segunda-feira, 30 de novembro de 2009

IF...





Abandonei certezas e sentimentos

Pelo caminho
Em busca do meu mais intenso intimo...
Até agora nada encontrei.

Mas me perdi na sombra de mim mesmo
Descartando-me do superficial
E frívolo acontecer
Que rege
Cada novo dia...


De qualquer forma,
Ainda não me tornei
Quem sou...

SOBRE LUGARES E COISAS COTIDIANAS...


De certa maneira, pertencemos aos lugares e coisas que diariamente freqüentamos entre os outros no exercício de meras rotinas. Somos seus usuários na exata medida em que nos tornamos parte de suas paisagens, silêncios, usos e funções no caótico acontecer do existir urbano no qual cada vez mais nos perdemos de nós mesmos.

O mundo, afinal, é feito de lugares, não de pessoas...

LOOP...

Posso imaginar

Os passados que perdi
Buscando algum sonho
De futuro fútil,
Todos os sorrisos
Que deixei cair
Pelo caminho
E todas as pequenas alegrias
E rostos que não vivi.

A existência, afinal,
É seletiva
No gratuito de nossas escolhas.
O amanhã
Não passa
Da soma de nossos
Presentes entre gritos
E risos
Perdidos no vento...



SETES FRASES SOBRE A FENOMENOLOGIA DO TRÁGICO



Nada é mais difícil do que ler o acaso e sustentar opiniões frente ao inevitável.



*


È preciso decorar a paisagens de nossos abismos e vazios com um riso de destilada ironia e absoluto ceticismo.


*


Estou sempre a um passo de mim mesmo...


*


Quanto mais próximos do fim, mais sonhamos futuros e odiamos os limites do cotidianamente vivido.


*


O tempo nada nos ensina alem da consciência do ontológico vazio que nos torna humanos...


*


Pensar no passado é um modo estranho de não compreender o presente e adivinhar o futuro. É uma decepção biográfica da qual não nos recuperamos ...


*


Eu me espero no passo seguinte como um outro inventado pela imaginação dos fatos...



quinta-feira, 26 de novembro de 2009

GRATUIDADE E IMANÊNCIA

Procuro andar

Contra o vento
E na incerta direção
Do dia seguinte
Em vazios de pensamento.

Meu caminho
É um céu aberto
Que se escreve nos atos
De nítido e imperfeito cotidiano,
Onde, paradoxalmente,
Tudo é claro e feito
De mínimo e provisório
Significado.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

CONSIDERAÇÕES SOBRE O INDIVIDUALISMO PÓS MODERNO: UMA REINVENÇÃO DA INTIMIDADE...




Considero a pluralidade e diversidade de indivíduos uma das mais relevantes premissas da condição humana. Pois é somente na presença um dos outros que se torna possível a cada indivíduo a experiência de um mundo propriamente humano, de um cosmos...


Afinal, a existência, configurada como imanência, é aparência ( aparição) ou manifestação daquilo que é comum a todos. Nisso reside o elo perdido de toda manifestar-se do social e coletivo.

Mas, a partir da época moderna, a pluralidade e diversidade de indivíduos deixou de ser um mero dado biológico e originou um fenômeno novo e inédito: O antagonismo e oposição entre eles sustentado pela mera e simples afirmação de sua intimidade contra a afirmação de uma abstrata universalidade fenomenológica experimentada antes de tudo como linguagem e exercício de referenciais e configurações simbólicas.

Não irei aqui me ocupar dos vários fatores culturais e sociais que convergiram para o acontecer desta singularidade contemporânea, para a construção de inédita autonomia do individuo e da singularidade humana frente aos seus pares e a mediação do social moderno. Limitar-me-ei a afirmação de que as codificações culturais contemporâneas encontram na construção da intimidade e da privacidade radical a personificação de um dos seus mais decisivos dilemas.

Isso equivale a dizer que as representações e codificações do mundo fundadas na interação meta pessoal de indivíduos já não são suficientes para da conta da experiência comum de qualquer construção social de mundo. Já não somos mediados satisfatoriamente pelo universal.... Mergulhamos cada vez mais no delicioso abismo da individuação humana.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

SOBRE A METAFISICA OU MITO DO GÊNIO....

Desde o renascimento a noção de “gênio” representou para os modernos um ideal inatingível de grandeza, quase pessoal, e de perfeição individual, algo, marcado pelo estigma do trágico teatral ou épico. Pois nele a individualidade é medida ou julgada pela realização de um grande feito cultural destinado a ultrapassar seu próprio criador, escravizando sua memória em vazia celebração coletiva, onde a singularidade do indivíduo cultuado simplesmente se perde em culto a personalidade...

domingo, 22 de novembro de 2009

NOTA SOBRE O ACASO

Quando visito através da memória meu acontecer biográfico me dou conta do quanto em certas decisivas circunstâncias, transcendi meus limites cotidianos no abraçar de destinos e acasos em intuição e instinto de sonhos de mim mesmo...

Definitivamente, o acaso tem uma lógica, um quase padrão irracional, que cognitivamente nos faz real através de decisivas coincidências frente as quais qualquer enunciado ou significado é dispensável.
O Acaso é um labirinto natural a desafiar teologias e teleologias em nossa busca humana de significado.
O acaso é puro labirnto...



OUT OF...



Diante da porta

Entreaberta do sono
Vislumbro
Meus mais radicais vazios,
Olho nos olhos
Do acaso,
Sem medos ou arrependimentos,
Aguardando o alivio
De um futuro
Que me ignora soberbo,
Como um sonho perdido e perfeito...
See the eyes in the dark...



sábado, 21 de novembro de 2009

FILOSOFIA BY HOUSE





“Querer é essencialmente sofrer, e como o viver é querer, toda a existência é essencialmente dor. Quando mais elevado é o ser, mais sofre... A vida do homem não é mais do que uma luta pela existência com a certeza de ser vencido... A vida é uma caçada incessante onde, ora como caçadores, ora como caça, os entes disputam entre si os restos de uma horrível carnificina; uma história natural da dor se resume assim: querer sem motivo, sofrer sempre, lutar sempre, depois morrer e assim sucessivamente, pelos séculos dos séculos, até que nosso planeta se faça em bocados.”



By Arthur Schopenhauer in AS DORES DO MUNDO

SOBRE O IRRACIONALISMO PROFUNDO DA EXISTÊNCIA

É muito fácil criar explicações complicadas e vazias para a irrelevância dos fatos cotidianos e fazê-los em magia de letra parecerem relevantes... Mas todo significado possível que atribuímos as coisas pressupõe uma boa dose de imaginação...

Acreditamos tanto em nossas arbitrarias representações de “realidade” que não percebemos uma premissa elementar da fenomenologia da existência: Há um “algo mais” irracional em nossas representações conscientes de mundo, em nossa subjetividade, que fere sua duvidosa ou imprecisa ontologia.
Podemos, em ultima instância , associar o fenômeno da vida ao irracional da necessidade ou e uma impessoal vontade que nos devora e sustenta, não nos permitindo uma compreensão adequada daquilo que chamamos pensamento ou consciência... Já que não passam de um fosco e paradoxal reflexo do irracional...

Arthur Schopenhauer e o sentido da vida...




Citações são necesárias na cosntrução de cadeias de sentido que nos sustentam a própria vida e pensamento... Somos como individuos os elos de uma infintita e indefinivel corrente...

“ As coisas só tem atrativo enquanto nos não tocam. A vida nunca é bela, só os quadros da vida são belos, quando o espelho da poesia os ilumina e os reflete, principalmente na mocidade, quando ignoramos ainda o que é viver.”


Arthur Schopenhauer in AS DORES DO MUNDO

sábado, 14 de novembro de 2009

UMA MISSIVA DE C.G.JUNG

A missiva seguinte é uma das mais interessantes dentre a obra epistolar de C.G.Jung. Talvez por nos comunicar um dos dilemas estruturais da cultura humana... a dialética dos opostos e a fragilidade de todo sentimento de verdade em uma cultura massificada, bem como o sofrimento decorrente disto....


" A um destinatário não identificado
França

28.04.1955
“Prezado Senhor,
Suas idéias o confrontam com um problema geral da cultura, que é complicado ao extremo*. O que é verdade num lugar não é verdade em outro. “O sofrimento é o cavalo mais veloz que vos leva à perfeição”, mas também o contrário é verdadeiro. O adestramento pode ser disciplina, e esta é necessária para o caos emocional da pessoa; mas pode igualmente manter o espírito vivo, como o vemos muitíssimas vezes. Na minha opinião não há palavra mágica que resolva em definitivo este complexo de questões; também não existe nenhum método de pensar, viver ou agir que elimine sofrimento e infelicidade. Se a vida de uma pessoa consiste de duas metades- uma de felicidade e outra de infelicidade- isto é provavelmente o ótimo que se pode alcançar; mas permanece sempre uma questão insolúvel se o sofrimento educa mais ou desmoraliza mais.
Seria errado, porem, entregar-se ao relativismo e ao indiferentismo. O que se pode melhorar em determinado lugar e tempo deve ser feito, pois seria mera tolice não fazê-lo. O destino do homem sempre esteve entre dia e noite. Nada podemos mudar nisso.

O destinatário havia anexado à sua carta um manuscrito com o titulo “Die Formel der Verwirrung”. Tratava de sua reação diante da desorientação geral de nossa civilização bem como de suas idéias sobre o crescente “adestramento” dos seres humanos, que os transforma em autômatos."

(C.G Jung. Cartas de; ( volume II- 1946-1955)/ tradução de Edgard Orth; editado por Aniela Jaffé; em colaboração com Gerhard Adler. Petrópolis: Vozes,2002, p. 415-416)



KAOS




Nos diversos rostos

De meus eus perdidos
E espalhados no tempo vivido,
Desconstruo identidades,
Certezas e verdades.

Já quase não sei
Quem sou
Diante de futuros desgovernados
E imagens soltas de pensamento.
Subverto imprudente
Toda tradicional subjetividade...



MEU EU NO TEMPO

MEU

Tento encontrar

A mim mesmo
Nos passados de certos
Lugares,
Colher meus próprios
E concretos vestígios
Para enganar o vazio
De meta futuros,
Contemplando meu rosto
No obscuro
E concreto devir do tempo
Sonhado e vivido...

BREVE NOTA SOBRE A IMAGINAÇÃO DA EXISTÊNCIA

NO

São as imaginações da existência que nos edificam o rosto na experiência de cada dia novo. É o sofrer dos fatos e possibilidades que cumulativamente estabelecem quem somos nas áridas paisagens do mundo vivido.

Imersos em emaranhados de situações definidas a nossa revelia pelo caprichoso acaso, nos transformamos naquilo que nos acontece externamente, como se a realidade realmente existisse...



terça-feira, 10 de novembro de 2009

LIFE...

Respiro vida,

Como vida,
Transpiro vida,
Imergindo em abstrato
E vago pensamento...
Que me leva...
A vida...

Vida é o tudo
E o todo do absurdo
No me fazer impreciso
Entre todas as coisas
Do mundo...


Life is real..
Real is love....

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

TORN DOWN THIS DAY 20 YEARS AGO...




A queda do muro de Berlim completa hoje 20 anos consolidando-se como um dos principais marcos da história social e política do século XX. Embora uma de suas conseqüências diretas tenha sido, obviamente, a reunificação alemã não me parece fecundo interpretá-la como um acontecimento nacional, mas global, no contexto da revolução que então ocorria na Europa centro oriental através da implosão do chamado “socialismo real”.

A queda do muro foi, portanto, um dos mais decisivos momentos do surpreendente fim da guerra fria ou da desconstrução do insano embate ideológico maniqueísta que pateticamente a sustentava.
O mais curioso é que nenhum analista previu na época a possibilidade do evento e, ainda hoje, sua história, bem como dos seus desdobramentos e implicações, permanece por ser escrita...
Talvez caiba aqui uma heterodoxa interpretação da construção dos fatos históricos, como tradução imaginativa do ilegível das épocas... Afinal, toda historiografia não passa de uma curiosa narrativa arbitrária e fecunda que nos inventa e reinventa nas configurações múltiplas de tempo e espaço.





domingo, 8 de novembro de 2009

UMA MANHÃ DE TÉDIOS E ACASOS...



O zumbido do tráfego urbano

Mistura-se a música suave
Do apartamento
Ao lado
Decorando o quarto.

Há algo de frívolo
Ou fátuo
Nesta manhã encolhida
No estreito tempo
Dos atos,
Há um forte cheiro
De tédio
Em tudo que faço,
Além de um grande
Silêncio
Crescendo aqui dentro...



NARCISISMO



Não sei que aparência

Guarda esta época,
O gosto dos acontecimentos
Fotografados no virtual
Dos jornais diários.
Tudo que me importa
É meu próprio retrato,
O perfume dos sentimentos
Espalhados em tempo biográfico
E desarticulado
No abstrato do mais profundo
E fundo pensamento...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

SOBRE O NONSENSE



Uma das mais interessantes codificações culturais legadas pelos anos 60 foi o NONSENSE, cuja origem remonta a literatura oitocentista de Lewis Carroll e Edward Lear .
Podemos apreciá-lo como estilo ou estado de espírito que despreza a artificial coerência racional do senso comum através, por exemplo, dos despretenciosamente inteligentes filmes realizados pelos Beatles como Help e Yellow Submarine.
O NONSENSE funciona como uma espécie de código de liberdade individual frente a racionalidade pragmática a qual somos cotidianamente induzidos, como um resgate falsamente ingênuo da dimensão lúdica e descomprometida da existência...


PÓS MODERNIDADE E CULTURA GLOBAL



Uma das principais características da cultura contemporânea é a fragmentação dos códigos culturais e a interpenetração global das manifestações multiculturais, gerando diversos formatos de hibridismos e sincretismos.
Há uma tendência para construção de um pluralismo cultural global centrado no indeterminado e no efêmero da experiência cada vez mais fragmentada e aberta da vida nos grandes centros urbanos como Londres e Nova York. Isso para não falar do fenômeno da virtualização da experiência cultural...
Os fluxos globais de cultura vem construindo identidades partilhadas e multifacetadas configuradas pela experiência radical de um mercado de tecnologias, imagens, ideias, estilos e linguagens cada vez mais complexas.
Somos cada vez mais livres das inventadas tradições das identidades nacionais e menos condicionados a lógica da formula identidaria “ estado nação”.
É a criatividade individual que agora ganha o primeiro plano dos espaços públicos virtuais e reais através de dispositivos discursivos inspirados na diversidade como principio ontológico em detrimento da adequação a uma identidade social e cultura fixa e rigidamente demarcada.

VERA LYNN : We'll Meet Again



Dentre as “comemorações”, se assim se pode chamar, dos setenta anos de inicio da Segunda Grande Guerra, chamou atenção nos últimos meses o lançamento da coletânea We’ll Meet Again: The Very Best of Vera Lynn. Vera Lynn, hoje com 92 anos, foi uma antiga cantora da época da guerra que pode ser considerada uma espécie de Marlene Dietrich britânica que, com seu inconfundível estilo “diva do jazz”, inspirava as tropas britânicas. A citada coletânea, surpreendentemente alcançou o primeiro lugar nas paradas britânicas no último mês de setembro, o que é um fenômeno no mínimo curioso.

Vera Lynn também viveu experiências cinematográficas estrelando filmes como We'll Meet Again (1942), Rhythm Serenade (1943), One Exciting Night (1944) e Venus fra Vestø (1962). Seu nome é normalmente associado a faixa “Vera” da opera rock The Wall do Pink Froyd, que lhe presta justa homenagem:
 
"Does anybody here remember Vera Lynn
  Remember how she said that
  We would meet again
  Some sunny day
  Vera! Vera!

  What has become of you
  Does anybody else in here
  Feel the way I do ?"







quarta-feira, 4 de novembro de 2009

SEX PISTOLS by Patrice Bollon...

Patrice Bollon nos oferece em A MORAL DA MASCARA uma leitura bastante interessante do niilismo personificado pelo movimento punk. Tratar-se-ia, segundo ele, de uma verdadeira pedagogia do absurdo, de uma denuncia da desrealidade da sociedade a partir de sua caricaturização. Ou seja tudo se resumiria em ironizar o mundo. Naturalmente, ele utiliza como referencia em sua reflexão o explosivo fenômeno dos Sex Pistols, o mais emblemático dentre as bandas punks.

Em suas palavras:


“ ... “A maior vigarice do rock and roll”, como se gabou abertamente o empresário e “criador” absoluto do grupo, Malcolm McLaren, foi realmente muito mais do que uma simples ação caótica de agitação, que aproveita qualquer provocação na desordem de uma espontaneidade exacerbada, a qual só conhece seu prazer imediato; foi um verdadeiro empreendimento consciente e deliberado de desmitificação que os “quatro anarquistas absolutos” quiseram realizar. Uma ação proposital de “agit-prop”. O Sex Pistols queriam mostrar, demonstrar, com seu exemplo o absurdo daquela “sociedade do espetáculo”que os cercava, levando ao extremo seus mecanismos até o ponto em que estes, se embaraçando em sua própria lógica fatal, caiam na irrealidade e no vácuo. Sua estratégia consistia em se introduzirem cada vez mais profundamente, como cavalos de Tróia, nas engrenagens do Show-business e da mídia para destrui-las do interior, ou melhor: levá-las a se autodestruirem. Procuraram desestabilizar o sistema. No momento suas provocações pareciam ser “espontâneas”- era issoaliás o que lhes dava força: elas pareciam sempre imprevistas, inimagináveis, “inéditas”, com o recuo elas apareciam, pelo contrário, todas colocadas numa mesma direção, no mesmo alinhamento, um único vetor. Na falta de convergirem para um projeto preciso, claramente formulável, ordenavam-se segundo uma estratégia, uma progressão lógica quase implacável: elas apareciam como verdadeiras “invectivas” cada vez mais violentas e cada vez mais agudas, destinadas a fazer a sociedade perder as estribeiras, até que ela “confessasse”, mais ainda, confessasse a si mesma sua nulidade.
Com efeito, quanto mais os Sex Pistols queriam ser Punks, mais eles eram realmente “nulos”, mais eles obtinham sucesso; e esse sucesso os levava a ultrapassar continuamente novos degraus no movimento punk. O vazio selava seu triunfo, e esse triunfo os levava a recuar ainda e sempre os limites do vazio.”

(Patyrice Bollon. A Moral da Mascara: Merveilleux, Zazous,Dândis,Punks, etc. Tradução de Ana Maria Scherer. RJ: Rocco, 1993, p. 149 )

ALIVE

As cores explodem

Em um campo de girassóis.
Tudo parece perfeito
E frágil na paisagem
Que me beija os olhos
Em festa de cores e luz.

Posso escutar a matéria
Em forma de natureza
Na simplicidade de ser
No acontecer do tempo
Preso a quase realidade
De um belo jardim...

From you have
I been absent in the spring...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

SOBRE A MORAL E A MASCARA by PATRICE BOLLON



Em A MORAL DA MASCARA, obra original de Patrice Bollon, somos desafiados pela virtualidade de indivíduos que, em diversos momentos da modernidade, através do simbolismo das vestes e das aparências desafiaram o senso comum e os valores estabelecidos por intermédio do superficial e banal de seus “sinais exteriores de comportamento”.

Como esclarece o autor:
“Sempre existiram indivíduos - nem sempre jovens e ainda menos necessariamente “marginais”- que se expressassem e se afirmassem através de um estilo, simples pose de traje ou então um modo de vida global em ruptura com as normas, aceitas por sua época, da “elegância”, do “bom gosto” e da “respeitabilidade”. Homens - e certamente mulheres também – que pretendem com sua aparência contestar um estado de coisas, uma escala de valores, uma hierarquia de gostos, uma moral, hábitos, comportamentos, uma visão de mundo ou um projeto, tais como são refletidos pelo traje dominante, pelo estilo obrigatório ou pela referência estética comum da sociedade em que vivem. Enfim, homens e mulheres que são, querem ser ou se imaginam “outros”, diferentes, estranhos, singulares e pretendem mostrá-lo com o que se vê em primeiro lugar, a aparência.”

(Patyrice Bollon. A Moral da Mascara: Merveilleux, Zazous,Dândis,Punks, etc. Tradução de Ana Maria Scherer. RJ: Rocco, 1993, p. 11 )

Somos, assim, introduzidos através desta singular pesquisa no universo simbólico dos petis-maîtres, roués e libertinis franceses do séc. XVII, decadents, pâmés e apaches do final do século XIX, os teddy boys londrinos das ruelas de East End londrina, punks,rockabillys,skinheads,skas, heavy metal kids, rastas, soul boys dos anos 70, etc... em sua profundidade pelo superficial da aparência.
Todos os estilos aqui citados, em diferentes épocas, contextos históricos e culturais, funcionam como projeções simbólicas, fantasmas sociais, que não descrevem ou denunciam a realidade, mas a imaginam, a reinventam com suas cores e alegorias. São ficções vivas que contam a si mesmas e aos outros em um modo de ser que é recusa de toda identidade na moral da singularidade que caracteriza de um modo geral a inquietude cultural recorrentemente manifesta principalmente nos fins de século....













FREDERIC JAMESON E O PROBLEMA DA CONTINGÊNCIA NO "MODERNISMO TARDIO"



Apesar de francamente avesso a leitura que Frederic Jameson faz das modernidade, considero bastante pertinente sua leitura da literatura do modernismo tardio apresentada em um dos ensaios que compõem a coletânea A Modernidade Singular (A Singular Modernity). Refiro-me mais especificamente a suas considerações em torno da apropriação moderna do conceito medieval de contingência. Tomando como exemplo a obra de autores como Nabokov, Beckett, Joyce, Sartre, etc. Jamenson sustenta que a matéria prima a partir da qual suas narrativas são construídas pressupõem uma desfiguração do conteúdo decorrente de uma incapacitação ou deficiência universal da realidade.

Jameson nos chama, portanto, atenção para a difícil equação entre autonomia da linguagem estética e codificação da realidade no dito modernismo tardio que traduz uma profunda crise epistemológica inerente a própria modernidade, ou seja, uma generalizda crise de representação ou codificação da realidade:

 
“... Diremos aqui, justificadamente, que se pode detectar muito antes do problema da contingência, em todos os próprios modernismos originais, como um indício do fracasso completo da forma para dominar e se apropriar do conteúdo que a obra destinou a si mesma ( ou melhor, que ela se destinou e propôs incorporar, como tarefa). O conceito de contingência é evidentemente um conceito ainda mais antigo, que surge na teologia medieval, onde constitui a única instância de algo que, escandalosamente, é impossível de se assimilar ao universal que constitui a sua idéia e que é associado ao divino. A contingência, assim, é a palavra para o fracasso da idéia, o termo para o que é radicalmente ininteligível, e antes pertence ao campo conceitual da ontologia do que ao das diversas epistemologias que se seguem e que substituem uma filosofia ontológica no período “moderno” ( ou desde Dercartes). A referencia medieval é, assim, de muita utilidade, na verdade, na medida em que sublinha a temporalidade do conceito, suas marés e correntezas nas vicissitudes da história, como um indício de alguma ruptura do processo ou sistema conceitual. Mas a crise da epistemologia, assinalada pelo ressurgimento do problema da contingência no século XIX ( ou desde Kant) é talvez mascarada primeiramente pelo prestigio da ciência emergente e pela transferência das afirmações epistemológicas para aquele campo totalmente novo da produção intelectual, que só começa a experimentar a sua própria crise epistemológica quando já bem avançado no século XX. De qualquer forma, desejo postular uma sutil e ao mesmo tempo fundamental distinção entre as preocupações estéticas com a sorte e o acidente, como as que deram forma ao alto modernismo, e os problemas, menos temáticos e mais formais representacionais, colocados pela contingência, no que tenho chamado de modernismo tardio.
Eis um argumento ardiloso para apresentar: a antiga idéia medieval ( seria ela realmente um conceito em algum sentido positivo?) é estrategicamente revivida pelos novos existencialismos e reencenada de forma mais enfática por Sartre, que nos informa que tinha algo a ver com as idas ao cinema, quando criança: sair de um teatro que, humanamente, produzia imagens humanas era o mesmo que suportar o choque da existência de um mundo real à luz de um barulhento dia urbano. A experiência da contingência, assim, não depende apenas de uma determinada percepção do mundo, mas tem também, como precondição fundamental, uma experiência da forma com a qual aquele mundo é dramaticamente comparado.
Mas já não era o cubismo uma tentativa de fazer face a tal experiência, multiplicando os cacos da forma, nos quais a explosão do velho objeto estável do dia a dia fora transformado? E não dá, cada linha do Ulisses, testemunho de uma realidade empírica sempre em mutação, que as múltiplas formas de Joyce ( desde o paralelo com a Odisséia até o formato em capítulos e a própria estrutura das sentenças) são incapazes de dominar? O que pretendo discutir aqui, muito apressadamente, é que entre os modernos essa forma jamais é dada antecipadamente: ela é gerada experimentalmente no encontro, conduzindo enganosamente a formações que jamais poderiam ser previsíveis ( e cujas multiplicidades, incompletas e intermináveis, são amplamente demonstradas pelos incontáveis modernismos).”
( Frederic Jameson. Modernidade Singular: Ensaio sobre a ontologia do presente. Tradução de Roberto Francisco Valente. RJ: Civilização Brasileira, 2005, p. 239 et seq. )

Tudo que Jameson procura afirmar é que a contingência no modernismo tardio funda-se na dialética entre a forma estética em si ( autonomia da arte) e os fatos brutos e concretos da realidade que, significativamente, contradizem a pretensão de uma autonomia estética. Assim, a substituição dos obscuros absolutos estéticos do modernismo clássico pelas autonomias estéticas do modernismo tardio conduzem a uma literatura mais cotidiana e associada à existência concreta recusada pelo pós modernismo. Para oautor, é bom lebrar, de ascendência marxista, é inconcebível uma literatura divorciada da realidade social...
Pessoalmente, creio que, justamente por isso, Jamenson subestima seu próprio argumento ao não reconhecer nele a constatação de uma profunda crise ou saturação de nossas formas de representação tradicionais da realidade e codificação social do mundo que põe em xeque o paradigma moderno e suas ilusões.