quinta-feira, 29 de abril de 2010

SOBRE A ILHA DOS CONDENADOS by STIG DAGERMAN



 Segundo romance do escritor sueco Stig Dagerman ( 1923-1954)  A Ilha Condenada é quase um pesadelo vivido por sete naufragos isolados em uma ilha deserta a espera da morte... Em cada  capitulo  nos é apresentado o perfil psicológico de cada um através de  uma narrativa recheada de simbolismos, devaneios e  ansiedades que nos conduzem aos abismos da condição humana...


"Simbolicamente apenas? Mas não será tudo simbólico? Não o são as nossas realizações, ainda que nos batamos num mundo feito de milhões de relações humanas e com milhões de destinos entre os nossos dedos? As nossas realizações não serão, mesmo nos melhores momentos, tão lamentáveis que o combate que travámos por elas perderia todo o valor se lhes não déssemos uma importância simbólica, uma importância de combate enquanto combate? Que escassos resultados práticos! Seríamos capazes de fazer fosse o que fosse, a menor acção, se tratássemos os símbolos como realidades práticas?
(...)



Viver era como correr em círculo num grande labirinto, esse género de labirinto para crianças que se vê em certos parques de jogos modernos; em cima de uma pedra no meio do labirinto há uma pedra brilhante; os míudos chegam com as faces coradas, cheios de uma fé inabalável na honestidade do labirinto e começam a correr com a certeza de alcançarem dentro de pouco tempo o seu alvo. Corremos, corremos, e a vida passa, mas continuaremos a correr na convicção de que o mundo acabará por se mostrar generoso para quem correr sem desãnimo, e quando por fim descobrimos que o labirinto só aparentemente tende para o ponto central, é tarde demais - de facto, o construtor do labirinto esmerou-se a desenhar várias pistas diferentes, das quais só uma conduz à pérola, de modo que é o acaso cego e não a justiça lúcida o que determina a sorte dos que correm.



Descobrimos que gastámos todas as nossas forças a realizar um trabalho perfeitamente inútil, mas é muito tarde já para recuarmos. Por isso não é de espantar que os mais lúcidos saiam da pista e suprimam algumas voltas inúteis para atingirem o centro cortando caminho. Se dissermos que se trata de uma acção imoral e maldosa, não devemos esquecer que a imoralidade de um homem não poderá, nunca por nunca ser, competir com o malefício da ordem do mundo cujas engrenagens bem oleadas funcionam sempre na perfeição. Temos, por um lado, um desespero que se incendeia rapidamente assumindo formas cada vez menos equilibradas e, por outro lado, uma consciente imoralidade de reflexos metálicos e glaciais, orgulhosa do seu gelo e do seu fulgor.

(...)

Uma vez que estamos sós no mundo, ou pelo menos não tão sós como gostaríamos de estar, temos o dever de dominar as nossas explosões, de fazer com que as explosões inevitáveis da nossa maldade ou da nossa bondade paradoxais vão aproximativamente no sentido do fim aproximativo. Quanto ao fim, talvez não seja lá muito importante determiná-lo com a precisão sádica que encontramos no sistema do mundo e no destino quando ambos se associam para determinar a posição do homem no espaço e no tempo.
Devemos evidentemente batermo-nos contra os dois, e como o mais importante é manter a direcção justa do fim talvez errado, é-nos necessário aguçar a nossa lucidez a fim de a tornarmos cortante como uma lâmina, acerada como uma seta, percuciente como uma punção. É graças a essa lucidez que funciona a nossa consciência, que não passa afinal de uma transcrição idílica do nosso medo, porque o medo lembra-nos infatigavelmente a direcção justa, e se sufocarmos o nosso medo, perderemos a possibilidade de nos orientarmos numa direcção determinada e daremos aqui e ali lugar a uma série de estúpidas explosões privadas, causando os piores estragos para um mínimo de resultados. É por isso que devemos conservar dentro de nós o nosso medo como um porto sempre livre de gelos que nos ajude a passar o Inverno, e também como uma corrente submarina vibrando por baixo da superfície gelada dos rios."

Stig Dagerman in A ILHA DOS CODENADOS





segunda-feira, 26 de abril de 2010

ESPELHO


Indiferente



O correr do tempo


Adivinha destinos


No acontecer de eus...


Mas vejo apenas


Personas, roupas


E poucas palavras


Aleatoriamente espalhadas


Entre mecânicos atos


De noite e dia.


Pois sei


Que minha existência


Se faz realidade


Ou verdade


Dentro dos olhos alheios...



domingo, 25 de abril de 2010

Renaissance - Carpet of the Sun

In A Gadda Da Vida - Iron Buttefly I

BIOGRAFIA E INDIVIDUALIDADE

Cada individuo é a inexata soma de suas experiências vividas articuladas como memória e significado. Isso o distingue de seus pares na exatra medida em que lhe transforma em paradoxal dialogo entre um eu e um outro de si mesmo mediado pela linguagem... Neste contexto, a memória apenas define o locus através do qual produzimos discursos sobre o mundo e quem somos na invenção constante das realidades vividas...


sexta-feira, 23 de abril de 2010

Radiohead - No Surprises

DAY AND LIFE


Atos decoram o dia



Parcialmente vivido


No absurdo de rotinas;


Atos mecânicos,


Quase automáticos,


Nos quais não reconheço


Ou percebo


Qualquer biográfica marca,


Qualquer alegria ou ludico


De mero sentimento de vida...






Existo no virtual de imaginações


Em oniricos devaneios e evasões


Contra o absoluto das significações


E coletivas verdades diarias...







MICRO UNIVERSO

Tento pensar um sorriso



Dentro do pensamento


Que obtuso


Se transforma em ato e vento...






Pois gosto


De imaginar sentimentos


Dentro de cada objeto


Que povoa a vida


Como muda paisagem


De abstrato quadro.






Me enervo no olhar que toca


Cada canto do finito


Em complexo cenário..

segunda-feira, 19 de abril de 2010

META INFÂNCIA




Em algum canto

De paz e sonho,

Perdido entre madrugadas

E imaginações,

me reinvento em um sonho bom.





A criança que fui um dia

Envia mensagens do além,

tem nostalgia de futuros

que ficaram esquecidos

na velha caixa de brinquedos.