quinta-feira, 30 de outubro de 2008

HALLOWEEN E SAMHAIN


O “Halloween” associas-se na tradição celta irlandesa ao fim do verão, ao dialogo entre o mundo dos vivos e dos mortos, imagem distante da carnavalesca versão popularizada nos Estados Unidos e cada vez mais difundida globalmente.
Podemos tomar a data, apropriada pela cristandade medieval através de sua degeneração em dia de todos os santos ou finados (2 de novembro), como um momento, alem do cristianismo e suas representações negativas “da carne”, para pensar a morte e a temporalidade, nossa finitude e buscas de significados para a própria vida. Logo, ela nos conduz a memória de nossos entes queridos e mortos tanto quanto ao nosso próprio desaparecimento futuro e certo. Daí sua associação ao medo e ao terror no imaginário contemporâneo que, na verdade, não passa de um reducionismo e caricatura.
Mas há ainda na data vivida os ecos do antigo festival de Samhain ( fim do verão), celebrado entre 30 de outubro e 2 de novembro pelos antigos celtas.
Seja de que forma for, que cada um viva neste 31 de outubro sua hallow evening,..

CITY...

Futuros dançam em um céu azul
Contemplando terras desconhecidas
E almas desfalecidas
Em desejo aberto
Ao novo dos dias.

A cidade é um labirinto
De desejos,
Um impasse de vidas
Em busca...
Busca de que?

O cotidiano do caos de luzes,
Movimentos e cores vivas
Conduz a estética das ruas,
Ao movimento de coisas e pessoas
Sem qualquer real direção
Ou significado...

Sigo em silêncio
Em algum vento
Perfumes de outros mundos
Ignorando os mudos sinais das ruas.

CRÔNICA RELÂMPAGO XXXIX


Nossas expectativas de acontecimento futuro e domínio dos fatos hoje em dia foi reduzida aos sonhos de consumo. Comprar um novo aparelho de celular, uma TV, um computador de ultima geração ou um carro novo, é agora nosso modo de administrar minimamente o cotidiano.
O prazer de comprar vai alem do instinto de posse e do status social, é um modo de organizar a própria vida por aquilo que podemos ter contra a incômoda e indeterminada ansiedade de “um algo mais” que nos escapa e já não pode ser plenamente sanado por qualquer experiência religiosa. Afinal, a idéia de totalidade já não complementa o dia a dia de nossa finitude.
As cotidianas tarefas cotidianas do estar entre os outros em contextos diversos e maçantes de mecânicas obrigações tem como contra partida uma administração das exigências da vontade, não mais como capacidade de intervir no mundo ou como desejo mas como estranheza do próprio mundo e sentimento de inadaptação ontológica que nos leva a ansiedade de querer algo mais do que o admitido pelo nosso precário sentimento de realidade. É em função desse querer difuso que construímos nossas biografias.

O SENTIDO DA BRISA

Colhi da brisa
Alguns sentidos
E significados
Do nada fazer.

Basta-me
Neste instante
Não pensar em nada
E deixar-me vagar
Nas horas
Do sem tempo dos devaneios
E pequenos prazeres.

O sentimento da brisa
Que me afaga o rosto
É todo o significado
De que preciso
Nessa preguiça de agora
E esquecimento das horas tortas
Do mundo lá fora.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

SIMBOLO, REALIDADE E COINCIDÊNCIA DOS OPOSTOS


O que mais define o símbolo em sua apropriação contemporânea como meta- significado em imagens, e meta linguagem, é a capacidade de dizer os opostos na transcendência de qualquer possibilidade de dualismo Nessa particularidade o pensar em símbolos se distancia nitidamente da lógica que define o mito cristão e seu peculiar simbolismo.
Nesse sentido julgo muito interessante reproduzir aqui um fragmento de Mircea Eliade:

“Tentamos explicar a origem dos “símbolos” através da impressão sensível, exercida diretamente sobre o córtex cerebral, pelos grandes ritmos cósmicos ( o curso do sol, por exemplo). Não nos cabe discutir essa hipótese. Mas o problema da própria “origem” parece-nos ser um problema mal colocado ( ver “Simbolismo e História”). O símbolo não pode ser o reflexo dos ritmos cósmicos enquanto fenômenos culturais, porque um símbolo sempre revela alguma coisa a mais, além do aspecto da vida cósmica que deve representar. Os simbolismos e os mitos solares, por exemplo, revelam-nos também um lado “noturno”, “mau” e “fúnebre” do sol, o que não é evidente à primeira vista no fenômeno solar como tal. Este lado de um certo modo negativo, não percebido no Sol enquanto fenômeno cósmico, é constitutivo do simbolismo solar; o que prova que, desde o começo, o símbolo aparece como uma criação da psique. Isto se torna ainda mais evidente quando lembramos que a função de um símbolo é justamente revelar a uma realidade total, inacessível aos outros meios de conhecimento: a coincidência dos opostos, por exemplo, tão abundantemente e simplesmente expressada pelos símbolos, não é visível em nenhum lugar do Cosmos e não é acessível à experiência imediata do homem, nem ao pensamento discursivo. Entretanto, evitemos acreditar que o simbolismo se refere apenas às realidades “espirituais”. Para o pensamento arcaico, uma tal separação entre o “espiritual” e o “material” não tem sentido: os dois planos são complementares. Pelo fato de supostamente encontrar-se no Centro do Mundo, uma habitação não deixa de ser um instrumento que responde às necessidades precisas e è condicionada pelo clima, pela estrutura econômica da sociedade e pela tradição arquitetural. Ainda recentemente, a velha discussão entre os “simbolistas” e “realistas” manifestou-se novamente a propósito da arquitetura religiosa do antigo Egito. As duas posições são apenas em aparência irreconciliáveis: no horizonte da mentalidade arcaica, levar em conta as “realidades imediatas” não significa de modo algum ignorar ou menosprezar suas implicações simbólicas, e vive-versa. Não se deve crer que a implicação simbólica anule o valor concreto e especifico de um objeto ou de uma operação: quando a enxergada e denominada phalos ( como acontece em certas línguas austro-asiáticas), e a semeadura é assimilada ao ato sexual ( como aconteceu em quase todos os lugares do mundo), isto não significa que o agricultor “primitivo” ignora a função específica de seu trabalho e valor concreto, imediato, de seu instrumento. O simbolismo acrescenta um novo valor ao objeto ou a uma ação, sem por isso prejudicar seus valores próprios e imediatos. Apli8cado a um objeto ou a uma ação, o simbolismo se torna “abertos”. O pensamento simbólico faz “explodir” a realidade imediata, mas sem diminui-la ou desvaloriza-la; na sua perspectiva, o universo não é fechado, nenhum objeto é isolado em sua própria existencialidade: tudo permanece junto, através de um sistema preciso de correspondências e assimilações. O homem das sociedades arcaicas tomou consciência de si mesmo em um “mundo aberto” e rico de significados. Resta saber se essas “aberturas” são meios de fuga ou se, ao contrário, constituem a única possibilidade de alcançar a verdadeira realidade do mundo.”

(Mercea Eliade. Capitulo V: Simbolismo e História in Imagens e Símbolos: Ensaios sobre o Simbolismo Mágico-Religioso./ tradução de Sônia Cristina Tamer. SP: Martins Fontes, 1996, p. 177-8)

TIME ONE

Procuro saber
o mais particular acontecer
de um segundo
que se perde de mim
e do pensamento,

Procuro saber
O particular sentimento
Instantâneo do AGORA
Em estado bruto,
Como se não existisse
Em mim um rosto
A dizer tempos,
Permanências e buscas.

Apenas o agora
Sujo, trivial
E passageiro
Que fica ou se refaz
No seu igual em
momento seguinte.

NOW

Não sei dizer
Para que parte da vida
Agora acordo.

Sei apenas
Meus passados quebrados
Sobre o chão do tempo
E alguns rotos futuros
Guardados em rasgados bolsos.

Viverei apenas
Mais um dia,
Mudo e discreto,
Na caótica paisagem
Do século.

sábado, 25 de outubro de 2008

ALQUIMIA, SECULARIZAÇÃO E MODERNIDADE




Parafraseando CLAUDE KAPPER em MONSTROS, DEMÔNIOS E ENCANTAMENTOS NO FIM DA IDADE MÉDIA , pode-se dizer que o imaginário medieval é extremamente “estruturalista”, nele a forma é o significante, todo o universo se ordena numa geometria simbólica e segundo uma escala de valores que atribui um lugar a cada elemento, tanto espiritual quanto material. Impõe-se assim o postulado, segundo o qual, a natureza, enquanto parte da criação, é perfeita e, por definição, imperturbável. A alquimia pressupõe uma recusa não muito consciente desta harmonia e perfeição da obra divina. Mais do que isso, ela pressupõe a intervenção humana como fator decisivo para o destino do próprio cosmos. MIRCEA ELIADE tem, portanto, plena razão ao vislumbrar certa continuidade entre a sacralidade da matéria que define a simbólica alquímica e a secularização da matéria através do mito do saber científico que define a época moderna.
Assim como JUNG atribui a alquimia uma antecipação de certas descobertas da psicologia profunda, ELIADE percebe na alquimia certas disposições mentais e referenciais simbólicos que configurariam, em sua versão secularizada, o imaginário moderno. A opus alchemicum, ao admitir a possibilidade de que a ação e o trabalho humano pode intervir no vir-a-ser da natureza, aperfeiçoa-la, transforma-la e, assim, permitir o controle do próprio tempo, esboça uma “filosofia do progresso” realmente surpreendente no contexto do imaginário pré- moderno.

MONTY PHYTHON: MINISTRY OF SILLY WALKS II




Estilos de caminhada devem merecer subsídios governamentais?

Afinal não é dizendo como andas que te direi que és?

Quem aqui ousaria dizer que uma boa e original caminhada não é indispensável a qualidade de vida de cada indivíduo e, portanto, uma questão pública?

COMO VOCÊ CAMINHA ? ....

(Esse ministério existe em algum lugar bem pertinho de você... Tudo é uma questão de idiotice...)

MONTY PYTHON: MINISTRY OF SILLY WALKS


"And now, for Something Completely Different..."

Um dos esquetes mais conhecidos do Flying Circus do Monty Python, encontra-se em sua segunda temporada. Refiro-me, naturalmente, ao Ministry of Silly Walks ( Ministério das Caminhadas Idiotas), onde Jonh Cleese, como dedicado funcionário de tal absurdo ministério, tem uma de suas mais sarcásticas e criativas performances.
Em linhas gerais, pode-se dizer, tratar-se de uma critica, diga-se de passagem, ainda muito atual, a burocracia estatal e sua obscuridade. Poder-se-ia falar de uma alegoria para irracionalidade estrutural que fundamenta o funcionamento de qualquer maquina estatal e da qual, na função de contribuintes, somos todos em alguma medida vítimas.
Mas isso seria perder o fino e corrosivo humor deste saboroso esquete que nos faz rir do cotidiano circo/mundo no qual nos perdemos todos os dias, talvez levando certas “respeitáveis coisas” de governo e Estado mais a sério do que deveríamos... Afinal, como os governos “andam” por ai? ...
Tudo em politica é uma questão de ser idiota meu caro cidadão...

CRÔNICA RELÂMPAGO XXXVIII

Uma madrugada definida por horas de insônia pode ser um verdadeiro celeiro de pensamentos e experiências. Afinal, no silêncio demarcados pelas quatro paredes de um quarto ou de uma sala, pode surpreender-nos a abstrata presença de um dia que se recusa a terminar, permanece ali, ignorando os imperativos do relógio como se nos desafiando...
As horas de uma madrugada de insônia são horas em aberto, suspensas no caos dos fatos e preocupações inerentes ao nosso contextos biográficos e regidas pelo símbolo de uma grande interrogação sem nome.
Por outro lado, elas também são horas em que a temporalidade,que nos é inerente como mortais, apresenta-se como puro e gratuito lúdico no quase não acontecer de nos mesmos na ausência do sono.
Há definitivamente algo de enigmático e desafiador nas claras madrugadas de insônia; algo que foge ao controle e desafia nossas diurnas certezas de rosto no mundo.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

SEINFELD E O DISCURSO SOBRE O NADA


Considerada uma das mais populares e inteligentes séries da Tv norte americana nos anos 90, SEINFELD ainda expressa com precisão nosso caótico imaginário contemporâneo. Afinal, trata-se de uma comédia sobre o nada e ao mesmo tempo sobre o confuso “tudo” de nossos risonhos cotidianos, certezas, incertezas buscas.
Seinfeld é a pedagogia perfeita do aprendizado do riso, do ridículo do dia a dia e alguma coisa além disso...
Por tudo isso, deixo aqui um fragmento do “Melhor Livro sobre o Nada” do comediante Jerry Senfeld:


SAIR E VOLTAR

“Você pode dividir toda a sua vida em duas categorias básicas. Ou você sai ou fica em casa. O resto todo é detalhe irrelevante. A vontade de sair e depois voltar é muito forte. Olha o que acontece com gente que não quer ficar em casa, mas tem que ficar. Ficam deprimidos . Ou então, alguém que saiu, está sem a chave e não pode voltar. Fica doido. Temos que sair. Temos que voltar. Quando você sai, tudo fica um pouco fora do controle e excitante. Algo pode acontecer. Você pode ver alguma coisa. Você pode achar alguma coisa. Você pode até ser parte de alguma coisa. Temos que sair! Quando estamos de volta em casa, ficamos como o maestro de uma orquestra: a gente sabe que onde está qualquer coisa e como fazer funcionar qualquer coisa. Podemos ir de uma parte da casa para outra. Sabemos exatamente onde estamos indo e o que vai acontecer quando a gente chegar ali. Somos um maestro vestido de cueca e meias. E é exatamente porque sabemos tudo que temos de sair.”


(Jerry Seinfeld. O Melhor Livro sobre o nada. RJ: Frente, 2000.)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

TRANS-INFÂNCIA

Devoro o passado
Digerindo o presente
Em fomes de futuros.

Mas tudo passa...
E minha alma não cabe
em qualquer lugar
de tempo.

Sou ainda uma criança
a sonhar seguranças
ao sabor do vento.

Mas tudo passa...
Como passam
todas as infâncias.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

BARUCH ESPINOSA E A RADICALIDADE DA RAZÃO


“Os supersticiosos, que sabem mais censurar os vícios que ensinar as virtudes e que não procuram conduzir os homens pela Razão mas contê-los pelo medo de tal maneira que evitem mais o mal que amem as virtudes, não pretendem outra coisas que tornar os outros tão infelizes como eles; e, por conseguinte, não é de admirar que eles sejam, a maior parte das vezes, insuportáveis e odiosos aos homens.”


Baruch Espinosa in Ética- Parte IV- Da servidão Humana ou Das forças das afecções
Excomungado em 1656 pela comunidade judaica de Amsterdan, Baruch Espinosa está entre as grandes referências filosóficas da modernidade.
Combatendo o “irracionalismo” e o “obscurantismo” de seus contemporâneos produziu obras originais como o Tratado da correção do Intelecto, o Tratado Teológico Político e uma Ética cujo conteúdo constitui um radical questionamento as representações do Estado e a Religião hegemônicas no século XVII.
Sua filosofia pode ser muito sumariamente definida como uma critica a escolástica então decadente, tanto quanto a filosofia de Decartes, assentada na formulação e aplicação de dois métodos: O histórico/critico, que destinou a uma leitura racional e secular da Bíblia, e o genético, segundo o qual, o conhecimento de determinada coisa é o conhecimento de suas causas, premissa por exemplo de seu Tratado da Correção do Intelecto.
Espinosa em seu racionalismo radical acreditava que a verdade é imanente ao próprio conhecimento, não condicionando-se a qualquer adequação entre a idéia e a coisa dado que uma coisa só pode ser conhecida através da causa que a produz e não pelos seus efeitos.
É esse primado do intelecto e da razão, a ênfase na “auto-produção” do real que desafia a tese em sua época em voga da criação das coisas por Deus que constitui um dos mais interessantes legados da sua filosofia.

Reproduzo em seguida uma pequena e significativa epistola do autor escrita erm Rijnsburg em março de 1663:

Ao jovem mui sábio Simon de Vries
“Caro amigo,

Tu me perguntas se precisamos da experiência para saber se a definição de um atributo é verdadeira. Respondo que nunca precisamos da experiência, a não ser para aquilo que não podemos concluir da definição da coisa. Como, por exemplo, a existência dos modos, pois esta não podemos concluir da definição da coisa.Mas nunca precisamos da experiência para aquelas coisas cuja existência não se distingue da essência e que, portanto, se conclui de sua definição. Mais ainda, nenhuma experiência pode ensinar-nos isto, pois a experiência nunca nos ensina a essência das coisas- o máximo que pode fazer é determinar nossa mente a pensar apenas acerca de certas essências das coisas. E assim como a existência dos atributos não difere de sua essência, nenhuma experiência poderá fazer com que a aprendamos.
Perguntas, ainda, se as coisas reais e suas afecções são verdades eternas. Digo que o são sob todos os aspectos. Se retrucares: por que, então, não as chamas de verdades eternas? Respondo: para distingui-las, como todos costumam fazê-lo, daquelas que não explicam coisas e afecções das coisas, como por exemplo, “nada vem do nada”. Tais proposições, e outras semelhantes, são chamadas verdades eternas num sentido absoluto, e com isto o que se quer dizer é que só tem morada no intelecto.”
Baruch de Espinosa

(Benedictus de Espinosa. Os Pensadores/ seleção de textos de Marilena de Souza Chauí; tradução de Marilena de Souza Chauí... (et al.). SP: Editora Abril Cultural, 1983, p. 372)

TEMPO PSICODELICO


Todos os dias somados
Explodem em um segundo
De presente
Revelando imaginações ébrias
Sem tempo e espaço.
Indiferente
Colho ânsias e desejos
Em um jardim pintado
Sobre um mar aberto
Em céu.

Pois entre o vagar de nuvens
Surpreendo-me deitado no vento
Em busca de mim mesmo
No difuso de todas as coisas.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

THE BEATLES, YELLOW SUBMARINE E O PSICODELISMO


1968 não foi apenas o ano de Stg. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, mas também do lançamento da animação em longa metragem Yellow Submarine com seus diálogos mordazes, referências artísticas e estéticas, brilhante trilha sonora e uma imagética, paisagem visual sem paralelos trans- lúcidos. O fato é que essas duas referências Beatles para uma não marco da história do século XX são muito significativas para exemplificar a singularidade daquela que foi até hoje a maior banda de rock de todos os tempos.
No que diz respeito à adoção de uma linguagem psicodélica de musica e arte, o fab four distancia-se muito de seus contemporâneos, desde Rolling Stones, The Who, Crean, Leon Butterfly, etc...
No caso dos Beatles, o psicodelismo era um estado de espírito, uma sensibilidade nova que transcendia os lugares comuns da rebeldia e identidade juvenil então em voga, afirmava-se tão somente como o lúdico exercício artístico e anímico de quatro jovens que faziam e vivam sua musica enquanto o mundo a sua volta simplesmente enlouquecia e inventava “o novo”...
Se os Beatles se tornaram a mais profunda expressão da transmutação de valores dos anos 60 do séc. XX; deve-se atribuir o fato a sua absoluta espontaneidade e naturalidade.
A originalidade e atemporalidade de seu psicodelismo reside justamente nessa espontaneidade descompromissada, em sua introspecção como banda, sem a qual o psicodélico jamais seria uma genuína forma de expressão radicalmente indivuada, uma estratégia de recosntrução da vida através da arte mediante o afrouxamento de um real convencionalmente estabelecido ou a apoteose do devaneio como modalidade lírica do pensamento dirigido e singular.
Em poucas palavras, os Beatles transmutaram o psicodelismo em SIMBOLO e MITO na mais profunda expressão de contemporaneidade... Fizeram dele muito mais do que um modismo de época.

SOBRE FELICIDADE...

Há coisas que permanecem Eternamente por fazer. Pois uma vida inteira não é suficiente Para realizá-las. Não falo de grandes sonhos ou projetos, mas do devaneio da mais perfeita existência, do mais simples sentir-se bem em atualizações de paraíso e infâncias. 
 
Trata-se aqui da felicidade impossível, da realização de todas as vontades na absoluta perfeição dos dias meta impossíveis que nos consomem no sem nome de desejos e fantasias. 
 
O que chamamos felicidade é apenas o que ficou por fazer, o que abandonamos, ou nos abandonou no precipício e sombra do doce pesadelo do mundo real... 
 
NADA É MAIS PERFEITO DO QUE A PRÓPRIA IMPERFEIÇÃO.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

LITERATUITA INGLESA XXXVII


Aldous Huxley (1894-1963), pelo seu profundo pessimismo e visionária leitura da realidade de seu próprio tempo, tornou-se mais do que um mero escritor de literatura, afirmou-se como brilhante ensaísta. Sua obra, apesar dos condicionamentos de seu próprio tempo, tende a ser uma referência indispensável ao pensamento critico de todas as épocas possíveis do futuro humano mais imediato pelça sua problematização do autoritarismo, da democracia e da própria natureza humana.
Afinal, Huxley foi, além do autor do tão famoso romance futurista "Brave New World" (Admirável Mundo Novo), que até os dias de hoje lhe garante a fama, o criador do conceito de agnosticismo. Muito significativamente teve como interlocutores e amigos nomes como o de Lytton Strachey e Bertrand Russel.
Em sua vasta obra destacam-se alem do já citado e consagrado romance, a coletânea de ensaios The Doors of Perception / Heaven and Hell (As Portas da Perceção / Céu e Inferno), os romances Ape and Essence (O Macaco e a Essência), Island e os derradeiros ensaios de The Human Situation (A Situação Humana).
Pode-se , de modo muito genérico, sustentar que, bom leitor do cerebre Charles Darwin, Huxley jamais foi condencendente ou ingênuo com relação a fenomenologia da vida e existência humana...
Dentre todas as coletâneas de ensaios por mim conhecidas, a que me parece mais provocativa e atual, são os reunidos em Do What you Will ( traduzido para o portugues como Satânicos e Visionários).
Creio que um fragmento desta obra é mais do que apropriado para aqui dizer seu autor, mesmo que seja impossivel traduzir em um fragmento de momento a riqueza de seus escritos:

O ENIGMA


“Na forma em que os homens o têm colocado, o enigma do universo exige uma resposta teológica. Sofrendo ou gozando, os homens querem saber por que gozam e com que finalidade sofrem. Vêem coisas boas e coisas más, coisas bonitas e coisas feias, e querem descobrir uma razão- uma razão definitiva e absoluta- porque essas coisas devam ser como são. É extremamente significativo, entretanto, que só com respeito a questões que lhes tocam de perto é que os homens buscam razões teológicas- e não apenas buscam como as encontram, e em que qualidade! Com relação a questões que não lhes tocam tão diretamente, questões que estão, por assim dizer, a certa distância psicológica deles próprios, mostram-se relativamente indiferentes. Não fazem esforço algum para lhes encontrar uma explicação teológica; percebem o absurdo e a inutilidade de sequer procurar uma explicação. Qual a razão final e teológica, por exemplo, de ser verde a grama e de serem amarelos os girassois? Tem-se apenas que levantar a questão para logo se perceber que é de todo irrespondível. Podemos falar sobre ondas luminosas, eletrons vibratórios, de moléculas de clorofila e coisas que tais. Mas qualquer explicação que possamos oferecer em termos dessas entidades não passará de uma explicação de como a grama é verde, e não porque ela é verde. Não existe “porque” algum- absolutamente nenhum, cuja descoberta possamos conceber. A grama é verde porque é assim que a vemos; em outras palavras, é verdade porque é verde. Ora, não há diferença em espécie entre um fato verde e um fato doloroso ou bonito, entre um fato que é da cor dos girassois e fatos que sejam bons ou infernais: uma categoria de fatos é psicologicamente mais remota que a outra, nada mais. As coisas são nobres ou angustiantes porque são assim. Qualquer tentativa de explicar porque elas são assim será inevitavelmente fadada ao fracasso, como a tentativa de explicar porque a grama é verde. No que tange a condição de ser verde e outros fenômenos psicologicamente distantes os homens tem reconhecido a inutilidade da tarefa e não cuidam de propor explicações teológicas. Mas ainda continuam a torturar o cérebro com os enigmas do universo moral e estético, prosseguindo na invenção de respostas e até mesmo acreditando nelas.”
(Aldous Leonard Huxley. Satânicos e visionários/tradução de J L Dantas. RJ: Ed. Americana, 1975, p. 153-154).

REVOLUTION 69

Me basta um sonho vivo
Em delirante realidade
Para explodir verdades
Em cores, gritos,
Raios
E ventos antigos.

Um estranho futuro
Chegaria, então, sorrateiro
De mãos dadas a passados
À muito esquecidos,
Trazendo a infância do infinito
Ao cotidiano tédio
De mais um dia
Entre pessoas, famílias,
Cidades, países e absurdos
Que não cabem
Na poesia de um céu estrelado
Ou no mundo de uma folha de papel.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

APRENDIZ DE SATURNO

Sofro o tempo que passa
Nos silêncios de cada momento.

Meus passados reinventam
O presente
No involuntário acontecer
De uma discreta biografia.

Não sou desses
Que viveram impérios
Amores sempiternos
Ou as aventuras de um Ulisses.

Tive apenas na vida,
Noites de luas, estrelas
E tédios
A espera de algum vento bravo,
De alguma manhã entre aberta,
Adivinhada em qualquer musica muda
No fundo de um céu profundo.

Em todos os tempos de mim
Nunca fui mais
Do que um aprendiz de futuros
A colher sonhos em madrugadas.

MEMÓRIA E DEVANEIO SEGUNDO BACHELARD


Em sua Poética do Devaneio, ao invocar as “cânticos de ilusões”, que nos conduzem a mais profunda experiência da relação existente entre imaginação e memória, Gaston Bachelard nos sugere uma reflexão sobre a experiência poética como uma espécie de “não lugar do tempo vivido”, como um "não factual da memória" que define nossas leituras e sentimentos biográficos tão profundamente quanto os acontecimentos concretos.
O que está em jogo aqui, não é a objetividade de qualquer lembrança possível de um dado momento ou situação vivida, mais a impessoalidade de certas lembranças, uma espécie de sentimento virtual de mundo que nos transcende em um irracional apreensão passional das coisas; como se fosse possível contemplar a aura mágica que envolve as configurações mais autênticas de nossas imagens de realidade .
Uma das principais funções da imaginação, afinal, é constantemente nos reapresentar o próprio mundo como significado vivido, como uma invenção ontológica... constantemente renovada, recriada...

Quando mais mergulhamos no passado, mais aparece como indissolúvel o misto psicológico memória-imaginação. Se quisermos participar do existencialismo do poético, devemos reforçar a união da imaginação com a memória. Para isso é necessário desembaraçar-nos da memória historiadora, que impõe os seus privilégios ideativos. Não é uma memória viva aquela que corre pela escala de datas sem demorar-se o suficiente nos sítios da lembrança. A memória-imaginação faz-nos viver situações não factuais, num existencialismo do poético que se livra dos acidentes. Melhor dizendo, vivemos um essencialismo poético. No devaneio que imagina-se lembrando-se, nosso passado redescobre a substância. Para lá do pitoresco , os vínculos da alma humana e do mundo são fortes. Vive então em nós não uma memória de história, mas uma memória de cosmos.”

(Gaston Bachelard. A poética do Devaneio/ tradução de Antônio de Pádua Danesi. SP: Martins Fontes, 1996, p.114)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

CRÔNICA RELÂMPAGO XXXVII

As mas importantes mudanças que ocorrem na vida de um individuo, ocorrem silenciosamente; desafiam o acontecer cotidiano. Só nos damos conta delas quando nada mais é possível fazer para mudá-las.
Tal peculiaridade deve-se ao fato de ocorrerem gradativa e eventualmente no correr dos dias, como um descreto ocorrer de sombra e acaso no mais fundo da espontaneidade dos atos elementares.
As mais importantes mudanças que sofremos não brilham no rubro acontecer do mundo em tempo presente; surgem sempre como passado, como fato consumado, que nos consome na surpresa de nos sabermos repentinamente outros...
O estranhamento e deslocamento do cotidiano no fazer-se dos ciclos, períodos e etapas do acontecer da vida, é aquilo que mais profundamente revela o dinamismo da condição humana entre pessoas e identidades coletivas...

SONHOS E REALIDADE

Há sonhos
Que duram mais
Do que a própria vida
Existindo
Através dos homens
No sem tempo da história.

Na liberdade de devaneios
Tudo coexiste e se faz
Nas direções infinitas
Do vento.

Luas e noites acontecem,
enquanto vestido de sono
me faço parte da paisagem
sob a sombra do velho carvalho.

SOBRE FADAS E FANTASIAS


Uma alada ninfa
Guarda a magia
De uma antiga fonte
Como uma estrela pequenina
Entre os segredos
Da terra e do céu.

As vezes,
A vejo no bosque
Buscando acasos
E ocasos
Entre as flores
E belezas nos olhos
Da madrugada.

Magias me correm
Em estados d’alma
E me guardo,
Aguardo,
No impreciso
De um sentimento de eternidade,
o ocorrer de humildes liberdades
no colo de terras e luas nuas.

domingo, 12 de outubro de 2008

DESAFIO BIOGRAFICO

Fixo noites em meus silêncios.
Sigo manhães que não me viram.

Assim defino
Os toscos frutos dos atos,
O provisório fazer-se
De meus eus futuros.

Não estou entre aqueles
Que sonham verões e auroras.

Sou feito de invernos,
Infernos, Luas e ventos
No desafio da liberdade
Que me conduz
Através e além
De mim mesmo
No infinito acontecer do mundo.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O MAL ESTAR DA LINGUAGEM E AS CONVENÇÕES DO REAL


“...pois hoje um número enorme de seres humanos já não domina a fala: exprimem-se por meio das frases dos jornais e das mídias, dizendo sempre a mesma coisa, sem contudo serem os mesmos.”


Elias Canetti- O Oficio do Poeta in A Consciência das Palavras


Na vida cotidiana a linguagem funciona tanto quanto um sistema de trocas simbólicas e comunicativas quanto um estranho meio de geração de equívocos e enganos. O uso rasteiro e pragmático que lhe damos em uma mesa de bar, na banalidade de uma ligação telefônica ou na conversa forçada durante uma viagem de elevador, são mais do que suficientes para atestar os concretos limites da utilização oral de uma língua.
É sustentável o argumento de que naquele estranho e impreciso amalgama de realidades que rotulamos de senso comum nos movemos em um campo de signos, símbolos e significados imprecisos ou inorgânicos no mais rudimentar “acriticismo” da fala e as discussões sobre a natureza e as possibilidades da linguagem não podem ser reduzidas a esse campo.
Tendo, ao contrário, a levar demasiadamente a sério o “senso comum” e seus profundos arcaísmos. No que diz respeito ao tema desta postagem, parece-me suficiente a constatação simples e falsamente obvia de que na vida cotidiana vivenciamos uma espécie de divorcio entre palavra e pensamento, o quanto a atividade da reflexão é excepcional ou na melhor das hipóteses circunstancial para o homem médio em seu cotidiano. Mas mesmo que não pare para pesar sobre isso, o fato é que para esse indivíduo médio o mundo é um pequeno conjunto de certezas verbais e referências fixas de realidade traduzidos e socializados pela fala. Em outras palavras, nada mais conservador do que o dinamismo elementar de nossas rotinas cotidianas. Indo um pouco mais adiante diria que a prisão do falar torna para muitas pessoas o mundo das letras escritas uma terra incógnita. Isso não deve causar grande surpresa se considerarmos que a construção e massificação de uma cultura do livro só foi possível no Ocidente ao longo dos últimos séculos e de modo muito descontínuo.A verdade é que a domesticação do livro e a experiência profunda da consciência através da palavra escrita parece não ser totalmente integrável a cultura e a vida cotidiana das sociedades modernas e contemporâneas.
Parece-me interessante como uma descompromissada mais significativa ilustração disso, uma referência de Georges Jean em seu manual intitulado “A Escrita: Memória dos Homens”:

“ Em fins do século XVI, quando a Contra Reforma e a Inquisição tomam a frente e perseguem as idéias novas, a Holanda protestante torna-se terra de exílio do livro, dos tipógrafos e dos impressores da Europa, onde o absolutismo real adapta-se mal à independência de espírito desses homens eruditos que, desde 1550, desprezando o latim, empenhavam-se em imprimir e difundir os clássicos gregos e latinos nas línguas nacionais.
A lembrança do martírio de Etienne Dolet está ainda viva na memória deles. Esse impressor lionês foi queimado em praça pública, em Paris, a 3 de agosto de 1546. Suas publicações de Rabelais, de Marot e, sobretudo, do Manuel du chevalier chrétien ( Manual do cavaleiro cristão) de Erasmo desencadearam a fúria dos inquisidores. A Holanda torna-se, então, o celeiro de uma literatura proscrita em qualquer outro lugar. Elzevir, não deixando passar ocasião oportuna, popularizou as edições de formato menor- as edições de bolso- anteriormente lançadas por Manuce em Veneza.
(...)
Provavelmente devido a irritação causada pelo sucesso do livro holandês, o Rei Sol é levado a prescrever a reforma da imprensa francesa, assim como já havia mandado construir o terrível Hôpital General ( O Hospício Geral), destinado a aprisionar os loucos, os pobres e os vagabundos.”


( George Jean. A Escrita: memória dos Homens. RJ: Objetiva, 2002, p. 101-102)
Em nosso mundo contemporâneo, cujas trocas simbólicas são cada vez mais imagéticas e a palavra escrita reduzida a “informação”, a experiência redentora da leitura, tão temida no séc. XVI, já não passa de um fenômeno pouco evidente ou então, simplesmente, muito pouco crível, constatação sobre o qual não cabe nenhum juízo de valor.
O que realmente me preocupa é que, mesmo hoje em dia, aquilo que se diz ou se escreve, em termos de vida cotidiana, ainda possui certa “força de verdade”, a ilusão de que todo discurso tende a espelhar algo de verdadeiro. Se um tablóide de grande circulação publicasse em sua primeira página, por mera travessura alguma noticia absurda sobre o fim do mundo, ou a aparição de um ET, dependendo do rigor de redação da reportagem, seria crível a maioria absoluta de seus leitores. De modo semelhante, acredita-se que a publicação de uma norma moral como decreto-lei do poder executivo de um governador ou presidente, é suficiente para transformar a realidade moral e concreta...
O equivoco gerado pelo uso da palavra em nosso dia a dia passa em grande medida pela tendência para se acreditar ingenuamente que aquilo sobre o que falamos corresponde de algum modo a realidade, quando não passa de convenções sociais arbitrárias ; muitas vezes vazias.

ETICA E REALIDADE

Há silêncios
Que são mais urgentes
Do que qualquer palavra .

Há fatos dos quais fugimos
Pelo medo ao erro
De um grito.

Como saber
O adequado gesto ou fala
Quando o relativo certo
Se faz por motivos
Inequívocos e errados?

Mas nenhuma moral
Vale mais
Que o instinto que aflora
No absurdo intimo
De um indivíduo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Especulações sobre uma ilha ( Avalon)...


Entre espaços e silêncios
Me deixo no mundo
Naufrago
Buscando uma ilha
De alma e coisas,
Um lugar sem nome,
Tempo e espaço,
Para guardar minha alma
E explorar meus sonhos,
Vivendo realidades de momento
Até o limite do adeus
Que me cala em imperfeita realidade
De finitude e êxtase .

LITERATURA INGLESA XXXVI


Critico e escritor britânico, Peter Ackroyd ( 1949- ...) é um dos mais notáveis autores contemporâneos da literatura inglesa. Dentre seus trabalhos merecem destaque O grande incêndio de Londres (1982), O último testamento de Oscar Wilde (1983) e Hawskmoor (1985), bem como suas biografias sobre Ezra Pound (1984), T.S. Eliot (1984) e Dickens (1990).
Pode-se dizer que a obra de Ackroyd, em seus melhores momentos, é um exemplo muito bem sucedido de meta-ficção, no sentido pós moderno do termo, isto é, uma apropriação/re-criação do passado onde arte e ciência se misturam de modo a produzir uma leitura da História sem as amarras e rigores dos protocolos da historiografia oficial mas nem por isso menos rigorosa.

Como observa LINDA HUTCHEON em seu clássico A Poetica da Pós Modernidade,

“ O romance nos lembra, conforme o faz Roland Barthes muito antes ( 1967), que é possível considerar que o século XX deu origem ao romance realista e à história narrativa, dois gêneros que tem em comum o desejo de selecionar, construir e proporcionar auto-suficiência e fechamento a um mundo narrativo que seria representacional, mas ainda distinto da experiência mutável e do processo histórico. Atualmente, a história e a ficção compartilham uma necessidade de contestar esses mesmos pressupostos.”
( Linda Hutcheon. Poetica do Poós Modenismo: História, Teoria, Ficção/ tradução de Ricardo Cruz.RJ Imago Editora, s/d, p.146)

Em outras palavras, a aproximação e diálogo, cada vez maior, em curso entre a narrativa historiografica e a narrativa literária, assenta-se sobre a premissa de que ambas adotam em diferentes contextos uma estrategia represencional da realidade e do mundo. Na medida em que ocorre uma redefinição dos sentidos e significados de aplicabilidade dos seus protocolos e estrategias narrativas transcende-se o dilema existente entre o verdadeiro ( cientifico) e o falso ( ficcional) através na nada simples constatação de que aquilo que conhecemos como processo ou realidade histórica é um universo mutável, plastico ou condicionado a uma pluralidade quase infinita de interpretações e infoques que, no final das contas, reduz-se a uma construção ou invenção de historiadores.

A partir de tal ponto de vista, fica mais fácil apreender em profundidade o TESTAMENTO DE OSCAR WILDE de Ockroyd, ficção historico/biográfica sobre os ultimos anos do dramaturgo e romancista irlandes em seu derradeiro exilio parisiense. Mesmo sabendo que se trata de uma reconstrução ficcional do ultimo ano de vida do celebre autor, não podemos ignorar o quanto sua narrativa nos permite uma cognição/apropriação biografica do autor e de sua obra que, embora não passe de uma leitura possivel, é incontestavelmente pertinente como “conhecimento” de Wilde.
Seria para mim impossivel falar sobre Ockroyd sem abordar tema tão relativamente polêmico. Mas concentrando-me no sabor de seu aqui citado romance, compartilho um pequeno e interessante fragmentodeste livro realmente singular:
“... Minha primeira obra realmente significativa foi O retrato de Dorian Gray, não se trata de um début, mas foi quase tão bom: um escândalo. Nem poderia ser de outra forma: eu queria esfregar os rostos de de minha geração em seu próprio século, ao mesmo tempo que queria criar um romance que disafiasse os cânones da ficção inglesa convencional. O livro poderia ter sido escrito em francês, pois tenho a impreção de que seu encanto está no fato de que é absolutamente desprovido de qualquer tidpo de sentido, assim como não se caracteriza por nehuma moral em voga. É um livro estranho, cheio de vivacidade e da estranha alegria com que foi escrito. Escrevi-o depressa e sem nenhumna preparação séria e, como resultado, minha personalidade inteira está em algum ponto dele: mas acho que não sei onde, exatamente. Existo em todas as personagens, embora não possa pretender compreender as forças que as impulsionam. A única coisa que percebi perfeitamente, enquanto ia escrevendo, foi a necessidade de que acabasse em desastre: eu não podia revelar um mundo daqueles sem assistir a seu colápso em meio a vergonha e ao desastre.
No inicio fiquei surpreso com a reação hostil provocada por Doriam Gray, e foi só depois de ter concluido essas primeiras obras que percebi o que havia feito: tinha efetivamente desafiado a sociedade convencional em todas as frentes possíveis. Tinha ridicularizado susas pretenções artisticas e escarnecido de seu moralismo social; mostrara os casebres dos pobres e as casas dos depravados, mas tambem mostrara que em seus próprios lares tambem se abrigavam a história e a presunção. É nessa época que situo minha derrocada- foi o momento em que as portas da prisão se abriram para mim e ficaram esperando que eu chegasse.”


(Peter Ackroyd. O tyestamento de Oscar Wilde/ tradução de Heloisa Juhn.RJ: Editora Globo, 1987, p.153 ).

REALIDADE E FABULAÇÃO

O imaginário contemporâneo pressupõe a fabulação como uma de suas mais autênticas expressões; não a fabulação no sentido de uma evasão da realidade convencional pura e simplesmente, mas como um verdadeiro questionamento da própria natureza da verdade como principio da consciência de todas as coisas, arbitrária premissa de nossas certezas cotidianas e experiência sensível da realidade.
A atração e fascínio exercido pelo “fantástico”, pelo “supra” ou “meta real” que povoa a tela do cinema, as páginas da literatura ou o universo mágico dos vídeos games, denunciam uma valorização irracional e constante de um outro principio de realidade, uma necessidade humana da experiência do símbolo como linguagem e referencial que extrapola o mundo formal de nosso dia a dia e, paradoxalmente, parece integrá-lo através de nossos padrões de consciência. Nesse sentido, não considero possível estabelecer com relação a fantasia um divorcio com o que convencionamos chamar de realidade. Penso, ao contrário, que a experiência da fantasia é fundamental para qualquer definição de realidade. Basta pensar, por exemplo, que entidades verbais como um determinado estado nação e uma empresa não passam de uma invenção, uma convenção imaginativa cuja “realidade” asseguramos na medida em que acreditamos nela e a fazemos concretamente acontecer ao obedecer uma serie de protocolos.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

OASIS E A TRANSMUTAÇÃO BRITÂNICA DO ROCK....


Faz poucos dias foi finalmente lançado na Europa e Estados Unidos, o tão esperado novo trabalho do Oasis DIG OUT YOUR SOUL... simbolicamente produzido no famoso estúdio Abbey Road, em Londres.
Necessário dizer que, embora até os dias de hoje, não muitos queridos, o Oásis foi e é, uma das maiores bandas de rock surgidas nos anos 90, depois de desbancarem ruidosamente os Stones Roses. Os “maus educados”, “drogados”, “encrenqueiros”, brigões verbais e físicos, ou “arrogantes” irmãos Gallangher, como rotulam seus detratores na imprensa e no mundo do rock; pelo talento e originalidade, em tempos de reinado quase absoluto do grunge norte americano, foram capazes de resgatar a vitalidade do rock britânico atestando sua capacidade singular de reinventar a si e a tradição . Liam e Noel, a partir da referência direta aos Beatles, ou pela imagem rebelde e irreverente META BEATLES, criaram através do movimento britpop, de uma franca e agressiva disputa com o Blur, a imagem fundamental e sacramental do rock contemporâneo.
Em poucas palavras, o que faz do Oásis uma banda singular é sua forte e indefinível personalidade, sua capacidade de, mesmo hoje em dia, transmitir o eco desconcertante do velho rock britânico dos anos 60 em uma perfeita síntese e atualização.
O Oásis combina, em outras palavras, a velha energia e atitude agressiva andergraund a sofistificação musical e lírica de uma grande banda de rock de nossos tempos!
A BANDA FOI E É UM OASIS NO DESERTO DO ROCK entre o caos e o momento de mercado e acasos dse ser em musica e identidade!!!!!!!!