sexta-feira, 29 de abril de 2016

FILOSOFIA E IMAGINÁRIO

A filosofia sempre foi o jogo do não  sentido e não  uma busca da verdade. Apesar de Platão , Aristóteles e toda escolástica. 

A razão  nunca ultrapassou o mito, o devir e a falta de significado do sensível. Ela sempre se ocupou do imaginário como fundamento do humano. 

Somos nossos enunciados. E eles possuem uma vida própria que nos transcende.

ALÉM DA VERDADE

"A verdade não  representa mais uma solução. Mas talvez possamos almejar uma resolução poética do mundo, do tipo prometido pela História ou pela linguagem."
Jean Baudrillard in A Ilusão  Virtual


O desaparecimento da verdade é  a consequência natural da morte de deus e do colapso de toda razão  em seus fundamentos metafísicos. A consciência é  a medida de tudo que é  humano.

Mas tudo que é  humano  existe como inconsciente. Levar as últimas consequências nossa singular capacidade de imaginar o mundo ainda é  uma tarefa futura.

IDENTIDADE E ENUNCIADO

A realidade é construída através de nossa capacidade de representação e codificação linguística da existência. A performática linguística estabelece o dizer como um fazer constante da consciência. O que me permite associar o habitar de um discurso a construção da identidade do sujeito. Daquilo que digo deduzo quem eu sou. È assim que o discurso se torna significante através daquele que o enuncia, que encadeia enunciados e é ultrapassado por sua própria narrativa. Somos de certa forma pensados pelo que pensamos. Esta autonomia dos discursos me parece ser o pressuposto do acontecer humano.  



quarta-feira, 27 de abril de 2016

INDIVIDUO E SOCIEDADE

A objetivação de nossa subjetividade norteia a relação da sociedade com o individuo na contemporaneidade. A racionalização do comportamento singular através dos imperativos de conduta coletivamente estabelecidos, ainda desempenha algum papel sobre o destino de cada um de nós. Somos induzidos a consumir determinados símbolos, objetos e , até mesmo, necessidades artificialmente estabelecidas. Inscritos no imaginário social como objetos de ideias comuns somos induzidos a mesmice, a ausência de reflexão e criatividade.

Mas se a sociedade é um poder soberano, isso não impede que cada indivíduo, em alguma medida, se reinvente como desvio do mimetismo mecânico do dia a dia. Mas, é importante observar que  a afirmação da própria individualidade é também afirmação de um desinteresse pela individualidade do outro. Peculiaridade que estabelece o exercício da individualidade, muito frequentemente, como uma experiência de marginalidade ou, simplesmente, isolamento. A afirmação do individuo, afinal, tem por essência sua diferenciação dos demais indivíduos.  Logo, é uma constante luta contra a igualdade.


A mais eficiente estratégia de construção da subjetividade é justamente a experiência estética  ou artística. Através dela transbordamos o mundo e nossa própria persona através da experiência simbólica  do real. Subjetividade e evasão andam juntas no esforço individual de invenção de si mesmo. Assim, a grande questão não é de forma alguma o conhecimento de si mesmo, mas o exercício constante de desconstrução de nossas ilusões coletivas.

ENTRE O SIGNO E O SENTIDO

Há um grande desespero em meus escritos,
Uma necessidade profunda de escrever
A própria existência
Como se na palavra coubesse
Qualquer coisa mais profunda
Do que o  signo.
As ideias possuem vida própria
Enquanto imagens
Que transbordam o pensamento
E inventam o mundo.
Talvez meu dizer não caiba
Na letra morta  presa a folha

E eu nunca transcenda o desespero.

terça-feira, 26 de abril de 2016

SOBRE A SUBJETIVIDADE

O mundo não  começa  quando nascemos. Ele nos antecede e supera. Ele  independe do indivíduo isolado e se apresenta para ele como contingência e como  um conjunto de fenômenos  autônomos. Assim, o mundo é  para cada indivíduo como  um enigma. Exige respostas, interpretações, que só  se tornam possíveis  na exata medida em que nos tornamos parte dele, em que nos confundimos com o problema.

A qualidade de nossa consciência do mundo, nossa capacidade de codifica-lo de modo complexo, é  o que faz diferença  em nossas vidas isoladas. A maioria das pessoas apenas reproduz as convenções  sociais sem produzir uma crítica do existente do ponto de vista de si mesmo. Mas é  justamente esta possibilidade que faz cada um de nós  únicos.

sábado, 23 de abril de 2016

NOTA AUTOBIOGRAFICA DE UM ESCREVINHADOR

Desde  muito jovem cultivo o hábito de escrever . Sempre foi uma necessidade para mim e  a ideia de me definir como um escritor me agrada a muito tempo . Mas acho que sou apenas alguém  que aprendeu a habitar mais nas palavras do que no mundo cotidianamente vivido. Escrever  é para mim uma forma de evasão;  mais do que um referencial de identidade; uma  compulsão  antes de um ofício  ou expressão  artística. Por isso a palavra é  um exercício cotidiano, algo tão  necessário quanto respirar. Assim, leitores são  secundários ou um apêndice. Eu escrevo , sequencialmente,  porque não  tenho escolha.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

SENTIMENTO E CODIFICAÇÃO DE MUNDO

Esclarecer como os sentimentos  e emoções  se expressam através  das configurações  específicas  de uma dada codificação  cultural, é  a elementar premissa da  compreensão do acontecer humano em seu devir individual e coletivo.
Um modo de existir é  também  um modo de sentir; o sentir das coisas,  sua valoração,  é  também  uma forma de auto consciência. 
Assim, é  preciso levar sempre em consideração como dado imaginário constelado define o querer viver frente a inadaptação da consciência  a uma realidade objetivamente dada .

quarta-feira, 20 de abril de 2016

SOBRE IMAGÉTICA E DECADÊNCIA DA LINGUAGEM

Uma imagem só é capaz de dizer mais que a palavra quando o pensar extrapola certezas e se dissipa na ambiguidade e fluidez de um devaneio. É preciso que o pensar se cale,  que o corpo se renda a uma impressão estética e a fantasia irracional de uma significação precária.  Mas nunca um quadro será capaz de nos atingir com a mesma intensidade de um bom romance. Assim me parece enquanto a existência exigir uma boa dose de reflexão. Entretanto, uma boa leitura pode ser substituída por um bom filme.

terça-feira, 19 de abril de 2016

UM DIA QUALQUER

Hoje é apenas um dia
Depois de ontem.
Provisório e pre definido
Como as linhas de um romance ruim.

Hoje é apenas mais um dia
Escrito na televisão e jornais.
Quem sabe amanhã

Não tenhamos melhor sorte?

sexta-feira, 15 de abril de 2016

AUTONOMIA E SUBJETIVIDADE

É a carência de autonomia, a inversão entre os meios e os fins, a dissociação da unidade do sujeito e a implosão da subjetividade, que nos lança agora ao desvairado exercício de uma metacrítica da existência ordinária.


Quando a vida se torna refém de ficções coletivas e nos reduzimos a unidades de consumo impessoal, a própria ideia de sociedade perde substância e a reflexão não passa de mitificação vazia.

ESCREVA CONTRA O MUNDO...

O mundo vem se tornando cada vez mais monocromático, previsível e tedioso.

Nos esgotamos em nossas rotinas padronizadas, em nossos pensamentos domesticados de realidade. A singularidade humana, o espaço da privacidade e da construção permanente da singularidade, já não é uma questão com a qual a maioria se importe. Estamos nos esquecendo de ser... O mundo já não é mais habitado por indivíduos. Talvez nunca tenha sido.


Só resta a estratégia de uma  expressividade narrativa , de uma conversão de si mesmo em linguagem, na invenção de um universo abstrato de reflexões que nos  sirva de exílio do próprio real. Por isso escrever ainda faz sentido. 

terça-feira, 12 de abril de 2016

AQUELE RETRATO

Ainda guardo no bolso
Aquele retrato
De dias melhores,
De circunstâncias perdidas
Que nada mais comunicam
Ao aqui e agora.
Em nossos
Descaminhos de existência
Alimentamos passados
Para suportar o presente.
O futuro já não cabe
Em nossas vidas.
Apenas o imediato,
O agora e o fato.
Aquele retrato

Já não diz quem somos.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

DESVIO

A ordem das coisas, a ordem das aparências, não pode mais ser confiada a qualquer matéria de saber. O pensamento,  eu o quero paradoxal, sedutor- com a condição, evidentemente, de não tomar por sedução a manipulação aduladora, e sim como um desvio de identidade, um desvio de ser.”
JEAN BAUDRILLARD in SENHAS

O conhecimento hoje em dia  tornou-se antes de tudo objeto de si mesmo. Ele é seu próprio questionamento, um ato de desvio e duvida corrosiva sobre o sentido e significado das coisas. O conhecimento deve ser reduzido a sua premissa subjetiva e, como tal, declinar do seu valor de verdade objetiva. Tudo que fazemos  através da reflexão abstrata, afinal, é estabelecer e reinventar as bases das codificações humanas daquilo que conhecemos como realidade.


sexta-feira, 8 de abril de 2016

NARRATIVAS BIOGRAFICAS E FANTASIA IDENTITÁRIA

Não sou capaz de falar sobre  o que para mim permaneceu invisível ao longo do acontecer da existência. Sou incapaz de qualquer releitura significativa das coisas que transcenda a simples auto percepção ou reivindique alguma “objetividade” ou simples distanciamento dos fatos.

Não posso me saber de um ponto externo ao meu peculiar sentimento de mundo. A existência particular é um dado irracional e aleatório que, apesar de todas seus condicionantes objetivos, escapa ao calculo e a avaliação racional. Por isso sou cético com relação a biografias.

Uma narrativa biográfica é uma fantasia pessoal onde são impostos significados e propósitos íntimos a acontecimentos e fatos artificialmente reconstruídos e contextualizados dentro de um dizer de mundo peculiar subjetivo.


 Mas há um profundo condicionante psíquico para tal esforço de balanço existencial que, na maioria dos casos, não é levado em consideração.  O silencio e o invisível de nossas ruinas ontológicas não se presta a teleologia vazia da unilateralidade de uma racionalidade  egóica.  Nossas representações são sempre fantasiosas e é justamente a reinvenção do real, e não sua objetivação , que torna a narrativa biográfica interessante.

terça-feira, 5 de abril de 2016

EM CASO DE DÚVIDA VIDE SCHOPENHAUER


Pensar é transcender a vontade como coisa em si e a necessidade de mundo como um imperativo biológico. Em caso de duvida, vide Schopenhauer...  Só sei que já estou farto da imbecibilidade cotidiana e dos lugares comuns da vida  da espécie. Já não suporto a necessidade como condição perversa da construção da minha ainda possível subjetividade. 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

O VAZIO DA EXISTÊNCIA

“Se deixarmos de contemplar o curso do mundo como um todo e, em particular, a efêmera e cômica existência de homens enquanto sucedem um ao outro rapidamente para observar a vida em seus pequenos detalhes: quão ridícula é a visão!

Impressiona-nos do mesmo modo como uma gota d’água, uma simples gota fervilhando de infusoria, é vista por um microscópio, ou um pedaço de queijo cheio de carunchos invisíveis a olho nu. Sua atividade e luta uns contra os outros em um espaço tão pequeno nos entretém grandemente. Acontece o mesmo no pequeno lapso da vida – uma grande e séria atividade produz um efeito irrisório.”

Arthur Schopenhauer in O vazio da Existência


O VAZIO DA EXISTÊNCIA

O que ainda resta a fazer enquanto o tempo passa?
Talvez apenas escrever sobre a incerteza de ser,
sobre nossas faltas e silêncios,
até que a noite nos cubra para sempre.
Nunca enxergamos as imperfeições ,
o disfuncional e vexatório de nossas vidas.
O banal nos escapa.
Por isso é fácil seguir a favor dos fatos.
que cada vez mais carecem de significados.


sábado, 2 de abril de 2016

A FALACIA DO CONHECIMENTO DE SI MESMO SEGUNDO SCHOPENHAUER

Sobre a filosofia e seu método reúne ensaios de Schophenhauer originalmente editados sob o titulo Parerga e Pasraliponema ( ornatos e Complementos) que muitos consideram sua obra fundamental.

Quero aqui me deter sobre a relação entre vontade e intelecto, que muito esclarece sobre a peculiaridade de sua filosofia. 
Para o filosofo alemão o conhecimento de si mesmo, lugar comum do senso filosófico ocidental,  não passa de uma falácia na medida em que o sujeito do conhecimento não é algo autônomo e não possui uma existência independente da vontade, que constitui o fundamento do seu ser.
Em seus próprios termos,

"A vontade é certamente coisa-em-si, existente por si mesma, primária e autônoma, aquilo que se manifesta como fenômeno na apreensão espacial intuitiva do cérebro como organismo. Não obstante, também ela é  incapaz de auto conhecimento, pois ela  é em si e para si mesma algo que meramente quer, não algo que conhece. Pois ela, como tal, não conhece absolutamente nada, logo, também não a si mesma.. O conhecimento é uma função secundária e mediada que não pertence imediatamente a à primaria em sua própria essencialidade."

(Shopenhauer. Sobre a Filososofia e seu Método. Organizado e traduzido por Flamarion C. Ramos. SP: Hedra, 2010, po. 83)

Por isso o intelecto deve abandonar sua destinação natural a vontade e alcançar seu uso objetivo, base de toda filosofia poesia e, até mesmo ciência até agora possível. Deve-se eliminar todo interesse pessoal para realizar a reflexão livre das contigências de cada época e do curso atual do mundo. Tamanho distanciamento e indiferença a concretude do mundo é o que caracteriza o gênio para Schopenhauer.