somos, assim, cada um de nós, o lugar do não lugar que percorre todas as coisas, inventando-se como singularidade entre diferenças e repetições.

É a diferença e não a identidade que nos define em um mundo cada vez mais descentrado. Ela nos lança, através do pensamento, no abismo indiferenciado das singularidades impessoais, onde não existem sujeitos a priori. O ser é, em poucas palavras, um produto do caos. A diferença é basicamente simulacro que nos situa em um espaço descodificado, liso, que nos conecta a exterioridade de nós mesmos através das coisas, onde somos meros estetas de nossas próprias vidas.

Parafraseando Deleuze em Logica do Sentido, imersos na dupla direção do mundo, vivemos o paradoxo daquilo que destrói o bom senso como sentido único, mas, em seguida, o que destrói o senso comum como designação das identidades fixas em um devir sempre inacabado.  

O mundo contemporâneo é o mundo dos simulacros onde as identidades são simplesmente simuladas subvertendo seus próprios modelos. Pensando em Platão, cabe dizer que a diferença começa a sair de sua caverna e deixa de ser um monstro.





quinta-feira, 9 de agosto de 2018

IGNORÂNCIA


A EXPERIÊNCIA DO MUNDO

A distinção entre o sensível e o inteligível é um equívoco da razão representativa, do falso jogo do Ser e do devir. A experiência da existência é diluir-se entre  coisas e processos múltiplos e simultâneos,  em micro e macro processos e experiências de ver e dizer. Mas é através do nada de nossas praticas discursivas que toda a realidade é inventada como consciência e significado, como o acontecer de um sentido que nos consome e ultrapassa. Cada um de nós é incapaz de dar conta da experiência do mundo, das diversas manifestações do nada que preenche de existência tudo que se faz possível como realidade vívida.