A personagem de Lancelot é, depois de merlin, a mais complexa e enigmática do mito arthuriano, personificando dramática e radicalmente o ideário do amor cortês contra os códigos masculinos e partriacais do imaginário medieval.
Foi entre os anos de 1177 e 1180 que Crétien de Troyes compôs Lê chevalier de la charrette, romance que introduziu a personagem na literatura ocidental, já configurado, por um lado como símbolo e representação de cavalaria e distinção e, por outro, de infâmia e degradação.
Lancelot é a personificação mais radical do mito do cavaleiro errante. Seja através do absoluto alheamento de mundo e de si mesmo, entre o fantástico do maravilhoso, do “alem mundo” celta (domínio do sagrado), e o espaço social da tavola redonda (domínio do profano). Instancias que, quase sempre, encontram-se em tensão nas versões cristianizadas da lenda.
Sua marca é a melancolia, o desespero de quem desafia seu próprio tempo na afirmação da ética do amor cortes contra a moral cristã e a cultura partriacal da Idade Media. Genebra, afinal, é para ele mais importante que o grall, personificando o mito do eterno feminino e os imperativos do desejo e do irracional contra todo obscurantismo da fé e da idéia de verdade....