sexta-feira, 4 de agosto de 2017

DERROTAR O FACISMO QUE NOS HABITA...

O gosto pela norma, pela verdade e a mania de julgar, fundamentam a gramatica do Facismo....

O QUE NÃO PODE SER DITO

A palavra escapa ao dizer.
Nada que vivo
É digno de um enunciado,
Não pode ser comunicado.
Nem mesmo vale a experiência
De tentar expressar o que não pode ser dito.
Melhor ficar aqui,
Mudo , provisório,
E mergulhado no mundo
Como se este momento

Fosse único.

O DIZER SELVAGEM




O dizer  selvagem e náufrago, livre de qualquer jogo conceitual, transforma a vida em um ato selvagem de expressão.
 
Através dele, o mundo das palavras não coincide com o mundo da literatura, mas o ultrapassa na capacidade de dizer o  impossível.  A imaginação convertida em ato cotidiano e gramatical, não comunica, mas nos inventa coisas.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

O DETERMINISMO DA SIGNIFICAÇÃO

Dar sentido as suas próprias escolhas individuais não é um testemunho de livre arbítrio. Afinal, tais escolhas estão condicionadas a formatações coletivas e impessoais da existência. Nos tornamos, assim, prisioneiros de nossas próprias significações e não propriamente seus autores. Não exercemos real controle sobre a atração  que este, e não aquele, enunciado exerce sobre nós.

Nossas escolhas são apenas opções pré definidas através das quais nos adequamos por uma dada representação impessoal da realidade.



SUBJETIVIDADE OBJETIVA

A subjetividade é um exercício impessoal e coletivo. Não passa de uma premissa de determinadas estratégias discursivas e significação de mundo.

Não acontecemos naquilo que dizemos, mas aquilo que dizemos define como narrativa a realidade.

Um relato individual sobre o testemunho de determinado acontecimento é sempre seletivo e parcial. Mas isso não o torna “pessoal”, pois suas premissas são coletivas. Trata-se de um esforço de comunicação, de um movimento para o exterior, ou para o outro receptor do relato. Ele é feito em função de alguém e personifica uma tentativa de “objetivização” do fato.

O sujeito inventa o objeto para poder ser sujeito. Tal arbitrariedade faz parte do modo como nos comunicamos uns com os outros. Onde “eu” estou naquilo que digo, não é uma pergunta válida.


segunda-feira, 24 de julho de 2017

LITERATURA E RUPTURA

O cânone de autores e livros consagrados cria e alimentam leitores. Constituem um campo de referências de formatações simbólicas que estabelecem as  questões e temas de um imaginário erudito. Há também um componente de censura. Pois a legitimação de qualquer discurso deve necessariamente pressupor tais referências. A autoridade dos autores clássicos estabelece um horizonte cujos limites não é ultrapassado, mas a partir do qual tudo deve ser concebido.


Mas é a transgressão e a ruptura que nos conduz ao selvagem espaço do agora que, por vocação, é consagrado ao inédito, ao ensaio e ao experimentalismo. É onde toda a tradição é sempre desafiada. Hoje em dia, talvez, de um modo como nunca anteriormente concebido, pois é o próprio proposito e sentido de toda narrativa que deve ser questionado. 

sexta-feira, 21 de julho de 2017

A PERENIDADE DOS LIVROS



Os livros envelhecem nas estantes.

Neles escrevo meu anonimato
Perdido  em labirintos de enunciados.
As palavras domesticadas
Sonham com o abismo,
Embaralham significados.
Os livros são mudos.
Encontramos neles
Vislumbres de mundos artificiais.
Livros não cabem na existência.

E morrem com o tempo.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

CONHECIMENTO E TRANSITORIEDADE

Nenhum discurso tem a capacidade de esgotar toda significação possível, de estabelecer uma representação absoluta do real. O próprio real é um dado circunstancial regido pela finitude e a um devir constante dos fenômenos que lhe definem. Há sempre novos discursos que atualizam esta defasagem inerente a realidade como representação verbal da consciência.

Assim, nossos filtros conceituais e metodológicos, balizadores de gramaticas discursivas, só podem produzir narrativas parciais, imprecisas e incertas sobre qualquer assunto. Mesmo que  estas narrativas se legitimem socialmente como verdades, elas ainda estarão fadadas ao envelhecimento, a uma desatualização, pois cada época inventa sua própria linguagem e bagagem simbólica.

A codificação do real através do conhecimento formal e institucional, é um produto perecível. Pode-se mesmo dizer que esta destinado mais a sua auto reprodução e auto legitimação do que propriamente estabelecer-se como uma “filosofia de vida” ou uma ética ou estética existencial sobre as coisas.


Em outras palavras, o conhecimento do mundo, é um conhecimento de nosso meio cultural e não propriamente uma apropriação inconteste  dos fenômenos.Ele produz sentido, mas um sentido que inventa enraizamentos, coordenadas simbólicas. Somente como tal podemos toma-lo como conhecimento, como uma apropriação subjetiva do mundo,  como um efeito de representação desde sempre defeituosa.