sábado, 12 de janeiro de 2019

A PATOLOGIA DA VERDADE

Ao longo de séculos a busca pela verdade e a razão se cristalizou no ocidente como a arche (princípio) do conhecimento. Está meta física da norma racional nos impôs o pensar através de modelos, de valores, através da recusa do mundo como imanência e diversidade.  A razão se tornou sinônimo de controle gramatical da vida, uma aposta ingênua contra o caos. A unilateralidade da cultura ocidental é sua maior patologia. Somos socialmente incapazes de lidar com a vida como um acúmulo descontínuo de mudanças espontâneas.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

SABERES E PRISÕES


Saberes são como prisões. Nos fazem ver, fazer e dizer, segundo significados que inventam mundos, que estabelecem a normas e o erros. Dentro dos seus limites existe apenas o possível, o exprimível. Tudo é previsível e classificável. Nada pode escapar. Mesmo que os saberes não comunguem dos mesmos códigos, que se contradigam, sempre  impõem uns aos outros o mesmo valor de verdade, a mesma consensual mentira que sustenta o brilho do exercício da linguagem.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

O QUE NÃO PODE SER DITO


A palavra porta uma urgência, uma vontade,
De dizer a vida em toda sua intensidade.

Ela tem gosto de impossível,
Guarda signos de sonhos perdidos.
Quase comunica...
                                        
Mas insiste sempre de novo.
É sempre outra....

Algo sempre está por ser dito,
Algo que sempre se cala,
que não encontra motivos,
e sempre retorna.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

DO EU E DO MUNDO


O mundo, esta vastidão que se inscreve no diverso,
Contem em segredo todas as possibilidades de mim.
Mas não reconhece este que sou,
Pois me sabe outros no tempo e no espaço.

Confesso: tenho medo do mundo.
Sei que sua imprevisibilidade será um dia minha ruína.
Por outro lado, não existe distancia que me permita fugir dele.
O mundo sempre está onde sou.


terça-feira, 8 de janeiro de 2019

O VALOR DA VIDA

Nas sociedades contemporâneas é cada vez mais difícil para o indivíduo reconhecer-se como sujeito da sua existência e não como o joguete de forças impessoais ou determinações exteriores a ele mesmo é totalmente fora do seu controle. 


Afinal, o que pode para nós ainda tornar a vida um valor, um ato criativo? É no plano afetivo e do relacionamento com o outro que , mesmo com ceticismo, ainda buscamos algum vislumbre de autenticidade, de uma beleza de viver.

Mas não é suficiente. Nem para nós, nem para os outros. O que nos transforma ainda não tem nome.... É um apagar-se nas coisas vividas, uma compreensão sublime e estética de nossas experiências e ambientação em um dado tempo e espaço.

A descoberta e construção de um território existencial, comunicacional, onde o eu e o outro inventem o diverso, talvez seja nosso maior desafio no tempo presente.

LABIRINTO E VERTIGEM NA CONTEMPORÂNEIDADE



Na mitologia grega o labirinto de Creta construído por Dédalo pala alojar o lendário Minotauro parece ter estabelecido para nós o conceito de uma estrutura física formatada por desenhos de encaixes desordenados, seja voltados para um centro ou para varias saídas.  Mas o aspecto que quero ressaltar é que a imagem de labirinto esta mais  associada a uma experiência espaço sensorial de vertigem e desorientação do que propriamente a uma edificação prisional. Podemos vincula-la a experiência do vagar sem rumo, tema que é muito mais amplo. Desta forma, o gosto pela experiência labiríntica é presente tanto na arte quanto na narrativa mítico religiosa de iniciação para caracterizar imagens mentais onde o indivíduo é confrontado com algum tipo de estado de busca e desorientação. Por tal característica a experiência de labirinto é sempre solitária.

Embora vinculado tradicionalmente a busca por alguma experiência de verdade, o fato é que podemos hoje vincular a imagem do labirinto a uma fuga da própria verdade. Tal imagem pode representar no mundo contemporâneo a recusa das segmentações e coletivismos que nos definem a vida comum. Ela pode dizer a condição dos loucos e desajustados, convertendo-se em um símbolo de contra cultura.

   

NOTA SOBRE A DECADÊNCIA DA ARTE DA FOTOGRAFIA


A fotografia pode ser considerada a mais descartável de todas as artes. A banalização do olhar mecânico, a facilidade do registro digital, apagou qualquer vestígio de dignidade desta arte relativamente recente e típica do século XX.

Interpretar a realidade e inventar a vida através de  registros fotográficos tornou-se uma prática tão massificada, algo tão banal no nosso cotidiano, que nosso olhar foi demasiadamente poluído pela imagem como simulacro. As fotografias tornaram-se apenas poemas ruins e impublicáveis.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

SOBRE PENSAR

Produzir pensamento é criar subjetividade. É um acontecimento coletivo,múltiplo, que tem o ritmo variado de uma canção. 

Pensar é também sentir, é natureza. É estar presente na paisagem que para nós se reduz a experiência de mundo.
O que somos nós além disso?

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

CONTRA A LITERATURA

Não estamos em busca de respostas, de certezas novas e conformismos gramaticais. 

Buscamos no nada do ser da  linguagem o povoado vazio de nossas imaginações.

Não é o dizer que nos liberta, mas a geografia virgem que ele revela na alienação das palavras.

Estamos em busca de novas perguntas contra todas as nossas certezas. Isso é o que foi a literatura. Isto é o que se tornou a anti literatura.... e tem gosto de Blanchot e Foucault....

O DIZER COMO NÃO SER


Meu discurso não busca santidade,
Não é o testemunho de um mundo verdade,
Nem mesmo intenciona o ilusório prazer
De qualquer dizer perfeito,
exemplo de sanidade.

Ultrapasso em cada palavra
A chancela do bem e do mal,
Do certo e do errado.

Eu digo!
E quantas alternativas,
Curvas, buracos e desvios
Existem neste pequeno dizer!

Que nada seja inequívoco.
Que tudo seja a decomposição do eu,
Esta fantasia do pensamento e dos sentidos.