quinta-feira, 27 de setembro de 2018

O DENTRO E O FORA DA CONSCIÊNCIA


A consciência não é algo que se possui. Ela nos acontece como um dentro que é fora e um fora que é dentro.

Ela acontece no corpo dentro de um ambiente. Ela é o saber de um lado de fora onde nos tornamos de um lado de dentro um outro entre os outros.

A consciência é uma forma de despersonalização. É um equivoco associa-la a um eu como se fosse uma “coisa”. Ela é um processo que produz o mundo, que permite a invenção de uma espécie de geografia existencial que se materializa em nossos atos linguísticos.

A consciência é um acontecimento coletivo. Minha consciência pressupõe e acontece através da consciência dos outros.  

terça-feira, 25 de setembro de 2018

SOBRE DESEJO E VONTADE



Desejo é essencialmente querer, enquanto a vontade é um movimento concreto em direção a este querer.  Não há, portanto, oposição entre desejo e vontade, mas uma complementação.

Pode-se dizer também que o desejo é algo que nos atravessa, ele é paixão e fantasia e possui autonomia em relação a nossa consciência. Já a vontade pressupõe intencionalidade e estratégias.

De modo bastante sintético, diria que o desejo é a experiência que antecede o ato da vontade. Tais categorias remetem ao sujeito como máscara e função de uma consciência que deliberadamente busca o prazer, já que se define em função de um corpo que sente que precisa de um exterior para manter a si mesmo.


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

EM TORNO DE ALÉM DO BEM E DO MAL: UM PRELUDIO A UMA FILOSOFIA FUTURA




Publicado originalmente em 1886, em uma pequena edição bancada pelo próprio autor, Além do Bem e do Mal, cujo  subtítulo é Preludio a uma Filosofia Futura,  ocupa lugar de destaque na obra de Nietzsche. Pode mesmo ser considerada a mais perfeita síntese de suas formulações maduras.

Antes de tudo, trata-se de um livro anti-moderno em suas criticas ao historicismo, a democracia parlamentar, a objetividade científica e a ideologia do progresso, temas tão em voga entre os eruditos oitocentistas. Conforme informa o  prefácio de 1885, o livro é dedicado a critica ao dogmatismo que remonta a doutrina Vendana na Asia e ao Platonismo na Europa,  atravessando os séculos  em variações sobre o mesmo tema, como um sono insano que coloca aos contemporâneos o desafio da vigília.

Como Nietzsche coloca no aforismo 199 do capítulo V: A História Natural da Moral, desde que existem homens existem rebanhos, estabelecendo a obediência como um componente inato ao comportamento social, como um verdadeiro instinto gregário.

Por isso a persona do filosofo é visto por ele como a má consciência de seu tempo, um homem do amanhã e do depois do amanhã. Sua grandeza reside em poder ser múltiplo e inteiro, vasto e pleno em sua solidão. O filosofo represente a vontade de potência, a terra por vir, ou uma outra Europa, sendo fiel as expectativas do autor.   

O DIZER DO INDIZÍVEL

Tenho buscado uma linguagem selvagem  onde a expressão transcende a descrição. Onde o sentido é produto de um desencontro entre significante e o significado e o próprio dizer é vazio. 

Procuro escutar os muros onde todos os ouvidos são surdos. Sonho com o dia onde nenhum discurso possa ser reduzido à informação.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

LIBERDADE LINGUÍSTICA


Sou menor do que o roto do meu discurso torto.
Mas não pretendo a ilusão de obter nomeada,
De ser um sobrenome.
O dito sempre contraria o vivido
E se perde em interpretações.
Não quero ser o predicado de mim mesmo,
Não me fazer escravo de qualquer discurso.


quarta-feira, 19 de setembro de 2018

INDETERMINAÇÃO ONTOLÓGICA




Não sou aquele que fala,
Aquele que sente,
Deseja ou pensa.
Não sou aquele que habita um eu
Muito menos sou este eu,
Que foge,
Que busca,
Que quase acontece,
Que quase enlouquece.
Sou uma multiplicidade de coisas diversas
Conjuntadas em um corpo orgânico.
Não há consciência do que sou
Que não seja ilusão de mim.


sexta-feira, 14 de setembro de 2018

IMPESSOALIDADE

"Se treinamos nossa consciência, ela beija enquanto nos morde."
F. Nietzsche in Além do bem e do mal


Nossa singularidade ontológica pressupõe em si todo o devir de nossa condição humana. É perpassada pela experiência do mundo vívido como consciência e ato.

A densidade e intensidade de nossos afetos mais genuínos nos consome através de uma vontade criadora e impessoal que é a própria vida.


Somos através da indeterminação do intempestivo que prova o tempo povoando espaços. Em tudo somos a incerteza de nosso próprio movimento como autores e intérpretes de nós mesmos. Talvez seja o mundo que exista através de nós e não nós que existimos através dele.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

SEREMOS SEMPRE CRIANÇAS

A infância é a experiência dos afetos e da consciência como atos de imaginação e vivências. Ela define todas as idades do corpo.

No fundo  não passamos de crianças deformadas pelo peso do tempo. Envelhecemos reinventado infâncias no lúdico encanto da vida configurado pela experiência de nossas emoções, das intensidades do sentir como forma de pensamento não representativo ou, simplesmente, expressão de encantos e encontros que nos definem os anos.