terça-feira, 31 de agosto de 2010

NOTA SOBRE O CORPO E A REALIDADE



Aprisionar-se em suas próprias certezas e parciais imagens de realidade, projetando-se no abstrato acontecer de um eu, é um hábito comum em nosso modo de estar coletivamente no mundo.
Mas há algo mais no mero acontecer particular de um ser humano, algo que transcende nossas configurações culturais e nos aproxima da condição de animais orgânicos e concretos apesar do peso dos referenciais culturais nos quais acriticamente encontramos mergulhados...
Este algo mais confunde-se com nossos desejos e vontades mais inorgânicas e íntimas, com tudo aquilo que não compartilhamos com os outros, pois transcende a possibilidade de qualquer apreensão como linguagem.
Trata-se do indeterminado e fluido conjunto de processos autônomos que somos em nosso corpo como essência de nossa própria condição humana...  

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

SMILE



Todos os dias
São fatalmente tristes.
Não importam os sorrisos
E alegrias que eventualmente
Decoram suas enfadonhas horas .

Já disse:
Todo dia é triste,
Um passo ébrio
Na direção
Do silêncio e do nada.

Tudo que nos resta
É aprender a conviver com isso
Vestindo de prazer sem sentido
Ou nome
O corpo de cada hora aberta
Em ato e pensamento
Com a simplicidade de um sorriso...

O VAZIO COMO ESSÊNCIA DO COTIDIANAMENTE VIVIDO


Todas as coisas que perdi na vida definiram mais o significado da  minha existência do que aquelas que conquistei...Pois no fundo, a soma de tudo aquilo que sou entre as coisas e os outros através do tempo, tem como essência o profundo sentimento de vazio e busca que nos inspira o irracional devir, esta estranha consciência que configura o acontecer do mundo além e através de mim...

FACE TO FACE



Sigo pela rua entre centenas de pessoas
Estranhas e familiares.
Mas não me sinto entre elas.

Se quer sei da rua
Que mecanicamente firo
Com os pés através de cada passo cego
Já escrito em minhas rotinas.

Confesso que,
Fosse mais forte o pensamento,
Apagaria com uma única idéia
O mundo da realidade,
 Construiria minha intima neverland
Com as ruínas e destroços
de sentimentos e emoções
perdidas...

domingo, 29 de agosto de 2010

alone

Não me reconheço
No rosto e nas frases
Que me definem
No cotidiano de viver
No fundo da  multidão.

Pois não sou entre os outros
Nada mais do que a farsa
Do meu eu escrito
No mecânico dizer das pessoas
Em volta.

Sei que realidade alguma
É mais perfeita  do que a de um pólen
De solidão e silêncio
Abandonado ao leu e ao tempo...

sábado, 28 de agosto de 2010

Stand By Me

BLACK TIME


Rasgado o tempo
Dos meus atos
Recordo os restos
Perdidos
De antigos sentimentos...
Deixo-me inerte e vazio
Em quebrados pensamentos
Que já não me sustentam
No nada da realidade
Onde a vida agora
 Quase não vive...

BAD LIFE



Tenho rabiscado a vida
A margem do ordinário
De existir,
Tenho Buscado o ponto
De encontro
Entre o absurdo
E o impulso
De ser no mais profundo
Abismo
Das vertigens do meu querer.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

CINEMA MUDO E EVASÃO PÓS MODERNA

A profunda teatralidade do cinema mudo, seu artificialismo radical definido pelo primado absoluto da imagem, ainda hoje é capaz de encantar,tocar sensibilidades, apesar do ultra realismo ao qual a estética cinematográfica contemporânea nos educou.
Quando nos deparamos com um filme mudo somos transportados ao presente de um virtual passado que se transforma em projeção onírica de nossas melhores apostas no luidico acontecer da mera e simples exisência...   

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Beatles at the Top Ten Club Hamburg 1961 (pictures)

The Beatles In Germany 1960-1962 (The Early Years)

THE BEATLES 50 ANOS



Todo marco temporal é arbitrário e condicionado a glorificação social de um mito... Apesar disso, cabe positivamente lembrar que, neste dia 17 de agosto de 2010, celebra-se, por força de mera convenção arbitrária, o primeiro passo da carreira dos Beatles.
Nesta mesma e presente  data, até antes do show daquela noite memorável de 17 de agosto de 1960, o grupo era conhecido por Silver Beatles, e ainda era composto por cinco membros,  que de sua consagrada formação excluía apenas o baterista Ringo Star e se apresentava  no palco do Indra Club com  Stuart Sutcliffe (baixo) e Pete Best (bateria). 
Em poucas palavras, a 50 anos atrás os Beatles começavam sua aventura existencial e musical... E há ainda muito a dizer sobre isso neste conturbado  início de novo século...   

domingo, 15 de agosto de 2010

The Rolling Stones - You Can't Always Get What You Want (Live 1969)(The ...

ON THE ROAD by JACK KEROUAC


Originalmente lançado nos USA em 1957, ON THE ROAD by  Jack Kerouac , converteu-se em algo mais do que uma bem sucedida peça literária, tornou-se um ícone de toda uma época histórica e refêrencia para toda uma geração. Não por acaso o livro ganhou a alcunha de bíblia beat,  ultrapassando seu próprio autor surpreendentemente conservador em um catolicismo louco e fixação na imagem materna...
A obra fundamenta-se na narrativa de viagem de dois amigos, Sal Padadise e Dean Moriaty pelo território norte americano. As descrições do cenário underground norte americano dos anos 50 ganha a forma de um verdadeiro stream of conciousness ( fluxo de consciência) que lembra vivamente a escrita automática dos surrealistas, implodindo a formalidade da gramatical e lingüística em uma verdadeira aventura da consciência através do imediato das sensações e codificação do mundo.Não foi por acaso que ON THE ROAD influenciou grandes letristas e artistas  do rock  como Bob Dylan e Jim Morrinson.
 A narrativa de Kerouac é profunda e absurdamente sensorial e imagética. Nela tudo é puro movimento em uma infinita estrada aberta em absoluta liberdade e vigoroso exercício de imaginação.
Eis aqui um livro que, longe  de qualquer nostalgia, nos conduz e inspira ao saudável exercício de perder-se no grande labirinto- mundo com uma mochila nas costas e um carro que cruza a vertiginosa aventura humana de descobrir-se no mínimo possível de todas as coisas. Tal fantasia, definitivamente, nunca sai de moda...          

ON THE ROAD



Abri, sem querer,
Uma Estrada
Que através das pessoas
Conduz a imaginação
Ao infinito da superfície
 De todos os lugares e direções
Possíveis...
Torno-me livre
De mim mesmo
Ao percorre-la
Sofrendo o vento
No espaço e tempo
Das coisas
Nas quais aos poucos
Simplesmente
Me desfaço...

sábado, 14 de agosto de 2010

YOU CAN'T ALWAYS GET WHAT YOU WANT

Originalmente lançada em 1969 no álbum Let it Bleed dos  Rolling Stones, You Can’t Always Get What you Want é uma das mais belas e populares canções concebidas pela dupla Jegger/ Richard.
Em seu contexto primário podemos interpretá-la como uma melancólica alegoria do crepúsculo dos idílicos anos 60. Mas seu poético refrão, entretanto, nos remete a um contexto mais amplo de intimista devaneio frente aos nossos mais íntimos  impasses com o mundo e com o destino, lugar comum da  construção de qualquer biografia:
“You can’t always get what you want,
You can’t always get what you want, 
You can’t always get what you want,
But If you try somertimes, yeah,
You Just might find”
Citado no episódio piloto da série House em uma deliciosa referência ao “filósofo Jegger”, estes belos versos traduzem de um modo geral nossa própria condição de indivíduos, enterrados em nossa mínima moralia, e contrapostos a uma realidade socialmente estabelecida que não raramente contraria nossas mais generosas apostas na realidade.  

O FUTURO DO PASSADO



Tenho demasiadamente
Pensado
Em meus tempos vividos
E perdidos
Em ruínas biográficas,
Buscado inutilmente a essência
Do surpreendente fato
De estar aqui e agora
Vazio no abstrato
De tantas e pessoais memórias...
Sem qualquer explicação, entretanto,
Limito-me a explorar em silêncio
O presente de antigas canções vividas.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Radiohead - no surprises live acoustic

AFORISMAS SOBREO AMOR E RELACIONAMENTO


Eros é um Daimon que nos conduz a auto superação através do outro
Em hermética artimanha da dialética entre o sentimento e o desejo...
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O amor é o comércio das sensibilidades e humores no máximo limite das sociabilidades humanas...
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  Só podemos gostar de quem somos através da conquista da intimidade do outro como palco estranho de nossas sombrias e profundas fragilidades mais intimas...
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Quanto mais convincente a projeção amorosa, mais acreditamos nas ardilosas invenções de nosso próprio sentimento...
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Quando amamos  somos persuadidos por Eros de que o outro guarda dentro de si, nossa felicidade para dissimular o fato de que ela não existe...
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Nunca se deve amar demasiadamente o que se tem... Pois, assim, jamais ousaremos novas conquistas...   

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A ILUSÃO DE UM MOMENTO SEM TEMPO


Guardei um pouco de tempo no bolso para algum dia viver o pequeno tesouro de existir fora do mundo, de ser em um rasgo de sonho, caindo em qualquer intimo momento de indiscreta felicidade.
Talvez isso jamais aconteça, talvez eu jamais seja intensamente em uma nova infância, desvelando em mínimo e absurdo instante, qualquer tola emoção que vista de significado todo meu existir provisoriamente vivido...     

AUSÊNCIA



Todas as distâncias vividas  
Escrevem-se no não lugar
Em que me enterro
Em tua busca,
Em que me abrigo
Em tua ausência,
Esquecendo de mim mesmo
Na certeza  de tudo aquilo
Que jamais seremos...

ESTETCA PÓS MODERNAMENTE VIVIDA



A contemporaneidade pressupõe em seus tantos desapegos culturais, um desaprendizado das convenções, das artificiais certezas que até pouco tempo sustentavam nossas singulares e compartilhadas trajetórias de vida.
Ganha agora o primeiro plano a fluidez do devir biográfico através do irracional das afetividades desarticuladas,  medos e desejos, que recodificam o existir humano, cada vez mais, como uma paradoxal alegoria de si mesma, um absoluto simulacro que inspira nossos vazios mais íntimos.    
 Por tudo isso, uma estética pós- moderna tem como uma de suas principais premissas a celebração do atomismo e do singular da individualidade humana, desnuda de qualquer projeto de sociedade o ideário social.  
Cabe-lhe apenas deixar acontecer o efêmero, o imanente, em um vertiginoso  caleidoscópio de imagens e experiências que não nos conduzem a qualquer outra coisa alem dos labirintos enterrados na alma de cada momento vivido