quarta-feira, 30 de setembro de 2009

MAR E VIDA...



Viverei o mar

Como errante
E livre marinheiro
No castelo da proa
De um pequeno
E doce navio.

Verei o sol brincando
Nas ondas
Em ritmos de tempo
E vento.

Serei pirata, baleeiro,
No receio de terra firme
E incerteza
De vida de cada dia
com o louco do mar...
Longe daqui...



terça-feira, 29 de setembro de 2009

SOBRE A INSUFICIÊCIA DO TEMPO PRESENTE...

O presente, como substantivo ou adjetivo, não possui signifado real, na medida em que não oferece uma satisfatória diferenciação do que entendemos como passado e como futuro.


Ele é, em nosso cotidiano, uma ideia fugidia e vaga fundada na experiência de existir apenas em um corpo no tempo e espaço… ou na perpetuação da experiência ciclica de acontecer em cada dia como quase não lugar do mundo socialmente apreendido…


Tal premissa não é suficiente para nos permitir conclusões satisfatórias ou “verdadeiras” sobre aquilo que nos ocorre como existência em condição humana …
Apenas nos serve de esterco para a gratuita semente da duvida...





NOSTALGIA

O melhor de mim
Perdeu-se em passados,
Foi corroido pelo tempo
Em meio a duvidas
E ceticismos…


O que, afinal,
É o aprendizado da existência
Além do progressivo domínio
Do cândido vazio
Que nos ensinam os ventos?


Tudo que há
É o passar dos dias e noites
Entre a imaginação de estrelas…

domingo, 27 de setembro de 2009

SOBRE A ESSÊNCIA DO MUNDO COMO LINGUAGEM...

Uma vertiginosa variedade de alternativas… Eis aqui a mais adequada definição do acontecer da vida na suceder-se interminável dos fatos vividos. … Interesse, desejo, mudança, segurança… emoção!... Incerteza…

O desencanto é o remédio para todas estas tolices que nos pertubam no acontecer humano. O pensar enxuto e objetivo, sem surpresas ou expectativas. Isso é tudo que importa… Somente quando nos distanciamos de tudo podemos tocar e saber a existência, suportar o mundo vivido e imediato como um jogo gramatical socialmente construido…

THE PEACE FESTIVAL: 40 anos depois...



Em 13 de setembro de 1969 ocorreu em Toronto (Canada) o PEACE FESTIVAL, obviamente uma referência a guerra do Vietnã. Participaram do show ícones do rock and roll como Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Litle Richard, além de John e Yoko Ono, acompanhado de figuras como Erich Clapton. Os Beatles, então, ainda não haviam oficialmente terminado, o que aconteceria um pouco depois. Este evento pode ser considerado, portanto, a primeira performance pós Beatles de Lennon . Cabe observar que este involuntário marco da histório do rock mostra muito significativamente a vitalidade e atualiudade do velho rock dos anos 50, apesar das reformatações sofridas nos anos 60….

sábado, 26 de setembro de 2009

THE BEATLES AND REAL LOVE…



Neste  ano completam-se 40 anos que os Beatles acabaram… O fato foi lembrado através da reedição de sua obra no mágico dia 09/09/09 e de um videogame, mas também  pela matéria de capa da lendária revista Rolling Stonnes consagrada em sua edição de setembro a um ótimo e minuncioso ensaio de Mikal Gimore sobre os conturbados bastidores do fim daquela que foi a mais importante banda de rock de todos os tempos.
O crepúsculo da saga dos Beatles, para o autor segue as vicissitudes de uma história de amor. Imagem que me parece adequada para traduzir seu legado musical e ontológico. Sobre isso é curioso observar que essa imagem tambem foi explorada através do musical ACROSS THE UNIVERSE dirigido por Julie Taymor.
Ofereço ao leitor as próprias palavras do autor para experiência e julgamento:

“… TUDO ISSO LEMBRA UMA HISTÓRIA DE AMOR? O amor perde todo o seu valor quando tudo termina? Talvez sim, embora finais não apaguem a história; em vez disso, a concluem. A história dos Beatles sempre foi, de certa forma, maior do que os próprios Beatles, tanto a banda quanto os indivíduos que a formaram: foi a história de uma época, de uma geração que buscava novas possibilidades. Foi a história do que acontece quando você encontra essas posibilidades, e o que acontece quando suas melhores esperanças vão por agua abaixo. Sim, foi uma história de amor- e o amorquase nunca é uma benção simples. Porque, por mais que os Beatles possam ter amado o que faziam juntos, o mundo em volta os amava ainda mais. Foi esse amor que, mais do que qualquer outra coisa, exaltou os Beatles e os acorrentou juntos por tanto tempo. Algo que, por fim, nenhum deles conseguiu suportar. Jonh Lennon, em particular, sentia que precisava acabar com o romance, enquanto Paul McCartney em especial odiava a idéia de vê-lo despedaçado. E, uma vez que estava feito, estava feito. Tudo que eles criaram-cada uma das maravilhas-ainda reverbera, mas os corações responsáveis por tudo aquilo também foram responsáveis pelo seu fim, e nunca se recuperaram totalmente da experiência. “Foi a tanto tempo”, George Harrisson declarou anos mais tarde. “Às vezes, me pergunto se eu estava mesmo lá ou se foi tudo um sonho. Um sonho que nos elevou, que partiu nossos corações, que ainda perdura e que provavelmente jamais será igualado.””






DEVOULING TIME



Até a pouco
Gratuitamente experimentava
O superficial do agora
De todos os dias iguais…
Mas avançou repentinamente
Sobre mim
Algum outro instante
De vivido e vívido momento,
Um vazio estranho
De absurdo de tempo e espaço.

Deslocado das coisas,
Surpreendi-me despedaçado,
Em metafísico silence,
Rasgando meu próprio rosto
Na paisagem magical
De um simples espelho…



sexta-feira, 25 de setembro de 2009

DE PROFUNDIS by OSCAR WILDE



Publicado originalmente em 1905 pelo amigo Robert Ross, o longo relato epistolar, De Profundis, de Oscar Wilde, um de seus vários textos escritos durante o cárcere, é uma resposta do autor a sociedade conservadora inglesa de sua época, que lhe condenou a dois fatais anos de prisão por atentado a moral vigente devido a sua homossexualidade.

Cada uma de suas partes corresponde às cartas que Wilde escrevia para seu jovem ex-amante, Lord Alfred Douglas, pivô do processo que lhe condenou.
Trata-se de um texto realmente singular na história da literatura inglesa devido a sua melancólica intensidade e simultânea aposta do autor na recuperação póstuma de seu perdido prestigio literário.
Mas trata-se acima de tudo de uma intensa reflexão sobre a condição humana, seus autos e baixos, bem como sobre a natureza da arte...
Segue um interessante fragmento da comentada obra:

“O artista esta sempre buscando um modo de vida, no qual a alma e o corpo sejam uma coisa só, indivisível, em que o exterior seja a expressão do interior e a forma revele tudo. Tais modos existem, e não são poucos, Num determinado momento, a juventude e as artes que se preocupam com a juventude podem nos servir como modelo. Em outros, podemos talvez preferir a idéia de que na sua sutileza e na sensibilidade de suas impressões, na sua sugestão de um espírito que habita as coisas externas e faz de suas vestes de terra e de ar, de bruma e cidade, indistintamente, a moderna arte do paganismo, na mórbida afinidade do seu clima, dos seus tons e cores, realiza para nós, pictoricamente, aquilo que os gregos realizavam com tanta perfeição plástica. A música, na qual o tema é absorvido pela forma de expressão e não pode ser separado dela, é um exemplo complexo- e uma flor ou uma criança são um exemplo simples- do que estou tentando dizer, mas o sofrimento é o exemplo fundamental, tanto na arte quanto na vida.
Por trás das alegrias e do riso pode esconder-se um temperamento grosseiro, áspero e insensível. Mas por trás do sofrimento há sempre mais sofrimento. Diferente do prazer, a dor não usa mascara. A verdade na arte não é a correspondência entre a idéia essencial e a existência acidental, não é a semelhança entre a forma e a imagem, ou entre a forma refletida no espelho e a própria forma em si; não é o grito que ecoa no vale entre as montanhas, nem o poço de águas prateadas que refletem a imagem da lua para a lua, ou a imagem de Narciso para Narciso. A verdade na arte é a união da coisa com ela mesma, o exterior tornando-se expressão do interior, a alma revestida de forma humana, o corpo e seus instintos unidos ao espírito. Por essa razão, não há verdade que se compare ao sofrimento. Há momentos em que esta me parece ser a única verdade. Outras coisas podem ser ilusões dos olhos ou do apetite, feitas para cegar um e saciar o outro, mas é o sofrimento que tem construído os mundos, há sempre dor no nascimento de uma criança ou de uma estrela.”

( Oscar Wilde. De Profundis e outros escritos do cárcere/tradução de Julia Tetamanzy e Maria Ângela Saldanha Vieira de Aguiar. Porto Alegre: L&PM Editores, 2002, p. 101-102 )

CONDIÇÃO HUMANA

Viver é como correr

Por desertos
A espera de notícias
De terras distantes.

Não importa
O que aconteça,
Estamos sempre vazios,
Sedentos de experiência
E existência…

Send more love…
Now…

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

UNIVERSE




Somos todos
Poeiras de estrelas,
Restos animados
Da história
De um mágico universo
Onde existimos anônimos
E atônicos.

A mais profunda natureza
Contradiz
As certezas humanas...

Existir é um conceito
Relativo e provisório
Que escapa a razão
Que desenha a palavra.



quarta-feira, 23 de setembro de 2009

SOBRE O MOVIMENTO PUNK ( ORIGENS E SIGNIFICADO)



Originalmente o punk surge por volta de 1975, nos Estados Unidos, através do punk rock da banda The Ramones , cuja proposta era a de uma revitalização da cultura rock and roll (músicas curtas, simples e dançantes) e do estilo rocker/greaser (jaquetas de couro estilo motociclista, camiseta branca, calça jeans, tênis e o culto a juventude, diversão e rebeldia). Contraposto as então grandes bandas e icones do rock, o estilo “faça você mesmo” de musicas simples de três acordes, que qualquer um poderia fazer, começou a se difundir rapidamente. No ano seguinte a boa nova chegou a Inglaterra, onde o descomprometido punk rock ganhou novas formatações e conteudos originando assim o chamado movimento e cultura Punk.



Dois marcos fundadores deste movimento merecem ser citados: o Fanzine Sniffin’Glue ( Cheirando cola) e a radicalmente anarquica e niilista banda Sex Pistols, tutelada por Malcom McLaren, um afccionado pelo dadaismo e a cultura de vanguarda. Nenhuma outra banda de rock até hoje vociferou tão radicalmente contra a cultura estabelecida, ideologias politicas, valores morais e religiosos como os Pistols. Ainda hoje simbolo máxio do niilismo punk, apesar da curta carreira, eles se tornaram um dos maiores icones de rebeldia e cultura juvenil dos últimos tempos. A partir de 1977, a cultura punk começou a se tormar as ruas e se ramigicou em diversos sub generos consolidando-se tambem como uma estética que influenciava modas e comportamentos. É facil compreender o impacto do punk rock na Inglaterra dos anos 70, marcada pelo Thatchismo mas a força do seu impácto na cultura popular é bastante complexa.


Sabe-se hoje o quanto o mundo do rock foi profundamente abalado e transformado pelos punks. O New Have e o Heavy Metal dos anos 80 foram apenas as primeiras ondas pós punks aos quais, ironicamente, muito deve a musica pop dos últimos anos.


Ao buscar desconstruir o mito do rock que se difundia através da industria do enterterimento e representava certa diluição de sua cultura social, o punk não fez mais do que dessacraliza-lo e lembrar o quanto o rock é muito mais do que um estilo musical, mas uma cultura.

SPRINGTIME

A primavera

Enterra-se no em torno
Como um perfume
Onipresentemente adocicado

A decorar com cores a paisagem.

Parece dizer alguma esperança
Ou intuição de novidade
Em pequenos ritos mudos de fertilidade,
Como se alguma intencionalidade
Encantasse o mundo...



terça-feira, 22 de setembro de 2009

A PÓS MODERNIDADE E O BINÔMIO TEMPO E ESPAÇO

Uma das questões nodais do novo século, que apenas começamos a construir ou discutir em nossos conservadorismos de representações e linguagens, talvez seja a redefinição da noção de tempo e espaço.

Mesmo assim, o fato, é que já não olhamos o futuro do mesmo modo otimista e, ao mesmo tempo, pessimista, personificado pela ambigüidade do imaginário do século XX, profundamente apegado a fantasia da continuidade linear entre passado/presente/futuro.
A retração e simultânea expansão de nossas representações do tempo presente sugerem, ao contrário, que o passado e o futuro já não são para nós dimensões diferenciadas da experiência do agora. Mas simultâneas manifestações daquilo que compreendemos como tempo, ou como representações da temporalidade, já que ela não passa de uma projeção de apostas e projetos que fazemos de nós mesmos enquanto imaginação de existência em referência organizada de nosso próprio acontecer fenomenológico.
Vivemos hoje em sucessão de memórias e experiências que já não formam um “roteiro”, que não dizem significados ou especuladas possibilidades de futuro ou identidade.
Afinal, é importante frisar, toda tradição jaz morta e tudo que temos agora é, na verdade, um desregramento de nossas representações tradicionais do tempo e da temporalidade...
A vida vivida em pensamento e sentido foi abolida pela irracionalidade mágica do caos de sucessivos instantes em saudável confusão....

O MITO DE CARLITOS, O VAGABUNDO....

Apesar de todas as inovações tecnológicas sofridas pela estética cinematográfica ao longo das últimas décadas, o celebre vagabundo de Charles Chaplin permanece como uma imagem contemporânea e viva no imaginário coletivo.
Mesmo limitado ao preto e branco de seu admirável mundo mudo, ele ainda é capaz de nos comunicar algo, acordar imaginações e afirmar-se ainda como um dos mais populares e mágicos personagens do cinema de todos os tempos.
Lidamos aqui, obviamente, com uma imagem mítica. Humberto Braga em uma conferência sobre quatro mitos definidores da condição humana, coloca o velho Carlitos ao lado de Prometeu, Don Quixote e Fausto enquanto símbolo do ideário de liberdade em variações peculiares do da imagem arquetípica do herói civilizador.
Considero particularmente pertinente aqui a seguinte passagem desta conferência:

“Carlitos, o Vagabundo, é sobretudo um símbolo da liberdade, como bem definiu Otávio de Farias. O vagabundo afirma e preserva sua individualidade ante uma sociedade massificadora, uniformizada, destrutora da individualidade. Ele manifesta insólita e ostensivamente a sua diferença num meio que não tolera os diferentes. Tal como Dom Quixote, é um otimista ingênuo, mas irredutível. Nada o abate, vicissitude ou malogro algum o deprime. Sua luta não se apresenta como beliciosidade ou agressividade, mas numa instintiva e obstinada resistência da qual não tem família consciente, pois não a racionaliza, não a justifica, nem mesmo a verbaliza. Carlitos não tem família, não tem casa, não tem trabalho fixo, não pertence a qualquer classe social, não tem planos, não tem planos, não tem objetivos, não tem ideais, não tem ambições, não tem religião, não tem passado e não tem futuro, mas ama alegremente a vida e, se não quer mudar o mundo, tampouco se deixa subjugar por ele, apesar de sua aparente fragilidade. Como os mitos anteriores, também não está limitado pela visão da “possibilidade”



(Humberto Braga. Quatro grandes mitos humanos. In Mitos e Arquétipos do homem contemporâneo. Walter Boechat (org.) Petrópolis: Vozes, 1995, pg.16-17)


INTENTIONS OF NIGHT...

Devora-me a urgência

Dos compromissos diários...
Enquanto imaginações
Freqüentam o sol poente.

Bastaria -me agora
A paz de um jardim inglês
Em manhã de branda chuva
E serena esperança.


Não quero mais que a calma
Do silêncio que me fala
No passar e passear do vento
Encantando ruas, luas
E sonhos....

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A INTIMIDADE DE UMA PRÉ-MANHÃ...

Deito sobre o silêncio

Que antecede o amanhecer
Sem expectativas
Para o dia que se anuncia.
Apenas me contemplo,
Em segredo de mim mesmo,
Disperso na paisagem
Do acontecer humano.
Deixo-me abandonado
Aos fatos,
Calado e abstrato,
No lugar nenhum
De reflexões e pensamentos
Íntimos...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

SOBRE O INDETERMINADO DO TEMPO PRESENTE


O tempo presente é, em indeterminados sentidos e sentimentos, algo que não cabe em qualquer conceito possível, um aprendizado da indeterminação do real. Talvez, o melhor modo de dizê-lo é a afirmação de que, em relação a ele, não cabem definições, apenas descrições do imediato e instantâneo ato de viver em palavras e imagens em dialéticas confusões...

O contemporâneo pressupõe uma identidade tão profunda entre pensamento e vida que a esvazia de todo sentido abstrato ou metafísico...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

KISS


Olho nos olhos

Da noite
Procurando no escuro
O brilho de um rosto
Que se perdeu em meu disperso olhar.

Talvez eu nunca o reencontre.
Talvez ele nem tenha de fato
Existido...
Mas guardo nítido seu gosto
E a vontade de me fazer parte
De sua paisagem
Através do mundo contido
Na aventura de um beijo....

UM FRAGMENTO DE LUDWIG WITGENSTEIN...

“ A arbitrariedade das expressões lingüísticas.Seria possível dizer: uma criança tem naturalmente de aprender a falar uma língua particular mas não tem de aprender a pensar, isto é, ela pensaria espontaneamente, mesmo sem aprender nenhuma língua?
Mas, a meu ver, se ela pensar, então ela forma para si figurações e, em certo sentido, estas são arbitrárias, isto é, na medida em que outras figurações poderiam ter desempenhado o mesmo papel. Por outro lado, a linguagem sem duvida surgiu naturalmente, ou seja, é de presumir que tenha havido um primeiro homem que, pela primeira vez, exprimiu em pensamento definido em palavras faladas. E, além disso, toda essa questão tem caráter arbitrário, porque uma criança, ao aprender uma língua, só a aprende ao começar a pensar por meio dessa língua. Começa repentinamente; quero dizer: não há nenhuma etapa preliminar na qual uma criança já usa uma língua, usa-a, por assim dizer, para a comunicação, mas ainda não pensa por meio dela.
O processo de pensamento do homem comum trabalha certamente com uma m,istura de símbolos, dos quais os símbolos propriamente lingüísticos constituem talvez apenas uma pequena parte.”
( Ludwig Witgenstein. Observações Filosóficas. Selecionadas entre seus escritos póstumos por: Rush Rhees. Tradução: Adail Sobral e Maria Stela Gonçalves. SP: Edições Loyola, 2005, p.39 )

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

SOBRE A FILOSOFIA DE WITGENSTEIN II


A filosofia do segundo Wittgenstein pressupõe uma definição “complexa”... Segundo o próprio autor ela personifica a luta contra o enfeitiçamento de nosso entendimento pelos meios de nossa linguagem. Não possui, assim, uma função positiva, ou seja, a elaboração de uma concepção própria da existência ou do universo. Também não aspira a uma teoria da lógica ou da linguagem.
A filosofia, tão somente, coloca as coisas tal como são, não explica ou conclui nada. Assim, desempenha tão somente uma função terapêutica, ou seja, a de livrar os filósofos de seus problemas mediante a tomada de consciência dos seus preconceitos gramaticais.
Trata-se aqui, ao mesmo tempo, de uma retomada da filosofia critica de inspiração kantiana e de uma ruptura com o que convencionalmente se entendeu ao longo de toda tradição filosófica ocidental por filosofia...
Através da percepção de “ jogos de linguagem” Witgenstein tornou possível uma superação do método filosófico clássico assentado em definições, hipóteses, teorias e provas.
De certa maneira, sua filosofia é um sintoma da exaustão da tradição filosófica que se identifica, direta ou indiretamente com a tradição da modernidade e suas meta narrativas. A filosofia proposta pelo segundo Wittgenstein mais se aproxima da expressão artística e da experiência imediata da biográfica e socialmente vivida do que da racionalidade moderna configurada pelo modelo cognitivo das ciências naturais...













SOBRE A FILOSOFIA DE WITIGENSTEIN I


O pensamento de Wittgenstein constitui um dos mais representativos exemplos da nova concepção de filosofia emergente a partir da primeira metade do século XX inspirada pelo pragmatismo.
O desenvolvimento de suas reflexões compreendem duas fases distintas: a primeira representada pelo seu Tractatus Lógico- Philosophicus, originalmente publicado em 1921, e a segunda representada por suas Philosophical Investigations, publicada postumamente em 1953.
Em ambas as fases a preocupação central do autor é a compreensão das estruturas e limites do pensamento através da critica filosófica da linguagem. Mas enquanto o Tractatus nos oferece numa filosofia sistemática da linguagem fundada na análise logica do discurso factual, as Investigações, ao contrário, abandonam a posição segundo a qual a filosofia é uma investigação de um sistema objetivo, passando a compreende-la como uma luta contra a fascinação que certas formas de expressão exercem sobre nós. Assim, as palavras só tem significações na corrente diária do pensamento e da vida através das práticas dos jogos de linguagem.
Nas Investigações, portanto,Wittgenstein ocupa-se dos fundamentos do conhecimento factual de um ponto de vista epistemológico/ ontológico em detrimento do ponto de vista lógico/formal adotado no Tractatus.
Através dos jogos de linguagem o significado torna-se indeterminado, transcende a simples análise da expressão lingüística, diluindo-se nos múltiplos contextos de uso da prática concreta e social da linguagem, suas regras de uso cotidiano.


HUMAN CONDITION





Existimos
No pensar das palavras,
Submersos na diversidade
De imagens que traduzem
Em significados
O ilegível do mundo.
Buscamos atônicos
Migalhas de verdade,
Qualquer mínima certeza,
Ou inequívoco sentimento
De nos mesmos
Na fluida experiência
De todas as coisas
Em atos e pensamentos...
Mas nada
É suficientemente real...



domingo, 13 de setembro de 2009

SHAKESPEARE BY F.E. HALLIDAY


A bibliografia sobre Shakespeare é praticamente infinita, sendo impossível a um não especialista construir um satisfatório panorama dos temas e questões que envolvem o estudo de sua obra e biografia.
Aqueles que como eu fascinam-se com seu teatro e buscam mergulhar em seu universo como humildes diletantes, podem contar apenas com a sorte de esbarrar em algum titulo confiável que lhe sirva de guia em tão difícil empreitada.
Pessoalmente acredito que o volume da coleção “Vidas Literárias” sobre o velho bardo, de autoria de F. E. Halliday, é uma das mais competentes introduções ao complexo universo shakespereareano.
A principal característica deste ensaio biográfico é a sobriedade e rigor da narrativa que equilibra com maestria a experiência do mito, da obra e do homem nos oferecendo um convincente retrato do biografado. Neste sentido, certa passagem do aqui comentado ensaio me é particularmente significativa:
“Embora Shakespeare seja tão fugidio, porque tão multiforme, sempre mudando de um personagem para outro, seu espírito permeia as peças, e nós a lemos não só por sua poesia ou pelos personagens que nelas encontramos, mas pelo homem que ele foi. É isso, mais do que qualquer outra coisa, que as torna tão consoladoras. Nós as lemos por sua amável sabedoria, sua avassaladora e meridiana iluminação da vida, sua alegria e seu espírito, sua sanidade essencial: porque ele era o homem idealmente normal, cujas abrangentes faculdades estavam sempre perfeitamente afinadas e sintonizadas. Lemos Shakespeare porque ele é o homem que todos nós gostaríamos de ter como amigo.”
( F.E. Halliday. Shakespeare/tradução de Bárbara Heliodora. RJ: Jorge Zahar Editor, 1990, p. 120 )

THE BACK TO THE FUTURE

Sou compelido a voltar,

Retornar as origens
Em buscas de significações
Perdidas
Que de algum modo
Conduzam meu eu
Á profundeza
De algum distante futuro...
Sou compelido a buscar
Entre meus tantos passados
Um traço de perspectiva
E destino
Em labirinto
Que me guarde ou aguarde
Além de mim mesmo
Em escuro canto e encanto
De mera existência...

sábado, 12 de setembro de 2009

ENCONTRO


Toda pessoa humana

Define-se
Por sua exterioridade,
Pelo não lugar de sua essência
Na permanente desconstrução
Da existência
Em sensações coletivas.

As ilusões do outro
Nos vestem de profundidade
Enquanto extrapolamos
Os limites do rosto
Nas auto representações
De nós mesmos
Vomitadas em um beijo...



segunda-feira, 7 de setembro de 2009

BEATLES E POS MODERNIDADE: O EFEITO NOWHERE MAN

A crise de representação que configura a cultura contemporânea afeta especialmente o pensamento critico, esta tendência filosófica que busca a partir do modelo das ciências naturais a construção de conceitos e definições cada vez mais “precisas”, um esforço reflexivo em permanente auto superação analítica de si mesmo inspirada no mito de um “saber absoluto” a ser alcançado.
Tal metafísico objetivo, que conduziu muitos filósofos e pensadores a balburdia e confusão de indagações, definições e explicações infinitas sobre “O que é o mundo, as coisas e o pensamento”, definitivamente exauriu-se...
Já não há nenhum objeto que seja legível ao conhecimento... apenas a performance lingüística como estratégia de livre representação de um real que absolutamente nos escapa e sobre o qual não temos nada a dizer.
No tempo presente pensar identifica-se com a desconstrução do próprio pensamento... ou com a arte ou o jogo de codificar a própria imaginação...
Um dos ensaios mais interessantes da coletânea The Beatles and Philosophy BY Michael Baur and Steven Baur, é o de James Crooks “ PEGUE UMA CANÇÃO TRISTE E FAÇA-A MELHORAR: OS BEATLES E O PENSAMENTO PÓS MODERNO. Uma determinada passagem deste ensaio me é particularmente cara por definir com precisão o significado da contra cultura que os Beatles representaram e ainda representam através de uma leitura pós moderna através do “efeito Nowhere Man”, diga-se de passagem uma de minhas canções prediletas dos Beatles:
“ As palavras “deixe-me de fora!” exprimem alienação -um tema central para os Beatles do começo do fim. As vozes narrativas de “Misery”, I call Your Name”, “You Can’t Do That, “I’m a Loser”, “I’m a Loser”, “I’m Down”, “Run for Your Life”, e “I’m Looking Throught You” pertencem a amantes alienados. As mulheres retratadas em “Eleanor Rigby”, “Lady Madonna” e “She’s Leaving Home” são amigas e parentes alienadas. As pessoas Em Paperback Writer, “A Day in the Life”, “Taxman” e “Piggies” são consumidores ou trabalhadores alienados. Cantar esse tema não é, em si, algo particularmente notável. Os grupos de rhythm’n’blues que deram origem ao rock e suas conseqüências já eram, de forma coletiva,uma cultura de reclamação nutrida e sustentada por um elenco de personagens que foram deixados de fora, ou se excluíram, de relacionamentos, famílias e da corrente principal da sociedade. A quantidade de variações é impressionante. A antologia “ deixe-me de fora” dos Beatles parece incluir todos os modos de alienação- incluindo aquele audível com clareza nas obras de Heidegger ( 1889-1976), Foucault ( 1926-1984) e várias gerações de seguidores dedicados à critica minuciosa do pensamento moderno e suas instituições. Ela é reproduzida de maneira simples e elegante na letra de “Nowhere Man”.
Segundo a explicação de Jonh, essa canção nasceu de sua frustração com seu próprio bloqueio criativo ( “Não me vinha nenhuma inspiração. Eu fiquei aborrecido e fui me deitar; tinha desistido., Então, pensei em mim mesmo como o “homem de lugar nenhum” [“nowhere man”]- sentado em sua “terra de ninguém” [“nowhere land”] ). Uma breve reflexão sobre o dilema que apresentei a pouco, no entanto, revela uma referência mais ampla. Se o pensamento moderno e todas suas instituições já são, em essência, revolucionários, se o mundo moderno é definido por uma série de crises e reformas, então, um critico minucioso- que seja absolutamente sério no que diz respeito à dissensão- não tem onde se colocar. Parta Heidegger, Foucault e espíritos semelhantes, o problema com a modernidade é que, como os borgs da série Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, ela assimila toda oposição-ou, em termos mais técnicos- “totaliza” seus próprios valores e métodos. Sérios pensadores pós modernos, precisamente para ser sérios, devem reportar-se ao estado do mundo como se tivessem um status de refugiados em algum outro lugar-asilo, em um tipo de “nowhere land” filosófico.”

( James Crooks. Peguem uma canção triste e faça-a melhorar: Os Beatles e o pensamento pós moderno, in Os Beatles e a Filosofia: Nada que você pensa que não pode ser pensado/tradução de marcos Malvezzi. SP: Madras,2007 p.182-3 )

domingo, 6 de setembro de 2009

PÓS MODERNIDADE E PENSAMENTO CRÍTICO

A crise de representação que configura a cultura contemporânea afeta especialmente o pensamento critico, esta tendência filosófica que busca a partir do modelo das ciências naturais a construção de conceitos e definições cada vez mais “precisas”, um esforço reflexivo em permanente auto superação analítica de si mesmo inspirada no mito de um “saber absoluto” a ser alcançado.



Tal metafísico objetivo, que conduziu muitos filósofos e pensadores a balburdia e confusão de indagações, definições e explicações infinitas sobre “O que é o mundo, as coisas e o pensamento”, definitivamente exauriu-se...


Já não há nenhum objeto que seja legível ao conhecimento... apenas a performance lingüística como estratégia de livre representação de um real que absolutamente nos escapa e sobre o qual não temos nada a dizer.


No tempo presente pensar identifica-se com a desconstrução do próprio pensamento... ou com a arte ou o jogo de codificar a própria imaginação...



THE TIME IS NOW

A vida surge e ressurge,



Continuamente,


Através de rotinas


Que dizem apenas


O passar do tempo,


O permanecer vazio


Entre as coisas


A espera do momento


Incerto


De abrir a porta


De algum novo existir


De mim mesmo


Desvelando paisagens


De primaveras...


The time is now...



quarta-feira, 2 de setembro de 2009

NOSTALGIA DE META INFÂNCIA


Sinto falta do viés irracional



De meus dias de infâncias


Desarrumados em lúdico


E fantasias


De não compreensão plena do mundo,


Coisas imediatas e pessoas.






Sinto falta da ignorância


Roubada pelo pensamento,


Do intenso vento


Que me criava outro


Em cada jogo de fantasia...






Persigo


Meus tempos distantes e vivos


Em meta alma,


Aqueles fantasmas de mim mesmo


Que assombram a forma humana


Em indefinida maturidade


Que me surpreende no espelho...


Busco sua pedagogia e absurdo...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

ESPECULAÇÕES EM TORNO DE UMA MANHÃ DE SOL


A gratuita sensação de dia novo, propiciada por uma manhã intensamente ensolarada, normalmente nos inspira idéias de renovação, continuidade ou plenitude de vida. Independente de que qualquer fato particular ocorrido no imediato do cotidiano corrobore ou não tais idéias ou imagens. Apenas acreditamos, envolvidos pelo sabor da paisagem banhada de sol, que a realidade, em alguma medida, é plástica e sujeita aos caprichos de nossas vontades, que nossa existência pulsa entre transformações e afirmações de si mesma através de gestos e emoções.
O que é interessante nesta experiência de acordar para uma manhã deliciosa de sol é que, objetivamente, ela não contém em si mesma a beleza, bem estar ou significados que lhe projetamos. Ela se quer existe fora de nossos sentidos ou leituras de nosso corpo. Em tais circunstancias matinais apenas nos tornamos suscetíveis a arcaica experiência espontânea do mito como linguagem humana. Afinal, trata-se aqui de uma variação difusa e sem foco ( secularizada) do mito solar cujos símbolos e imagens não tiveram outra origem, mesmo que sob configurações culturais diversas, do que a vivencia diária do sol. É curioso que mesmo hoje em dia, ainda tendamos a confundir ou tomar nossas fantasias espontâneas como idênticas a meta-realidade daquilo que chamamos de verdade. Talvez porque pouco paramos para pensar em oque de fato entendemos como verdade e até que ponto ela se sustenta frente a uma reflexão mais profunda sobre as armadilhas das palavras e pensamentos na constituição da condição humana...

CATARSE

Às vezes
É preciso explorar
O próprio avesso
Para suspreender-se
Vivendo o rosto
Que se diz no espelho,
Deixar-se abandonado
E ao léu,
Mendigo de auto enganos
Ou da vontade de ser
Intensamente dentro do mundo
Até o infinito da finitude
Do muito que em si
Já se perdeu...