terça-feira, 31 de março de 2009

SOLITUDE


Sou apenas
Este corpo
Que me define
No tempo e no espaço,
Este irrelevante ponto
De nada
Perdido na imensidão
Do universo.

Despido de significados,
Vivo apenas de fatos,
E atos de pensamento.

Vivo como as pedras
De uma estrada antiga
Perdida no silêncio
De uma erma floresta.

segunda-feira, 30 de março de 2009

MUDANÇA E CONTEMPORÂNEIDADE


Pode-se dizer que a contemporaneidade, em suas linguagens digitais e artefatos tecnológicos, nos submete a uma permanente tensão informacional, a uma gigantesca pluralidade de possibilidades de imagens e possibilidades cognitivas que somos como nunca antes deslocados de nossas convencionais identidades e referências de real.
De fato o horizonte ontológico das possibilidades humanas e trans-humanas do hibrido real que se esboça na virtualidade de nossos artefatos tecnológicos introduz um padrão novo na cultura ocidental, em nossas sensibilidades e configurações culturais. Algo que nos induz a intuir um novo tipo de presença no mundo que, a longo prazo, pode transformar de um modo inédito nossas carcumidas referências de sociedade e civilização introduzindo uma transmutação absoluta de todos os valores. Faça isso algum sentido ou não, o fato é que vivemos tempos confusos e estimulantes onde o real reconfigura-se mais rápido que o tempo e qualquer vislumbre de futuro se faz em poucos anos um esboço tosco de virtuais passados. O mundo vivido nunca foi tão descartável...

domingo, 29 de março de 2009

ESPECULAÇÕES SOBRE A LINGUAGEM ESCRITA II

Há algo de profundamente subversivo no exercício de um texto, no dizer intimo do real em palavras e jogos de imagens e pensamentos que estabelecem enunciados. Pois escrever é, ao contrário do falar, um exercício de silêncio, um alheamento onde a palavra materializada em narrativas reinventa a própria linguagem em paradoxal exercício de consciência, de irracional abstração do entrelaçamento das palavras pelo fio do significado que inventam o próprio mundo...

ESPECULAÇÕES SOBRE A LINGUAGEM ESCRITA

Ao contrário da voz, a palavra escrita transcende o tempo através da magia do pensamento.Na cultura contemporânea, porém, pode-se dizer que ela transcendeu sua dimensão semântica convertendo-se em uma verdadeira entidade, um não lugar de imagens e significados metalingüístico que, no complexo universo da propaganda sobreposto ao espaço de grandes centros urbanos como New York, parece realizar uma autonomia da letra, do signo, sobre a gramática. Talvez este seja um indicio do quanto todo significado e codificação do real tornou-se virtual, um jogo de consciência ou simulacro.

sábado, 28 de março de 2009

EXPANSÃO

Olho para fora,
Seja de mim,
Do mundo
Ou de tudo
Que se faz pensamento.

Olho para fora,
E quase não vejo nada.

Mas olho para fora...
Despindo-me
De todos os destinos,
Certezas e possibilidades
inventadas de mim mesmo.

sexta-feira, 27 de março de 2009

POEMA PÓS HAMLET


Fiz-me abandonar
No mundo
Provando desertos
Em direções de sóis
Em crepúsculos
E serenidade de luz.

Escavei meu rosto
No chão cotidiano
Até encontrar a caveira
De minhas verdades
E escrever no céu
Um grito liberdade.

RADIOHEAD IN RIO


No ultimo 20 de março, uma sexta feira, tive o privilegio de quebrar radicalmente a rotina e vivenciar uma apresentação da banda britânica de rock alternativo Radiohead no espaço da Praça da Apoteose no Rio de Janeiro.
Como fã incondicional da banda, devo dizer antes de tudo que não se trata apenas neste caso de participar como platéia de um espetáculo de rock and roll. Um show do Radiohead é, com certeza, mais do que isso quando se é intimo de sua singular musicalidade. Trata-se de uma experiência anímica, um momento de deslumbramento ou iluminação profana de múltiplas faces e conteúdos.
No cenário da musica popular contemporânea o Radiohead ocupa um lugar impar. Nenhuma banda possui uma sonoridade tão complexa e um universo de letras tão denso.
Parte da turnê do ultimo álbum In Rainbows, de 2007, lançado inicialmente exclusivamente na internet de modo muito original, embora não seja seu melhor álbum, o que significa apenas dizer que não supera o ontológico OK Computer, é certamente o mais complexo em simbologias e alegorias. O titulo remete ao fluir do humor da banda, as suas várias faces e fases, articuladas como as sete cores do arco-iris. O jogo de luzes que define a linguagem visual do show procura comunicar justamente isso.
Bom, não pretendo aqui definitivamente uma crônica ou impressão pessoal da ocasião da apresentação da banda in Rio, mas relembrá-la, eternizá-la em palavras que, no fundo, não significam nada comparadas a experiência de escutar ao vivo clássicos como No surprises, Paranoid Android, Karma Police e experiências mágicas como The National Anthem e avadir-se do cotidiano através da magia da musica...
Caso tivesse que escolher uma banda de rock que traduzisse em musica nosso sentimento contemporâneo de mundo, de deslocamentos e incertezas identidários, ela seria sem nenhuma duvida o Radiohead de Thom Yorke (vocais, guitarra, piano), Jonny Greenwood (guitarra), Ed O'Brien (guitarra), Colin Greenwood (baixo, sintetizador) e Phil Selway (bateria, percussão).

THE REAL WORLD


Esqueça todas
As palavras ditas
Em seu fazer-se
Cotidiano,
Suas roupas,
Seu rosto e forma.
Concentre-se no silêncio...
It’s the real world.

Jogue ao vento
Os falsos e verdadeiros
Problemas,
Medos e incertezas
De dia seguinte
Até provar o vazio
Do tempo.

It’s the real world
In rites of passage...

What’s the weather like?

O QUASE NADA DE CADA DIA...


O dia seguinte corre ao meu encontro como um estranho a oferecer um abraço frio e formal. O tempo, enquanto isso, oferta possibilidades de riscos, futuros, esperanças ingênuas e leves dissociações de personalidade nos acasos e sonhos que nunca socam realidades. Sei que perdi em alguma parte do jogo entre o eu e o mundo, o rumo do meu destino, o quase saber do meu futuro aberto em possibilidades, erros, a caminho de um nada essencialmente natural.

segunda-feira, 23 de março de 2009

LANCELOT: ESPECULAÇÔES SOBRE O MITO.

A personagem de Lancelot é, depois de merlin, a mais complexa e enigmática do mito arthuriano, personificando dramática e radicalmente o ideário do amor cortês contra os códigos masculinos e partriacais do imaginário medieval.

Foi entre os anos de 1177 e 1180 que Crétien de Troyes compôs Lê chevalier de la charrette, romance que introduziu a personagem na literatura ocidental, já configurado, por um lado como símbolo e representação de cavalaria e distinção e, por outro, de infâmia e degradação.

Lancelot é a personificação mais radical do mito do cavaleiro errante. Seja através do absoluto alheamento de mundo e de si mesmo, entre o fantástico do maravilhoso, do “alem mundo” celta (domínio do sagrado), e o espaço social da tavola redonda (domínio do profano). Instancias que, quase sempre, encontram-se em tensão nas versões cristianizadas da lenda.

Sua marca é a melancolia, o desespero de quem desafia seu próprio tempo na afirmação da ética do amor cortes contra a moral cristã e a cultura partriacal da Idade Media. Genebra, afinal, é para ele mais importante que o grall, personificando o mito do eterno feminino e os imperativos do desejo e do irracional contra todo obscurantismo da fé e da idéia de verdade....