domingo, 31 de agosto de 2014

A DOR


Nos define a dor que nos inventa,

Que sentimos e construimos

Nos lugares comuns da palavra aberta.

Nos define o tédio

E o vazio de nós mesmos.

Pois sempre buscamos inutilmente

Algo mais verdadeiro

 que a própria vida.

 

 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

CONTRA A FALÁCIA DO CONCEITO DE ALMA


Evito utilizar, mesmo que de forma meramente figurativa, a palavra ou conceito de alma para descrever os estados abstratos da condição humana.

Sendo ainda mais radical, considero qualquer recurso a este conceito um arcaísmo de linguagem. Pois me parece definitivamente superada na contemporaneidade qualquer superstição inspirada na falácia do dualismo corpo/alma.  Referir-se a alma, para mim, aliais, não passa de uma anedota neurológica.

Se ainda existem tantas pessoas que se deixam iludir por algo tão absurdo, ignorando o mais elementar avanço do conhecimento cientifico contemporâneo, é porque a ignorância e obtusidade do pensar humano não é definitivamente uma questão de bom senso.

Vivemos ainda em uma sociedade que nos educa para sermos idiotas e perpetuar as mais ridículas formulas do pseudo conhecimento por séculos acumulados ao longo da marcha patética das civilizações.  

O mais curioso é que desde os gregos homéricos ou desde Alcmeon de Crotona, filósofo e médico que viveu por volta de 500 - 450 a.C. e foi, até onde sei, o primeiro a atribuir ao cérebro o merecido lugar de destaque na anatomia humana, sabemos da importância das atividades cerebrais na definição da experiência humana. Alcmeon fora seguido por Hipócrates, até hoje lembrado como pai da medicina. Lhe é atribuida a autoria da chamada Corpus hippocraticum ou "Coleção Hipocrática", principal fonte do conhecimento medico da antiguidade.

Em outras palavras foi à revelia do bom senso cientifico que a tradição do dualismo se afirmou e sobreviveu até os dias de hoje, mesmo sendo tão francamente inverossímil.

Não é nosso conhecimento objetivo das coisas, portanto, que desfaz superstições. Elas existem independente do desenvolvimento de qualquer forma de saber cientifico. As estruturas mentais mudam muito lentamente. Foram necessários séculos para que, por exemplo, a ideia de que a terra era plana fosse descartada pelo imaginário ocidental.

Algum dia estima-se que o mesmo aconteça com a hipótese de uma alma imortal.

 

O EU QUE AGORA LEMBRA O PASSADO


O eu que agora lembra meu passado

Não sabe de todos o outros eus

Que o viveram intensamente,

Toda lembrança é parcial e fragmentária.

Não diz os cotidianos e pessoas

Que me definiram em algum momento.

Não diz minha vida

Ou me permite saber quem eu sou.

O eu que agora lembra meu passado

É quase um estranho.

 

domingo, 24 de agosto de 2014

ATEISMO E LIBERDADE


O ateismo é a afirmação da liberdade. Não se define em função de uma recusa, como querem alguns. Afinal, recusar o absurdo  do que não existe não é uma negação, mas a constatação do mais elementar do obvio.

Quando me defino ateu estou simplesmente afirmando a mim mesmo.

Não preciso da segurança e certeza de alguma inventada  verdade metafisica que explique e justifique todas as coisas.  Sei que nem todas as coisas precisam de explicações e justificativas.

O que me importa é que existir é uma experiência empírica. Seu fundamento é a experiência e a consideração cuidadosa dos fatos e sentimentos.

Como eu dizia a pouco, o ateismo é uma afirmação da liberdade.

Mas a maioria das pessoas prefere ainda a segurança de alguma abstrata prisão.  

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

DESCONSTRUINDO AS FOTOGRAFIAS

O  atemporal de uma fotografia
Não diz o vazio que fica
Depois do colápso
Daquele registrado instante
Que desdiz o momento seguinte.
A  verdade é que o conceito de passado
Se desfaz no efêmero contemporâneo
Do absoluto do registro.
Quando o olhar substitui as palavras,
De algum modo estranho,

Nos abandonamos ao vazio.

domingo, 17 de agosto de 2014

SOMOS APENAS HUMANOS


Somos apenas humanos,

Macacos voadores e falantes

Diariamente inventando um mundo

Contra a imensidão de um universo em expansão.

Quase não sabemos de nós mesmos,

Dos erros de nossas imaginações.

Somos apenas humanos,

Demasiadamente humanos.

E, entretanto, aprendemos a ver

Mais do que estrelas no céu.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

DILEMAS EXISTÊNCIAIS


Mais do que em qualquer outra época, vivemos atualmente uma espécie de dilema de existência. Afinal, somos constantemente bombardeados por uma diversidade de estímulos e solicitações externas que estabelecem um embricamento entre o biológico e o cultural, entre a consciência de si mesmo e a consciência do mundo. Somos apenas em nossos eus fraturados que transitam entre as múltiplas faces do dia a dia.

O que melhor nos define é a falta de controle sobre as nossas próprias vidas e diversidade de inconciliáveis e contraditórias vontades.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

INTRODUÇÃO AO PASTAFARTIANISMO

Nós acreditamos nos ensinamentos de Bobby Henderson.
Nós seguimos o PASTAFARTIANISMO!

Temos fé  no grande criador do universo: o Monstro de espaguete voador.

Nós, Pastafarianos, ACREDITAMOS:

num paraíso que inclui “vulcões de cerveja até onde a vista alcançar” e uma fábrica de strippers.

num inferno, onde a cerveja é sem álcool e quente e as strippers têm doenças sexualmente transmissíveis
Por derradeiro:

“RAmén” é a conclusão oficial para rezas, certas seções do Evangelho de Monstro de Espaguete Voador, etc. e é uma combinação do termo hebreu “Amém” (também usado no cristianismo) e Ramen, um tipo de macarrão japonês (Lámen).

NASCEMOS TODOS ATEUS

Nascemos todos ateus, sem ilusões teístas.
 
Mas como viver em sociedade nos obriga a carregar no bolso algum tipo de fantasia que nos faça minimamente funcionais, somos  educados a acreditar nos cânones da imaginação coletiva. 

 
Felizmente, desde o século XVIII europeu, passou a ser mais fácil a cada indivíduo pensar com a própria cabeça e abandonar o desconfortante faz de conta da cultura comum.
Hoje cada um pode inventar a liberdade de viver em um mundo sem ilusões.


MAU HUMOR

Hoje acordei indisposto
No tédio dos meus lugares
De mundo.
Um pouco mau humorado,
Farto das coisas do dia
E com as imaginações em silêncio.


Mas não se trata de melancolia.
Apenas acordei demasiadamente lúcido
E sem fantasia
Entre vontades frias e diversas apatias.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

PRISÃO

Preso  ao tempo espaço
Do fim imperfeito do meu desejo
Colho retalhos de sonhos
Pelos cantos da realidade.

Perdi o momento de acordar futuros
Tentando salvar
Meus apodrecidos passados.

Preso ao tempo e espaço
Do fim imperfeito do meu desejo
Escondi meu rosto
No fundo do espelho.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

PARA OS QUE NUNCA FORAM FELIZES


Preso ao passado,
Aos descasos do destino,
Ainda lembro daquele feliz futuro
Que nunca vivi um dia.
Talvez tenha acontecido
Agora pouco
Em qualquer data perdida
Que nunca encontrou lugar
No meu desgraçado calendário
Riscado pelos  erros  causados
Por minhas  vontades desmedidas.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

PÓS MODERNIDADE E NOVAS SENSIBILIDADES

As relações humanas e as estratégias de construção de sociabilidades vem alcançado na contemporaneidade um grau de complexidade que compromete as estruturações tradicionais da vida social. Cultura, sociedade  e Estado ganham dinâmicas novas que se articulam com a emancipação do individuo frente as dinâmicas coletivistas e um deslocamento das identidades e papeis definidos pelas tradições e inercias sociais.
As reflexões sobre esse novo momento das formas de codificação do real em curso nos grandes centros urbanos do capitalismo contemporâneo tendem a apontar para as novas possibilidades abertas pela hiper-realidade estabelecida pelo impacto das tecnologias digitais sobre nossas representações de mundo e sensibilidades.
Como aponta Luis Carlos Fridman em  Vertigens Pós Modernas:

“Em sentido menos apologético do alcance das alterações em curso, surge o diagnóstico da fragmentação da subjetividade contemporânea. No individualismo pós-moderno de todas as conexões do ser, os “certificados de existência” se diluem. A vida torna-se errática pela multiplicidade e pela fluidez, o eu se despedaça nas redes de comunicação, os indivíduos sentem-se investidos de solicitações bizarras na tarefa de inventarem a si próprios, a plasticidade e o pastiche incorporam-se às maneiras de viver, estilos se confundem com as ofertas mais recentes do universo das mercadorias, a unidade se desfaz no descarte sucessivo de intensidades momentâneas e os estados de ansiedade se acumulam. A identidade, e o senso de uma interioridade auto sustentável partem-se em vivências desagregadas ou, para quem não aguenta esse tranco, em insegurança e angustia. A identidade, sob a marca da transitoriedade, nunca se completa. O “medo ambiente”, expressão já presente  no debate sociológico, condensa as indagações se o cenário da vida social contemporânea oferece suportes sólidos  para a construção da identidade.”

Luís Carlos Fridman. Vertigens Pós Modernas: Configurações Institucionais Contemporâneas. RJ: Relume Dumara, 2000 p. 65


A problemática da falência da identidade explica ironicamente a voga fundamentalista e conservadora que reponde a desagregação das vivencias tradicionais através da apologia de  ideais coletivistas e totalizantes de inspiração  geralmente religiosa que inutilmente procuram a restauração de um passado irremediavelmente perdido, mas  ainda capaz de nos roubar as melhores possibilidades de futuro.