quarta-feira, 10 de maio de 2017

NOTA MARGINAL A LÓGICA DO SENTIDO DE GILLES DELEUZE


LÓGICA DO SENTIDO é um dos mais fascinantes trabalhos deixados por Gilles Deleuze. Através dele, Deleuze nos propõe uma teoria do sentido a partir de uma leitura da obra de Lewis Carroll iluminada por considerações originais do pensamento estoico e seu lugar decisivo  na história da filosofia ocidental.

A obra é estruturada através de uma série de 34 paradoxos e, nas palavras do próprio autor, pode ser definida como um “romance lógico e psicanalítico”. Para  ele, Caroll foi o explorador e o estruturador de um método  serial em literatura. Os estoicos, por sua vez, ao romperem com os pré- socráticos, os socráticos e os platônicos, inventaram novas formas de pensamento onde paradoxos subvertem tanto o bom senso quanto o senso comum, estabelecendo a  ambiguidade, a dualidade e a incerteza, como dimensões  essenciais da própria linguagem.  Ela estabelece seus limites na mesma medida em que os extrapola, em que desloca o sujeito e a identidade.

“O paradoxo é, em primeiro lugar, o que destrói o bom senso como sentido único, mas, em seguida, o que destrói o senso comum como designação de identidades fixas.”

Os acontecimentos não devem ser procurados em sua profundidade, mas na superfície. Parafraseando Deleuze, é seguindo a fronteira, margeando a superfície, que passamos do corpo ao incorporal. A continuidade do avesso e do direito substitui todos os níveis de profundidade elevando ao nível da linguagem todo o devir e seus paradoxos.

A obra de Lewis Carroll circunscreve no “mundo plano” do sentido-acontecimento, ou do exprimível-atributo, onde tudo que se passa, passa-se na linguagem e pela linguagem. O que significa que não devemos confundir aqui o acontecimento com sua efetuação espaço-temporal em um estado de coisas.

Meu comentário é deliberadamente marginal em relação ao denso conteúdo desta obra clássica da filosofia contemporânea. O pequeno recorte aqui proposto em torno do lugar do paradoxo na linguagem, apenas se destina a despertar alguma reflexão sobre o modo como cotidianamente experimentamos a linguagem, sem reconhecer nela as ambiguidades e dualismos que, muitas vezes, habitam nossos enunciados no jogo entre o falar e o dizer e que transcende  o eu das proposições.


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