quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

ABUSURD DAY

Há ocasiões
Em que as coisas
Parecem desfeitas,
Como se o dia coresse
Ao contrário,
Contrariando todas as certezas,
Rotinas e possibilidades.

É quando
As horas explodem
Em vazios,
Revelam a alma dos fatos
E nos ensinam
O não principio
Como principio…

Your just have to…
Bow to the absurd.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

JAMES HILLMAN AND LOVE...


Considero James Hilman um dos mais originais autores e pensadores da psique e sua dinâmica. Em sua singular interpretação da herança de Jung, ele nos permite fugir de nossos limites culturais construindo imagens e representações novas da psique através de um resgate dos “paradigmas” e simbolismos pagãos, ele nos convida a um jogo entre sentido e não sentido, entre imaginação e realidade, na qual os opostos se comunicam em absoluta simetria e pluralidade.
Quando transcendemos o monoteismo de um Self totalizante nos lançamos a aventura de uma configuração multipla e incerta de realidade, a um desaprendizado de nós mesmos onde a única certeza é a busca, não de verdades, mas de possibilidades, em meio a diversidades que transcendem qualquer noção de opus, ou, simplesmente, as redefine no contexto da contemporâneidade …
ALL YOU NEED IS LOVE....
Lembro-me vivamente agora, por exemplo, de um fragmento de Entre Vistas: Conversas com Laura Pozzo sobre psicoterapia, biografia, amor, alma, sonhos, trabalho, imaginação e o estado da cultura muito inspirador... Principalmente porque nos conduz a uma releitura das imagens que temos do amor e sua importância de um modo que viva e particularmente me leva subjetivamente aos Beatles, em especial a sua fase psicodelica e as mais autênticas vivências das inspirações de eros…
No fundo todos temos medo do amor… E isso o faz revolucionário em um sentido laico e profundamente secular e psicológioco…


Laura Puzo.
“Porque temos medo dele.”

James Hillman.
"… e ele pode surgir a qualquer minuto. E o que ele quer é a psique. Ele está atrás da alma, tem um trabalho a realizar na alma. Quero dizer, o amor esta muito mais interessado em nossas fantasias, em nossas imagens e complexos doq ue em nós, pessoalmente, naquilo que sentimos, precisamos, desejamos. Por isso morremos de medo. Ele ativa todos os complexos. Torna nossas fantasias irresistiveis, douradas. Afrodite Dourada, como foi chamada. Brilhante. Flamejante. Mas o amor não é uma força independente exterior às imagens, aos complexos. Esta bem dentro deles. O eros já está dentro da psique, pronto para pegar fogo. A psique é um material altamente inflamável. Estamos sempre embrulhando nossas coisas com amianto, mantendo nossas imagens e fantasias ao alcance da mão porque elas estão cheias de amor. Veja: Freud estava certo- o conteudo da psique reprimida é eros. E Resistencia tem a ver com paredes `a prova de fogo. Naturalmente todo mundo dá as costas para a analise, para seus sonhos e figures tais como Maribel. Elas estão carregadas de amor. Mas o caminho para o amor não é o imediato, você não pode ir direto nele. Terapias que encorajam o amor, que se focam na transferência, cometem o erro de ir direto nele. Pelo menos para mim o caminho é via alma, via imagem, onde o amor se esconde…É só começar a falar com alguem a partir da alma, sobre a alama, sobre o medo da morte, sobre uma lembrança dolorosa, pequenas desavenças, isolamento, e num instante surge o amor. Naturalmente, ele inrompe em sessões de terapia: onde ouver a psique, há amor, eros. O amor vem à terapia para encontrar a psique, para se tornar psicológico, e é realmente um erro psicológico tomar o amor de uma maneira pessoal. Claro, parece pessoal, porque amor é interior, íntimo, mas esta interioridade refere-se à alma, à ativação de complexos”.

(James Hilman. Entre Vistas: Conversas com Laura Pozzo sobre psicoterapia, biografia, amor, alma, sonhos, trabalho, imaginação e o estado da cultura/ tradução de Lucia Rosenberg e Gustavo Barcellos. SP: Summuis, 1989, p.194-195.)


O TEMPO E O FUGITIVO AGORA DA VIDA...


O futuro
É uma Estrada escura,
Caminho único de um presente
Que avança cego
Sobre um passado
Em ruinas.

Mas a vida
É uma eternal aposta,
Uma esperança,
A brincar com o tempo
E o destino
Nas cores do vento,
Nos cheiros das primaveras,
Como a ilusão dos pássaros…

sábado, 24 de janeiro de 2009

OASIS: DIG OUT YOUR SOUL



http://br.youtube.com/watch?v=87IQhui_Yy8

“The summer sunThat blows my mindIs falling down on all that I've ever knownIn time we'll kiss the world goodbyeFalling down on all that I've ever knownIs all that I've ever known”
Falling Down


“I'm all over my heart's desireI feel cold but I'm back in the fire


Out of control but I'm tied up tight


Come in, come out tonight”

The Shock of the Lightning



Lançado no ultimo mês de outubro, Dig Out Your Soul , sétimo álbum de estúdio do Oasis, nos apresenta uma banda mais madura e criativamente fechada em sua herança psicodélica e obsessão pelos Beatles. O dois primeiros singles deste álbum, "The Shock Of The Lightining" e Falling Down, traduzem perfeitamente sua intensa aventura musical através de letras intimistas e profundamente subjetivas que nos conduzem a uma verdadeira viagem de imaginação e autentica subjetividade... Não é exagero falar de um novo Oasis, de uma banda mais madura e mais do que nunca contemporânea e impactante. Se a assencia do Oasis é a rebeldia e a auito afirmação pode-se dizer que sua obra guarda um modo próprio de ser no mundo que cada vez mais nos ensina o quanto somos unicos e o quanto vale a pena levasr as ultimas consequencias aquilo que simplesmente somos...

FILOSOFIA DO BRINQUEDO

Há um mistério
Na vida intima das coisas,
Na alma dos objetos,
Que se misturam
As leis do destino humano.

O brinquedo quebrado
Guarda memórias
De evasão e êxtase,
Rasga realidades
E fantasias.

Mas somente crianças
Conhecem os fundos abismos
Do luto de um brinquedo perdido
Que diz em sua perda
O próprio passar da vida
Ou a incerteza
De todas as coisas feitas e ditas.

THE PAUPER


As sombras do passado
Escrevem silêncios no presente
Sem o afago de sonhos futuros.

Administro as perdas
Concretas e abstratas
Que o tempo da vida
Impõe aos anos.

Sei o inevitável pesar
De todas as mudanças,
Transformações de alma
E de mundo
Que tornam a vida
Aleatório e obscuro
MOVIMENTO...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

CONTEMPORANEIDADE, INDIVIDUAÇÂO E CRISE DO JORNALISMO FORMAL


No suplemento Mais da Folha de São Paulo de 30 de novembro de 2008 foi parcialmente publicada uma interessante resenha de John Lloyd, colaborador do Jornal Financial Times, de três livros recentemente lançados no Reino Unido que discutem o futuro do jornalismo. Tratam-se das obras SuperMedia de Charlie Beckett, Can you Trust the Media de Adrian Monck e a coletânea UK Confidencial organizada por Charlie Edwards e Chatherine Fieschi. De diferentes maneiras cada uma delas discute a crise e perspectivas do jornalismo contemporâneo e o impacto das novas tecnologias. Tal discussão me é particularmente interessante e decisiva para a delimitação dos espaços e conteúdos de nossas contemporaneidades. Afinal, essa crise do jornalismo traduz significativas mudanças em nossas sensibilidades e praticas de realidade. Com a internet e a novas tecnologias digitais o individuo alcançou possibilidades praticamente ilimitadas de criação e auto expressão permitindo uma dessacralização de praticas antes monopolizadas por “grupos” ou “organismos coletivos”. O caso do jornalismo é um ótimo exemplo disso. Como reconhece, mesmo que com algumas reservas, John Lloyd,

“ De certa forma, os blogs e a web marcam um retorno ao jornalismo do século 17 e 18- um período empreendedor, no qual pessoas que tinham algo a dizer montavam sus negócios e publicavam panfletos e boletins noticiários.
Também vivemos um período de maior incerteza, o que lembra a era vitoriana, quando os jovens aspirantes a literatos, vestidos com trajes modestos, ganhavam a vida trabalhando arduamente em um mercado formado majoritariamente por free-lancers.”

A efervescência de opiniões e perspectivas plurais estabelecida pela cultura da Web e dos Blogs representa, ao meu ver, uma tendência para uma experiência cada vez mais direta entre o indivíduo e a informação, sua circulação e repercussão, transcendendo as formalidades e censuras das convencionais estruturas coletivas de imprensa e propaganda.
De fato, o consumo de noticias e informações pelas formas eletrônicas e impressas tradicionais torna-se cada vez menos atraente, o que de fato nos permite falar de uma crise do jornalismo. Por outro lado, essa individuação saudável do exercício da informação e da opinião pode ser vista também como o embrião de novas formas de se pensar e fazer jornalismo, um jornalismo cada vez mais democrático e interativo, não mais formatado para uma sociedade de massas, mas destinado a uma sociedade de indivíduos.

SUMMER

O calor e o sol
Abraçam o corpo
Em imaginações de verão.
Quase não há lugar
Para pensamentos
Entre tantas vontades
E inquietações.

A tarde ferve,
As ruas estão em febre
E em festa de vida.

A existência percorre as almas
Como rubra matéria
E absoluto agora.

SONHOS DE UMA NOITE DE VERÃO


O calor do verão
Tem outro gosto a noite,
Um sabor de deserto
Ou de tédio.

É quando um cansaço
Cala o corpo
Frente ao rosto de um pensamento,
Uma mensagem de Apolo...

Mas a lua ainda ensina magias
E tudo acontece
Em sonhos de uma noite de verão.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

BREVE HOMENAGEM A EDGAR ALAN POE


O critico, poeta e escritor Edgar Alan Poe é um dos grande escritores malditos da literatura universal. Nascido em Boston, EUA, em 19 de janeiro de 1809 morreu em Baltimore em 7 de outubro de 1849. Serão celebrados este ano nos EUA, portanto, o bi centenário do seu nascimento e os 160 anos de sua morte através de exposições, debates e ate mesmo uma encenação em Baltimore do seu funeral. Como já falei sobre sua obra em uma das postagens consagradas a série Literatura Inglesa, limitar – me – ei hoje a esta singela e breve homenagem ao autor na noite de seu bi centenário. Afinal, ele foi um dos construtores da linguagem da literatura contemporânea e de massas através de uma narrativa “realista” destinada ao convencimento do leitor, a persuadi-lo da veracidade do discurso ficcional conduzindo ao extremo a tensão entre realidade, verdade e fantasia na mesma medida que explorava os limites e abismos da alma humana em uma atmosfera não raramente sombria e fatalista em sublimes estímulos a imaginação. Por tudo isso, Poe é definitivamente um do escritores favoritos...

sábado, 17 de janeiro de 2009

LITERATURA INGLESA XL


Considero o irlandês George Bernard Shaw (1856-1950) uma das mais importantes e singulares vozes do século XX. Sua independência e integridade como indivíduo, seu humor e espírito crítico, fizeram dele um intelectual polêmico e nada convencional em um sentido que raramente se vê na história das idéias. Há quem o considere um Volteare do séc. XX, mas acho que ele foi muito mais do que isso...
Embora tenha se consagrado por suas peças teatrais e ensaios de critica de arte e musical, Shaw iniciou-se na literatura através de romances como O Problema Irracional e um Socialista Anti-Social que só tiveram a atenção do público depois de seu prestigio conquistado a duras penas como Dramaturgo.
Cabe lembrar que Também foi um ótimo orador, tendo participado das discussões políticas de fins do séc. XIX e inicio do século XX, a partir de uma peculiar adesão ao socialismo. Aliais, em conjunto com outros intelectuais ele foi um dos fundadores da Sociedade dos Fabianos, núcleo do futuro Partido Trabalhista Inglês.
Shaw foi antes de tudo um homem de idéias e polêmicas. Mesmo seu teatro é expressão dessa sua inegável vocação. Sua critica e superação ferrenha do teatro vitoriano, consagrado a pregação moral e ao divertimento gratuito. A tal formula ele respondeu corajosamente através da denuncia da hipocrisia das convenções e da sarcástica critica a tudo aquilo que sustenta a sociedade contra o individuo. Shaw foi em todos os sentidos a afirmação de um espírito livre e, justamente por isso, risonho, a colorir de alguma esperança o sombrio mundo da primeira metade do século XX de consolidação de uma sociedade massificada.
Vejo Bernard Shaw como um perfeito “aristocrata do espírito”, um tipo de pensador que em nossa contemporaneidade apenas pode ser mimeticamente resgatada como paródia ...

Seguem fragmentos de "O pequeno breviário de George Bernard Shaw":

Amizade


Trata o teu amigo como se um dia ele pudesse tornar-sde teu inimigo, e teu inimigo como se pudesse um dia ser teu amigo.

Amor


Ao queremos ler sobre atos praticados por amor, aonde nos viramos? À seção dos assassíneos.
***
Não há amor mais sincero que o da comida.

Civilização


A civilização é uma doença devida à pratica de construir sociedades com materiais podres.

Democracia


A nomeação de uma pequena minoria corrompida é substituída, na democracia, pela eleição por uma multidão incompetente.

Imoralidade


Tudo o que contraria as maneiras e os hábitos estabelecidos é imoral... Todo o avanço9 em matéria de pensamento e comportamento é imoral, por definição, até que não tenha convertido a maioria.

Patriotismo

Nunca tereis um mundo tranqüilo enquanto não expurgardes dele o patriotismo da raça humana.

Progresso


A idéia de que houve qualquer progresso desde a época de César ( menos de vinte séculos) é absurda demais para entrar em discussão. Toda a selvageria, a barbárie, o obscurantismo e todo o resto de que nós guardamos lembrança, no passado, existe no presente momento.”

(Pequeno Breviário Shawiano in Geoge Bernard Shaw. Socialismo para milionários/tradução de Paulo Ronai. RJ: Ediouro, s/d, p. 109 et seq.)

O BRITPOP E A CONTEMPORÂNEIDADE DO ROCK


Surgido na Inglaterra durante os anos 90 do último século, o chamado movimento BRITPOP, que revelou ao mundo bandas como o Oasis, Blur, Radiohead, Supergrass, dentre tantas outras, mesclava referências ao rock psicodélico dos anos 60, principalmente Beatles, com tendências posteriores como o punk e o new have produzindo uma sensibilidade e musicalidade nova.
Cabe lembrar que a partir dos fins dos anos 80, no Reino Unido e EUA, varias bandas já haviam resgatado e relido a herança psicodélica, como por exemplo, o My Bloody Valentine, Spacemen 3, The Charlatans ou The Hypnotics. Mas foi através do BRITPOP que definitivamente estabeleceu-se uma nova estética e linguagem musical construída com base nessas releituras. Ao lado do Grunge norte americano ele estabeleceu-se como uma das matrizes renovadoras da linguagem do rock ocorrida ao longo dos anos 90 e que asseguraria, mais do que nunca, sua contemporaneidade.
Diferente do rock clássico dos anos 60, o rock contemporâneo, desde então, passou a expressar uma cultura de juventude mais hedonista, caótica/plural em termos identidários e, em certas vertentes, até mesmo profundamente niilista em um sentido diferente daquela desconstrução absoluta expressa nos anos 70 através do movimento Punk.
Particularmente, considero o Oásis e o Radiohead as duas grandes expressões do BRITPOP. No caso do Oásis temos a atualização do lado dionisíaco do rock, a rebeldia agressiva enquanto o Radiohead leva as ultimas conseqüências seu lado niilista, a rebeldia silenciosa e estóica contra o caos e absurdo do mundo. Tratam-se de tendências opostas e complementares que traduzem o Rock hoje em dia como fenômeno cultural e social ainda muito significativo, mesmo que não mais se proponha a mudar o mundo e sim alimentar nossas meras individualidades diante dos limites das convencionais convenções coletivas e o caos que é o mundo em que vivemos.

IMAGINAÇÃO MATERIALISTA

Meus olhos habitam
O azul do céu
Percorrendo infinitos mares
De ordinária imaginação.

Sei o mundo acordado
Em cores, luzes
E odores,
Na embriagues das sensações.

Neste instante
Quase não estou aqui
E sinto o mundo
Em meu corpo
Como um sonho
Em carne viva
Espalhado em todas as direções.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

SONG

Atravesso o dia
Deitado no colo
De uma musica,
em sentimentos...
Sem saber do mundo em volta.

Ouço apenas a vida,
A alma das coisas
Em intimo ritmo
De existência.

Tudo se faz melodia nervosa
A espalhar movimento e forma,
Espelhar sentimentos de tempos sem tempo
Em um mundo fechado e aberto
Nas vibrações e mistérios de sons e sentidos
Simplesmente, ritmos de uma estranha melodia...

CRONICA RELAMPAGO XLII


"A cada etapa da vida do homem corresponde uma certa Filosofia. A criança apresenta-se como um realista, já que está tão convicta da existência da peras e das maçãs como da sua. O adolescente, perturbado por paixões interiores, tem que dar maior atenção a si mesmo, tem que se experimentar antes de experimentar as coisas, e transforma-se protanto num idealista. O homem adulto, pelo contrário, tem todos os motivos para ser um céptico, já que é sempre útil pôr em dúvida os meios que se escolhem para atingir os objectivos. Dito de outro modo, o adulto tem toda a vantagem em manter a flexibilidade do entendimento, antes da acção e no decurso da acção, para não ter que se arrepender posteriormente dos erros de escolha. Quanto ao ancião, converter-se-á necessariamente ao misticismo, porque olha à sua volta e as mais das coisas lhe parecem depender apenas do acaso: o irracional triunfa, o racional fracassa, a felicidade e a infelicidade andam a par sem se perceber porquê. É assim e assim foi sempre, dirá ele, e esta última etapa da vida encontra a calmaria na contemplação do que existe, do que existiu e do que virá a existir.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Máximas e Reflexões"

Hoje em dia percebo, nestes tempos de quase quarenta anos, o quanto mudei, ou tudo para mim mudou no sentimento de todas as coisas. Talvez já não me envolva tão profundamente com o mundo e com as pessoas como antigamente e tenha perdido o encanto subjetivo que nos conduz a irracionais pertencimentos a rotinas e pessoas.
O fato é que atualmente quase não sei do mundo nos labirintos de mim mesmo e minha única verdade é o pragmatismo de seguir em frente em busca de qualquer outra coisa alem do mero presente.
Mas não sei dizer se o passar dos anos me fez mais realista ou vazio, introspectivo, ou pleno na busca de sentidos e significados, quando simplesmente aprendi que todos eles são relativos e a vida objetiva nos oferece apenas modestas e provisórias possibilidades de realização e certeza... A finitude hoje é meu único desafio e aprendizado de existência em ant-metafísico sentimento do tempo que passa...

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

ALMOÇO


Não há nada de novo
Na mesa do almoço.
A comida tem o gosto de ontem
E o tempo parece gasto e usado
Como as palavras trocadas
Entre estranhos.

O relógio dita o momento
No silêncio da hora presente
E o tempo apenas passa
Nos cotidianos
Ritos de existência.

domingo, 11 de janeiro de 2009

SAGRAÇÃO DO DESEJO


Abri a porta de um sonho,
Vi apenas
Meu próprio rosto
Preenchendo o céu
E a terra,
Vislumbrando faminto
O infinito.

Soube, então,
O querer
Como o único e múltiplo
Impulso
Que me faz ilimitado
Dentro de imensidões.

O desejo, afinal,
É o único segredo,
O único mistério
Que ainda nos move....

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

ACROOS THE UNIVERSE


Percorro o universo
Em cada palavra viva,
Em qualquer louco pensamento
Que me surpreenda aberto
Em algum sentimento de dia
E de mundo.

Tudo é absurdo e absoluto
Particular multiverso
De coisas em movimento
Que em mim se transformam
Em onírica, concreta e fixa
Quase realidade...
Nada vai mudar meu mundo...

http://www.youtube.com/watch?v=Rj-4t9drUlM

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

APOLOGIA A PALAVRA


Nada é definitivamente mais humano que a palavra. No além do signo, da concretude da letra, ela é viva expressão d’alma, de sentidos e significados que nos arrastam em tempestades, emoções e pensamentos.
A palavra, no mais que si mesmo da gente, é sentimento das coisas e pessoas que configuram o mundo e estruturam nosso universo particular, aquela mínima moralia ou dimensão de gentes, objetos e realidades aos quais nos irmanamos eletivamente em afinidade estranha e irracional de dia a dia da vida. Amar a palavra é amar o humano e o meta humano, fazer de cada coisa e ser um interlocutor em um ato de subjetividade no qual descobrimos, construímos, desconstruimos, o próprio humano em nós em paradoxos... O que podemos ser fora dos diálogos, das buscas, certezas, decepções e, acima de tudo, movimento que a vida ensina alem dos conceitos e na abstração delirante do brincar com as palavras enquanto jogos mágicos de linguagem e imagens? Nada há de mais mortal, mais criativo....
http://www.youtube.com/watch?v=kZjCGF57v4Q

VIRGINIA WOOLF:OS ANOS


O tema central dos escritos de Virginia Woolf é invariavelmente o tempo que passa em nossas vidas... No caso de Os Anos (1937), romance em 11 episódios em, torno do dia a dia da família Pargiter, nos deparamos com um verdadeiro ensaio literário sobre a experiência cotidiana, sobre a complexa relação entre individuo e cultura coletiva ou sociedade. Considero este, seu livro mais elaborado e intensamente humano, um mergulho profundo nos fatos, no fluxo abstrato de consciência e sentimento de mundo que nos define o movimento da própria vida.
A estrutura narrativa articula-se naturalmente em anos: 1880, 1891, 1907, 1908, 1910, 1911, 1913, 1914, 1917,1918 que desembocam no conclusivo “ O dia de hoje”. O acumulo dos anos nos conduz assim ao tempo presente e sua vitalidade perene e quase onírica diante da qual nos auto questionamos: E agora?...

“Era um crepúsculo de verão. O sol se punha. O céu ainda azul tingia-se de dourado, como se tudo se cobrisse de um fino véu de gaze. Aqui e ali, na amplidão ouro e azul, pairavam ilhas de arminho em suspenso. Nos campos as árvores se erguiam majestosas e ricamente ataviadas por suas inumeráveis folhas. Viam-se ovelhas e vacas, cor de pérola ou malhadas, jacentes as mais das vezes ou passando através da relva translúcida. Tudo estava orlado de luz. E o pó vermelho que subia das estradas como um rolo de fumaça tinha também um corte de ouro. Até as pequenas casas de tijolo vermelho aparente à margem das estradas eram porosas, incandescentes de claridade, e as flores nos jardins dos cottages, lilás e róseas como vestidos de algodão, brilhavam e tinham veios como que iluminados por dentro. E os rostos das pessoas paradas às soleiras das portas ou flanando pelas calçadas mostravam o mesmo rubro fulgor, como se encarassem de frente o sol que aos poucos desaparecia.”

( Virginia Woolf. Os Anos/tradução de Raul de Sá Barbosa. RJ: Nova Fronteira, 1982, p.335 )

A UMA JANELA...

Uma fantasia
Me puxou a pouco
Pelo braço
Convidando a um passeio,
A um devaneio,
Pela paisagem
Urbana e anônima.

Por algum tempo
Esqueci o dia,
As calçadas,
Semáforos, pessoas
E lojas.

Concentrei-me
No segredo de uma silenciosa janela,
Daquela pequena abertura
Ao outro mundo de um prédio perdido
No infinito do dia presente.

A janela, entretanto,
Oferecia – me apenas questões
E realidades entre abertas
Na desconstrução de respostas
e portas.

domingo, 4 de janeiro de 2009

SOBRE “ O ILUMINADO” DE STANLEY KUBRICK E O SOBRENATURAL


Adaptação de uma história de Stephen King, “O Iluminado” ( 1980) de Stanley. Kubrick, contrariando a obra original, é quase um tratado cinematográfico sobre o ceticismo e a ficção envolvendo o sobrenatural.
Afinal, o filme parece focado na pura e simples decadência de um homem fraco e problemático que, incapaz de conduzir a bom termo a oportunidade de reconstrução de sua própria vida, sucumbe a pressão e a loucura, mergulhando em, uma atmosfera insólita, imaginativa e alegórica mediante a qual desconstroi sua própria vida.
A presença do componente sobrenatural confunde-se assim, de modo ambíguo, com o aspecto psicológico induzindo a uma relativa recusa da premissa de uma causalidade metafísica na narrativa para sustentar o clima de terror e suspense que define a trama.
A originalidade desta heterodoxa adaptação para o cinema de uma história de terror encontra-se justamente nesse surpreendente realismo anti-metafísico que nos induz a pensar sobre a natureza de nossas crenças e superstições, seus “poderes” e “possibilidades” enquanto expressão de estados de consciência bastante peculiares. Afinal, como se define e até onde nos conduzem as imagens de realidade dentro das quais existimos? ...

YEAR AND FREEDOM


No ano que se inicia
Quero a mais plena
Existência,
A vida intensa em ventanias,
Saber o imprevisível
E impossível de cada momento
Na absoluta surpresa de mim mesmo.

No ano que se inicia
Meus caminhos serão
Sem esperanças e destinos
Em uma certeza de pedra
E imensidões;
Serei como um pássaro
Em espaços abertos
E corpo de movimento
De puro e livre pensamento
In a hurry,But carefully...

MULTICULTURALISMO

A vontade que vivo,
A necessidade
Que tenho,
É ir ao fundo
Do mais que profundo
Deste instante,
Percorrer o riso do tempo
Oculto em todas
As coisas que passam
Até desvelar em totalidade
As múltiplas possibilidades
Do meu pequeno rosto.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

QUENTIN TARANTINO: CINEMA, VIOLÊNCIA E PÓS-MODERNIDADE


Se é possível falar sobre a influencia ou construção de uma estética e sensibilidade pós-moderna no campo da sétima arte, alguém que poderíamos sem sombra de duvida indicar como um de seus mais talentosos representantes, seria o renomado diretor, roteirista e ator norte americano Quentin Tarantino ( 1963-...). Desde seu filme de estréia, Cães de Aluguel (1992), passando pelo brilhante e original Pulp Ficcion (1994) e os dois volumes de Kill Bill ( 2003-2004) Tarantino construiu uma linguagem e um estilo próprio combinando como ninguém violência e humor em uma descontraída leitura alegórica da realidade.
Para sustentar a “pós modernidade” de Tarantino, basta observar que o roteiro de todos os filmes aqui citados não são organizados em ordem cronológica, estão recheados de diálogos que contradizem ou extrapolam a trama, em meio a citações de outros filmes e, principalmente, de referências a cultura dos anos 70, criando normalmente uma charmosa atmosfera retro.
Quanto a pseudo questão do abuso e banalização da violência em seus filmes, argumento que a violência é elevada por ele a condição de linguagem estética e não se reduz a um instrumento ou recurso utilitário e apelativo de expressão destinado a atrair a atenção do público, diga-se de passagem, propenso a consagração de filmes violentos. A violência nos filmes de Tarantino é desconcertadamente pop e alegórica, não-realista ou impressionista.
Considero-o um diretor "META-alternativo", o caso único de um aficcionado por cinema que, de funcionário de uma locadora de vídeos em Los Angeles, tornou-se um criador de filmes ímpar justamente por jamais ter perdido a sensibilidade de um devorador ANÔNIMO de filmes.

INDIVIDUIALIDADE, PÓS - MODERNIDADE E EXPERIÊNCIA VIVIDA


O domínio da experiência imediata da própria individualidade pressupõe uma codificação provisória do mundo, uma organicidade e hierarquização dos desejos e das emoções moldada apenas pelas especificidades biográficas e aleatórias escolhas de cada um ao sabor dos momentos.
Isso é o mesmo que vincular a individualidade HOJE a uma espécie de estilhaçamento do mundo empírico e coletivo. Tal recusa relativa da objetividade do mundo e valorização de uma subjetividade aleatória é o que agora permite a cada individuo um esboço de autonomia e liberdade cada vez maior frente a vida coletiva e ao irracional vinculo natural de espécie inerente ao animal humano. Afinal, a individualidade tornou-se em todos os sentidos um não lugar dentro do mundo em lugar da afirmação inútil do próprio ego.
Surpreender-se como um individuo hoje é tão somente aceitar a própria fluidez e finitude ontológica como referencial de não ou virtual sentido no exercício de nossos cotidianos e pseudo-metafísicos apetites de auto-realização pueril.
Afinal, a individualidade transcende o pensamento e a lógica de qualquer conceituação positiva ou estável...