sábado, 28 de abril de 2012

VIRTUALIDADE CÓSMICA


Tenho agora
Diante de mim
Um dia qualquer
Sem sol  ou vento
Onde me cabe apenas
Viver
Em individual silêncio
O caos profundo do mundo.

De que outro modo
Poderia ser?
Todas as minhas vontades
São tão urgentes
Que se desfazem no ar
E  me surpreendo
Em tudo
Apenas um corpo
Em movimento
Em lugar algum
De universo
A sonhar sem inércias
A própria realidade...

TEMPESTADE

A  chuva transformou bruscamente a rotina e o dia; levou consigo todos os protocolos e rotinas, reinventando a paisagem urbana em desabrigos. Não há mais onde ficar ou para onde ir. Se quer estou aqui e agora onde penso enquanto se afogam meus pensamentos...
A existência apenas desapareceu nas águas do céu e plena consciência do hiato que há entre a vida e o tempo...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

LINGUAGEM E MORTE DA FILOSOFIA TRADICIONAL


Conceitos e preposições gramaticais normalmente nunca estão em acordo. 
Até o presente momento histórico nossas codificações de realidade nunca incorporaram o corpo, a consciência, como produto do "inconsciente biológico" e matriz de toda codificação do concebível ...
Nunca fomos reduzidos a linguagem como um componente físico, como um neuro linguístico ato de inventar rostos e mundos  no mero devir físico químico de nossa fisiológica condição humana.... 
Mas o fato é que hoje em dia toda tradição, tradução metafisica e filosofica do mundo está morta...

quinta-feira, 26 de abril de 2012

NOTA SOBRE PRAGMATISMO ANARQUICO

A simultânea pluralidade intima de um indivíduo, suas diversas possibilidades e tendências de consciência de si mesmo dentro do mundo, escrevem a incerteza como condição de seu próprio existir na economia dos atos cotidianos.

Não se deve, portanto, esperar de qualquer individuo qualquer rígida coerência com qualquer ethos ou representação social de si mesmo, apenas o pragmatismo anárquico de suas escolhas de dia a dia condicionadas as opções definidas por seu quadro cognitivo.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

LIMITES DO VERSO


Não sei
De que palavra
Ainda
É feito o mundo...

Talvez o verbo
Já não caiba
Nas imaginações
No tato das imagens
E sensações
Que radicalmente definem agora
O  virtual acontecimento  humano.

Só sei
Que tudo que me cabe
Ainda
É o gordo gole e a embriaguez
Do acontecer nervoso
De todas as coisas
Que me ferem os olhos
E o corpo...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

NOTAS DO SUBSOLO

Escrita em 1864, a novela NOTAS DO SUBSOLO de Fiódor Dostoiévski permanece uma obra emblemática da literatura ocidental. Pois foi através dela que um dos grandes arquétipos da narrativa ficcional moderna encontrou sua origem. Refiro-me ao mito do anti herói, aqui personificado por um narrador anônimo identificado ao final da narrativa apenas pelo rótulo de “paradoxista”.

Trata-se de um longo monólogo dividido em duas partes em que o narrador intercala a beliciosa investida contra imaginários interlocutores e contra todas as tendências do pensamento do seu tempo com a coloquial exposição de suas experiências e angustias mais intimas.

Considero NOTAS DO SUBSOLO um texto incomum sobre os limites do mundo e das codificações humanas do real, uma brochura desafiadora aos lugares comuns da vida compartilhada em sociedade e a própria cultura.

Poder-se-ia dizer ainda que trata-se aqui do trágico testemunho da impotência do individuo frente ao mundo que lhe define...

Ilustro o presente comentário com alguns fragmentos da obra em questão:



“...estou convencido de que o homem nunca renunciará ao sofrimento verdadeiro, isto é, à destruição e ao caos. O sofrimento é a única causa da consciência. E, embora eu tenha declarado no inicio que , na minha opinião, a consciência é a maior infelicidade para o homem, eu sei que o homem ama a consciência e não a trocará por satisfação alguma.” P.46



“Porque para mim o que importa é brincar com as palavras, é sonhar, e quanto a realidade, sabe do que preciso? De que vocês todos vão para o diabo! É isso ai! O que eu quero é tranquilidade. Sou capaz de vender agora mesmo o mundo inteiro por um copeque para que me deixem em paz. Entre o mundo acabar e eu beber o meu chá, eu quero que o mundo se dane, quero ter sempre o meu chá para beber. Você sabia disso ou não? Pois eu sabia que era canalha, patife, egoísta, preguiçoso.” P. 140



“Um romance precisa de um herói, e aqui foram reunidos intencionalmente todos os traços para um anti-herói, e , o que é mais importante, tudo isso vai produzir uma impressão muito desagradável, porque nós todos nos desacostumamos da vida, uns mais, outros menos, e nos desacostumamos ao ponto de sentirmos às vezes uma certa repugnância pela verdadeira “vida viva”, e por isso não podemos suportar que nos façam lembrar dela. Pois chegamos ao ponto de quase achar que a verdadeira “vida viva” é um trabalho, quase um emprego, e todos nós no íntimo pensamos que nos livros é melhor. E porque as vezes ficamos irrequietos, inventamos caprichos? E o que pedimos? Nos mesmos não sabemos. Nós mesmos nos sentimos pior se nossos pedidos delirantes forem atendidos . Pois bem, façam uma experiência, deem-nos, por exemplo, mais independência, desamarrem as mãos de qualquer um de nós, ampliem nossa esfera de ação, relaxem a tutela e nós... eu lhe asseguro: nós imediatamente pediremos a volta da tutela. Sei que os senhores talvez fiquem bravos comigo, comecem a gritar e a berrar com os pés: “Fale somente sobre si mesmo e sobre suas misérias de subsolo, mas nunca ouse dizer todos nós”. Permitam-me, senhores, eu não estou me justificando quando digo todos. E , no que me diz respeito, eu apenas levei as ultimas consequências na minha vida aquilo que os senhores não tiveram coragem de levar nem à metade, e ainda por cima acharam que sua covardia era bom senso, consolando-se e enganando a si próprio com isso. De modo que talvez eu esteja mais “vivo” que os senhores. Olhem com mais atenção! Nós nem sabemos sabemos onde vive essa coisa viva, o que ele é, como chamá-la! Deixem-nos sós, sem livros, e imediatamente ficaremos confusos, perdidos- não saberemos a quem nos unir, o que devemos apoiar; o que amar e o que odiar; o que respeitar e o que desprezar. Até mesmo nos é difícil ser gente- gente com seu próprio e verdadeiro corpo e sangue; sentimos vergonha disso, achamos que é um desmérito e nos esforçamos para ser uma espécie inexistente de homens em geral. Somos natimortos, e há muito tempo nascemos não de pais vivos , e isso nos agrada cada vez mais. Estamos tomando gosto. Em breve vamos quere nascer da ideia, de algum modo. Mas basta, não quero mais escrever do “subsolo”... p. 1458/149



( Fidor Dostoievski. Nota do Subsolo. Tradução de Maria Aparecida Botelho Pereira Soares-Porto Alegre: L &PM, 2011 )



quarta-feira, 18 de abril de 2012

NOTA SOBRE A NOSTALGIA

Os bons tempos só se tornam bons depois que passam, depois de perdidos e reinventados como recordação e memória na matéria viva de nossas ilusões e ânsias.

Pode-se dizer, em outros termos, que nos arranjos das imaginações, o passado ganha a forma dos vazios da consciência de agora.

As diversas possibilidades de arranjos de memória em sua dimensão seletiva, mediante  eleições afetivas/subjetivas, revelam que quando invocado no presente, o passado é de certa maneira um ato de pura imaginação, uma construção identidária...



segunda-feira, 16 de abril de 2012

HERÁCLITO X WITTGENTEIN: UM LÚDICO EXERCÍCIO DE IMAGINAÇÃO FILOSÓFICA:


Trata-se , como afirmado no título,  de um ato de imaginação e linguagem contra os lugares comuns de nossas metafísicas certezas verbais...
Segundo uma das mais populares citações  filosóficas  atribuídas ao filósofo pré socrático Herácrito, é impossível a um homem banhar-se duas vezes no mesmo rio. Pois da segunda vez, nem o homem, nem o rio seriam os mesmos.
Parece-me, entretanto, absurdo que de alguma maneira  pseudo lógico um rio e um indivíduo possam ser outro na ocasião de um banho.
Isso porque o banho, não importa o rio, é sempre o mesmo enunciado de banho. Não faz diferença  se o rio é o mesmo ou outro. Um banho é um banho em qualquer rio contra toda metafísica representação de um devir que escapa ao mero fato linguístico...