sexta-feira, 30 de novembro de 2012

INDIFERENÇA

Indiferente,


A lua cheia decora

Entre nuvens

O turvo céu

De uma noite de inverno.

Ela se quer sabe

Minha existência

Como todas as coisas

A minha volta

Que com igual indiferença

Ignoram meu aqui, agora

E revolta.

Em cada palavra

Sou menos

Que o mundo,

Ilegível gota de acaso

Em forma de gente.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

DESCOMPASSO

Habito defasadas paisagens biográficas


Entre restos de perenes felicidades

E amores perdidos.

Vivo vazio

No aguardo de futuros

que me abandonaram.

Quase não existo.

Mas que importa?

Sou o descompasso

Entre o meu rosto

E os fatos,

Um equívoco vivo

Que se perpetua

No tempo e no espaço.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O ESPANTO DA EXISTÊNCIA

A ilegibilidade da vida e o vazio da existência assombram nosso querer das coisas, contradizem nossas inúteis estratégias de felicidade fragilmente edificadas sobre a movediça areia dos acasos e destinos.
Somos em tudo tão minimamente prováveis no acontecer de vida que geralmente me espanta o simples fato de existirmos...

NOTA SOBRE AS GRAFIAS DA EXISTÊNCIA

Diversas são as possíveis grafias da existência. Todas elas, entretanto, insuficientes para domestica-la em sua insuperável falta de significado.

As teleológicas retóricas oferecidas pelas codificações humanas de mundo não transcendem o ilegível e o absurdo de nossas vivências cotidianas, não as tornam menos selvagens e aleatórias...

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

INUTIL ROTINA

Mastigo a vida


Sem mesa posta

Na hora do almoço

Sem saber o sabor

Dos atos.


A rotina não tem gosto

No requentado tempo

De um dia após o outro...



sábado, 17 de novembro de 2012

NOTA SOBRE DEVIR E LEMBRANÇA



Ao contrário daquilo que normalmente se pensa,  lembranças não são uma matéria estática e fechada . Como tudo na existência  elas se transformam com o passar vadio do tempo, se modificam com a gente, revelando assim o passado como um fantasmagórico labirinto de imagens de nós mesmos  que a cada golpe de olhar nunca é o mesmo...   

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

ACASO E SOBREVIVÊNCIA



As idas e vindas
Do acaso
Através  do tempo
Me conduziram
Ao lugar nenhum
De mim mesmo
Obrigando-me
A reinventar meu rosto
Na armadilha dos fatos.
Aprendi , assim,
A sombria arte
Da sobrevivência.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

BUSCA

Procuro meus lugares


Na diversidade da realidade,

Desencontro-me de verdades

Acolhendo vazios,

Para saber

A simplicidade

Do mais imediato

Acontecer da existência...



quarta-feira, 7 de novembro de 2012

TEMPO BRAVO



Chega um tempo
Em que o querer
Se deixa esquecer
E tudo que fica na gente
É a brandura
Do perdido dos fatos
Que quase não existem
Frente ao mudo
Acontecer das coisas
E do mundo...

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

TEMPO E CONTEMPORANEIRADE

Na contemporaneidade, as décadas substituíram os séculos na definição das épocas, paisagens e tramas culturais, que agora restringem-se em seu desenvolvimento a intervalos cronológicos cada vez menores, superficiais e, ao mesmo tempo, mais complexos onde a História se reduz ao inventário de tendências efêmeras e livres da lógica fechada de meta narrativas e abstratas teleologias.

Os indivíduos tornam-se cada vez mais livres do peso dos passados e tradições na invenção de um presente em constante expansão e metamorfose de si mesmo.

RECOMEÇO

O vento passando,


O dia soprando,

E eu aqui estático

Esperando

Qualquer novo encontro

Com a vida

Em qualquer esquina de dia

Onde o vento

Sopre mais forte

Enquanto o sol arde

Dissipando inercias

De tempo perdido...



AS HORAS DEPOIS DO AGORA

As horas depois


Do agora

Escapam ao futuro.

Apenas reinventam

O presente

No tédio de alguma

Rotina

Onde o tempo

Acumula-se nas coisas

E as mudanças

São pálidas e tímidas

No pudico das falsas novidades...