segunda-feira, 31 de outubro de 2011

F SCOTT FITZGERALD E O CURIOSO CASO DE BENJAMIM BUTTON

Se pudéssemos definir os loucos anos 20 do último século através de um único nome, ele certamente seria o do escritor norte americano F S Fitzgerard. Sua obra e biografia ,afinal, personificam intensamente  o espírito libertário  e contestador daquele período.

Recentemente revisitei um de seus mais saborosos e surpreendente contos: O estranho caso de Benjamim Burtton.  Ao contrário do que possa sugerir a idéia de uma vida vivida ao contrário, não se trata aqui simplesmente de um conto fantástico sobre a idéia de envelhecimento. Recheado de um humor tout court, o conto é na verdade uma sátira  a própria idéia de “norma” e de “propósito”, questão que perpassa toda narrativa através  das desventuras de Burtton para afirmar-se em uma sociedade onde definitivamente ele não tem lugar pelo simples fato de ser “diferente”. Já no  inicio da narrativa a reação indignada do pai de Burtton com o estranho caso do filho revela claramente o caráter satírico do texto.

Mas o interessante é que a  história é ambientada em 1860, quando

“era do bom nascer em casa. Atualmente os autos deuses da medicina decretaram que os primeiros vagidos do recém nascido devem ser lançados no ambiente anestésico de um hospital, de preferência de um hospital elegante.  Assim o jovem casal Roger Button estava cinquenta anos à frente da moda quando resolveu, num dia de verão de 1860, que seu primeiro filho deveria nascer num hospital. Se tal anacronismo teve algo a ver com a surpreendente história que vou contar, é coisa que jamais se saberá.”

( F. Scott Fizgerald. O curioso caso de Benjamim Button e outras histórias  da era do jazz. Tradução e ensaio introdutório Brenno Silveira, 8ª edição, RJ : Jose Olympio, 2009, p. 108.)

Mas apesar do humor o pequeno e despretensioso conto em questão não deixa de ter um lado sombrio.  Digo isso pela sua melancólica conclusão.  Afinal, ao contrario do sugerido pela nossa natural tendência para pensar a juventude como um estado ideal e o envelhecimento como um mal inevitável, O caso Burtton nos mostra que não faria a mínima diferença se em lugar de envelhecer  ficássemos cada vez mais jovens.  Afinal, não deixaríamos de ser mortais, perecíveis...
Segue seus últimos parágrafos:

“Não havia lembranças perturbadoras em seu sono infantil; não havia sinal algum de seus bravos dias na universidade, os cintilantes anos em que ele aturdira o coração de tantas jovens. Havia apenas as grades brancas, seguras, de seu berço, e Nana e um homem que, às vezes, ia vê-lo, e uma grande bola  alaranjada para a qual Nana apontava, na hora  vespertina em que ia  para cama e dizia: “Sol.”Quando o sol se punha, seus olhos estavam adormecidos: não havia sonho algum que o persiguisse.
O passado- as violentas arremetidas, à frente de seus homens, monte San Juan acima; os primeiros anos de seu casamento, em que, nas noites de verão, trabalhava para a jovem Hildegarde, na  cidade fervilhante, até muito depois do pôr do sol; os dias em que ele, antes dessa época, ficava  a conversar e a fumar, noite adentro, em companhia do seu avô, na sombria e velha casa dos Button, em Monroe Street- tudo isso havia se dissipado de seu espírito como um sonho inconsistente, como se nunca houvesse acontecido.
Não se lembrava. Não se lembrava sequer, claramente, se o leite era quente ou frio em sua última refeição, ou de que modo os dias passavam. Havia apenas seu berço e a presença familiar de Nana. Depois, já não  conseguia recordar coisa alguma. Quando sentia fome chorava- nada mais. Apenas respirava através dos dias e das noites e, sobre ele, havia suaves murmúrios e ruídos que mal ouvia, e odores levemente diferentes, e luz e treva.
Depois tudo se tornou escuro, e o berço branco, e os vagos rostos que se moviam em torno, e o cálice e doce aroma do leite se dissiparam de todo de sua mente.”    
( idem, p. 137-8)

O SILÊNCIO DAS PALAVRAS

Palavras embaralhadas



No quintal de um sonho


Desconstroem significados,


Inventam o não dito


Dos atos,


Escrevem vontades


No corpo das horas


Até o abstrato limite


De um tumultuado silêncio...

domingo, 30 de outubro de 2011

O TEMPO E OS DIAS


Sei o peso
Do acumulo de instantes
Dos antes que me definem
Auxente
De algum remoto futuro.
Mas por hora
Me basta o sol e o agora...
Saber o sol que me acorda em dia
No me vestir de aurora
Em meio as ruinas
Dos meus inertes futuros
De outrora...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

SOBRE RADIO E ROCK AND ROLL


Em tempos de tecnologias digitais pode parecer um pouco retrô falar sobre a importância do radio. Mas não há como fugir a importância de certas configurações culturais que hoje nos parecem quase obsoletas para definição daquilo que se tornou possível  hoje.
Dos anos 50 até pelo menos os anos 80 os disc jockeys foram uma categoria social  decisiva para difusão e afirmação do rock enquanto estilo e cultura musical. Não podemos nos esquecer que foi justamente um disc jockey o responsável pelo seu batismo.
O fato é que no aqui mencionado período, o radio foi o grande termômetro e ator privilegiado da cultura popular e de massas. Sem ele o rock não teria alcançado o impacto social que teve ao longo daquelas décadas. Eis uma questão interessante de se pensar em paralelo aos nossos atuais cenários de nova tecnologia.
Afinal, de que maneira  substituição da cultura do radio pela da internet, passando pela MTV mudou nosso modo de viver musica?
É interessante o fato de existirem agora rádios digitais, por exemplo, provando que não se trata de uma relação simples entre arcaísmo e novidade...

PENSAMENTO QUEBRADO


Observo



um pequeno pensamento


quebrado e abandonado


sob a morosa tarde


de um dia de tédio,


resto de algum banal


sentimento das coisas


que já não diz mais nada a ninguém,


que já não é mais pensado,


lembrado ou marcado


em qualquer caderno,


radical expressão do descartável


e perene


que nos define humanos...



O DIA EM QUE O ROCK MORREU

O texano Buddy Holley teve uma carreira curta, restrita a um período de aproximadamente 3 ano de visibilidade no cenário do rock and roll do final dos anos 50 até morrer tragicamente em um acidente de avião em 3 de fevereiro de 1959. Mas foi tempo mais do que suficiente para imprimir sua decisiva marca na história do rock pela sofisticação de suas composições para a época. Holley contribuiu para o amadurecimento da musicalidade do rock introduzindo harmonias e melodias mais trabalhadas, além de letras mais complexas e menos ingênuas comparadas aos clichês românticos de então.

Ainda hoje o dia de sua morte é lembrado como o “o dia em que o rock morreu”, mas seu legado contribuiu justamente para o renascimento do rock nos anos 60. O primeiro de muitos que se perpetuam até o tempo presente...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

NOTA SOBRE ROCK E CONTRACULTURA


A relação entre rock and roll e contracultura nos anos 60 não é algo obvio. Afinal a chamada contracultura teve como principal matriz a geração Beat, movimento literário cuja aversão ao rock dos anos 50 era mais do que evidente assim como sua profunda ligação com o jazz.

Pode-se mesmo dizer que nos idos dos anos 60 o rock andava em baixa, sendo eclipsado pela folk music que então desfrutava de maior popularidade entre uma juventude americana cada vez mais politizada , critica e, portanto, indiferente a ingenuidade da primeira geração de rockers.

Tal cenário começou a se transformar com o advento das “Invasões Britânicas” lideradas pelos Beatles a partir de 1964. Ao lado dos Stones , Who, etc., os garotos de Liverpool reinventaram a linguagem do rock e prepararam sua reinserção no cenário cultural da época a ponto de hoje em dia o rock ser associado de maneira visceral a idéia de contracultura em um contexto muito mais amplo que aquele identificado com os anos 60 É o que desde os anos 70 conhecemos como cena undergraund.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

DEVIR


Não importa
O tempo
Que pesa no corpo.

Os sonhos
São sempre jovens
E vislumbram ganhos
No cenário de todos
Os mundos possíveis
Dentro da gente.

A imaginação
Mira sempre avante...

domingo, 23 de outubro de 2011

CONDIÇÃO HUMANA

Sei que uma vida inteira
Não basta para realização
De todos os meus futuros.

Pois as possibilidades
De uma mera existência
São múltiplas e infinitas
Na cotidiana  vertigem
Da permanente reinvenção
Do humano....

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

PROSA BOEMICA

As alegrias abertas



Explodem na sala de estar


No nervosismo de risos,


Soluços e gritos


De compartilhada embriaguês.






As palavras dançam


De uma boca a outra


Nuas e cambaleantes


Reinventando em gozo


O mais simples significado


Das coisas..

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

SOBREVIVÊNCIA

Quase não sei
O dia lá fora
No simples acontecer
Do ato
De estar vivo...

As rotinas
Simplesmente acontecem
Enquanto a vida pulsa
Dentro de mim
Como se nada mais
Realmente importasse,
Como se não houvessem perigos
No risco de cada esquina.

Tudo que realmente importa agora
É que estou vivo
Contra o mundo e os fatos....

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

TEMPO EFÊMERO

Uma única fotografia antiga
Pode ensinar
A distância
Que nos separa
Do próprio tempo,
Desfazer  infâncias
Com o olhar de agora
No jogo de luz e sombra
Da pragmática urgência
De um dia seguinte...

SOBRE OS ANOS QUE PASSAM

Os anos passam
Mas o que são os anos?
Que coisas importam
A caprichosa memória
Quando tudo
Que existe
É a embriaguez
Do agora,
Esta eterna e flamejante aurora
Que ofusca em vertigem
O turvo dos anos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

AFORISMAS SOBRE A POÉTICA PÓS MODERNA

A verdade de uma palavra é a própria palavra
Como signo e ato de pensamento.
Seu significado é meramente gramatico.
Tudo o mais decorre disto.
*
Diante de uma frase que não faz sentido nos deparamos simultaneamente com uma “revelação” e u um “ocultamento”. Brincamos com a própria ideia de verdade.
*
Ampliar o uso de uma palavra para além de seus significados correntes é a mais cara tarefa  a qual pode se dedicar um indivíduo.
*
A narrativa poética deve estruturar-se como a paródia de  um enigma de esfinge.
*
A poesia é a uma forma de transgressão linguística. 

NOVÍSSIMA POESIA

A poesia é o cálculo da imaginação,
O lugar onde as palavras
Libertam-se  da pragmática dos atos linguísticos
E os signos equivalem-se aos símbolos
No eclipse de nossa capacidade
De pensar  e dizer
Por intermédio de um eu
Projetado em mundo...
A poesia deve reinventar-se hoje
Como anti humanismo.